Destaque no TIP Summit 2020, tecnologia desenvolvida pela catarinense CogniSigns emprega neurociência e inteligência artificial para tratar o Transtorno do Espectro Autista (TEA). / Foto: Divulgação CogniSigns
[FLORIANÓPOLIS, 13.02.2020]
Reportagem: Marcone Tavella, especial para o SC Inova
A CogniSigns, startup incubada no Miditec, da ACATE e Sebrae, venceu o TIP Summit 2020, programa de inovação tecnológica promovido pelo governo dos Emirados Árabes Unidos (EAU) no início de fevereiro. Voltado para descobrir, acelerar e investir em propostas de impacto global nos setores de Energia, Meio Ambiente e Health Tech, a iniciativa atraiu 4 mil inscritos e teve a etapa final disputada em Abu Dhabi. Com a conquista, a startup agora deve receber apoio para desenvolver a solução por um período no país árabe.
Investidor da CogniSigns, o diretor da Vertical Saúde, Walmoli Gerber foi o responsável por apresentar no evento a V.E.R.A. (Virtual Empathic Robot Assistant, ou “Assistente de robô empático virtual”), produto que emprega neurociência e inteligência artificial para auxiliar no diagnóstico e tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“Recebi o prêmio das mãos do ministro da Economia dos Emirados Árabes Unidos, que fez questão de elogiar a nossa proposta. É impressionante o que eles estão investindo em tecnologia e inovação e estamos felizes por colocar a incubadora MIDITEC, da Acate, Santa Catarina e o Brasil em um cenário de concorrência global”, comentou Walmoli.
Da inscrição até o Top 5 mundial na área da Saúde do TIP Summit, a startup de impacto social passou por uma série de etapas, envolvendo aplicação digital da ideia, entrevistas online e ao vivo. Para esta edição, somente 100 empresas foram convidadas para mostrar in loco o potencial de suas criações.
A V.E.R.A. foi idealizada há três anos pelo especialista em neurociência e tecnologia Leandro Mattos e a neuropsicóloga Andressa Roveda. “Uma pequena parcela de pais consegue suspeitar da presença de sinais do TEA em seus filhos (no Brasil, apenas 0,15%). Quando suspeitam e levam o paciente ao médico, ele segue um protocolo mundial para identificar sinais do autismo. O que fizemos foi transformar esse conhecimento de perguntas e respostas em um chatbot inteligente e amigável. Caso haja um sinal amarelo de que aquele paciente possa ser autista, a CogniSigns oferece a segunda etapa da solução. A criança assiste a um vídeo e, usando a própria câmera do computador, captamos os movimentos oculares dela”, explica o cofundador.
Os dois empreendedores vivem agora expectativa de levarem a CogniSigns para uma imersão no promissor ecossistema de tecnologia e inovação dos EAU – ainda sem previsão de acontecer. “É um desafio incrível, pois estudamos o programa e sabíamos que o TIP Summit é parte de um projeto maior daquele país, de criar seu próprio Sillicon Valley. Essa conquista vai ao encontro de nosso objetivo de internacionalização e dá nova dimensão ao nosso propósito de contribuir para otimizar e tornar cada vez mais precoce o diagnóstico para pessoas com autismo”, comenta o CEO da startup, Leandro Mattos.
Além do aporte do governo local, a empresa deve receber a garantia de hospedagem para seus representantes, além de um escritório para aprimorar a ideia em solo árabe, com foco em ganhar escala global. “O produto está pronto, já foi traduzido para o Inglês, mas nessa aceleração vamos poder melhorar a usabilidade, incrementar novos idiomas, aumentar a capacidade de fluxo de informação e, principalmente, ampliar a diversidade ao nosso banco de dados”, avalia Leandro.
As animações da V.E.R.A. foram feitas pela CogniSigns com desenhos do cartunista de Florianópolis Rodrigo Tramonte, diagnosticado aos 30 anos com Síndrome de Asperger, um tipo de TEA.
SOLUÇÃO PODE APOIAR BUSCA POR VIDA INCLUSIVA A CRIANÇAS AUTISTAS
Na visão dos empreendedores da CogniSigns, a V.E.R.A. é a ‘alegoria tecnológica’ da mãe que interpreta os sinais do filho e consegue saber o que ele está sentindo. “O sistema faz perguntas, faz um rastreamento óptico do comportamento da pessoa analisada e emite um alerta em caso de haver uma suspeita, casos em que entregamos um dossiê aos responsáveis para que busquem um especialista. Trata-se de uma espécie de scanner humano, uma ferramenta para empoderar o especialista em sua capacidade analítica de identificar esse transtorno e encaminhar o paciente para o tratamento adequado o mais breve possível”, explica Leandro.
“De zero a três anos, temos uma janela de oportunidade. Se descobrimos [o TEA] nesta faixa etária, aumentam as possibilidades de inclusão social e funcional”, explica a neuropsicóloga Andressa Roveda.
De acordo com Andressa, é de extrema importância para o desenvolvimento da pessoa que nasça com TEA que o diagnóstico seja feito até os 3 anos, quando ocorre a chamada poda neural. “De zero a três anos, temos uma janela de oportunidade. Se descobrimos nesta faixa etária, aumentam as possibilidades de inclusão social e funcional, colaborando para o desenvolvimento da criança “, explicou Andressa.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que 70 milhões de pessoas no mundo tem autismo. No Brasil, a estatística é de 2 milhões e, desses, apenas 3 mil são assistidos.
STARTUP FOI DESTAQUE EM QUATRO PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO EM 2019
A ideia por trás da CogniSigns surgiu despretensiosamente, como um projeto social para auxiliar no diagnóstico do autismo. “No início, éramos um laboratório de neurociência aplicada e voltado para a área empresarial. Certo dia, minha sócia Andressa sugeriu que aplicássemos a tecnologia que já dominávamos, para ajudar pessoas com TEA”, lembra o cofundador.
Empenhados em trabalhar na digitalização e democratização de um sistema que pudesse democratizar a triagem do TEA, os dois sócios se inscreveram no Miditec, onde a ideia de cunho solidário passou a se desenvolver como projeto de impacto social. A nova startup tornou-se CogniSigns, atraiu o investimento anjo de Gerber (fundador da Brasil RAD) e vem colecionando prêmios desde o ano passado.
– Artemisia Lab Saúde (em parceria com a Associação Samaritano) – uma das 20 finalistas, premiada com R$ 20 mil;
– InovAtiva Brasil (Governo Federal, Sebrae, com execução da Fundação CERTI) – uma entre os 20 destaques de 2019;
– Brazil Accelerate 2030 (ONU e Impact Hub) – Uma entre as 35 finalistas;
– StartOut Brasil (Governo Federal) – Vencedora, cumpriu missão em Xangai no mês de dezembro;
“O Miditec deu todo aparato para tornar esse projeto escalável e ter participado desses outros programas nos colocou em contato com donos de hospitais, de convênios, empresários, investidores e uma série de pessoas que contribuíram para aprimorar a ideia”, disse Mattos.
O futuro, de fato, é promissor para a CogniSigns. O período de incubação no Miditec encerra em novembro deste ano e, segundo os empreendedores, além da oportunidade nos Emirados Árabes, há propostas para levarem o negócio para São Paulo.
“O que podemos adiantar é que iremos permanecer no Brasil e em Santa Catarina, mantendo contato com esse ambiente de tecnologia e inovação”, antecipa o CEO.
LEIA TAMBÉM:
Como as healthtechs catarinenses se unem para gerar inovação e negócios em um mercado de gigantes
SIGA NOSSAS REDES