Informações de Inteligência Competitiva e de Mercado ajudam na escolha do portfólio e maximizam o retorno do investimento na fase de suporte às startups. Além disso, ajudam a reduzir vieses naturais na definição do portfólio. / Foto: Austin Distel (Unsplash)
[FLORIANÓPOLIS, 20.11.2023]
Por Giancarlo Proença, diretor executivo da Link Estratégia, CI Director da Software Pricing Partners e LATAM Regional Manager do Bennion Group. Escreve mensalmente sobre Inteligência Competitiva no SC Inova.
Com menos dinheiro disponível, encontrar a startup certa para investir passou a ser ainda mais importante para anjos, seeds, PEs (private equities) e VCs (venture capital). No primeiro trimestre de 2023, a redução nos aportes em startups foi de 86% em comparação com o mesmo período do ano passado. A oscilação se estendeu a toda a América Latina, com uma queda de 87% no período.
Com menores volumes, investidores precisam ser mais certeiros nas suas apostas. E para isso, informação é essencial. Um artigo publicado na Harvard Business Review apontou que cerca de 30% dos investimentos se originam de contatos dos investidores com startups, e não o oposto (de startups buscando o investidor).
Nesse artigo, Rick Heitzmann, sócio da VC americana FirstMark, diz que a firma pesquisa e identifica megatendências e busca os empreendedores que entendem o caminho que o mundo está tomando. Ou seja, eles se amparam em análise de tendências, como um estudo de Inteligência Competitiva e de Mercado (IC&M), para definir parte de seu portfólio.
FUNDADORES COM PERFIS DIFERENTES
Além disso, usar informação de IC&M ajuda a reduzir o viés natural dos ecossistemas na seleção de startups para aportar recursos. Normalmente as investidas fazem parte da mesma rede de contatos dos gestores de fundos de investimento: eles estudaram juntos, frequentam os mesmos lugares, têm amigos em comum.
Fundadores que representam minorias reclamam dessa tendência de os ecossistemas girarem em torno de si mesmos. Cerca de 20% das startups brasileiras foram fundadas por mulheres, mas elas conquistaram apenas 3% dos recursos de venture capital, de acordo com levantamento feito pela Abstartups em 2022. Um estudo da BlackRocks de 2021 aponta que 32% de fundadores negros ou pardos tiveram acesso a capital para apoiar suas empresas, contra 41% de startups de não negros.
Iniciativas como o Black Founders Fund (do Google) ou Mulheres Investidoras Anjo buscam reduzir essas diferenças, mas uma abordagem baseada em informações e tendências de mercado por parte dos investidores tradicionais pode contribuir bastante.
MAS DE QUE INFORMAÇÕES ESTAMOS FALANDO?
O mais comum é que firmas de investimento usem algumas informações de Inteligência Competitiva e de Mercado no processo de due dilligence, quando uma empresa já passou das primeiras fases de seleção. No artigo publicado pela HBR e citado anteriormente, os gestores de VC apontaram que os investimentos são decididos num processo que leva cerca de três meses e que eles gastam quase 120 horas em due dilligence no período.
O artigo não traz esse dado, mas normalmente a coleta de informações se concentra no ambiente interno da startup investida. Alguns investidores até olham para o ambiente competitivo em que a empresa está inserida, mas sem se aprofundar nos modelos de negócio de concorrentes, sua monetização, tecnologia, gaps de funcionalidade. É justamente esse o tipo de suporte que a IC&M pode dar aos investidores.
ANTES E DEPOIS DO CHEQUE
Há dois momentos em que a IC&M pode ajudar investidores: antes e depois da seleção das investidas. Estudos de tendências que apontem os cenários mais prováveis de médio e longo prazo podem ser realizados antes de selecionar as startups mais promissoras e alinhadas com o perfil de investimento. Isso vai orientar analistas sobre que soluções serão mais aderentes a demandas futuras.
Ainda antes de fazer o cheque, os investidores podem acrescentar ao processo de due dilligence uma compreensão do ambiente competitivo da startup, comparando-a com seus concorrentes diretos e indiretos e avaliando seu potencial para vencer barreiras competitivas.
Esse tipo de estudo já vale para o segundo momento da relação entre investidor e startup, de suporte para maximizar as chances de sucesso da empresa. Os estudos de Inteligência realizados na fase pré-investimento servem de suporte para traçar estratégias de monetização, definir um roadmap que resolva gaps de funcionalidade, alinhar a startup aos drivers de crescimento do mercado. Informações de IC&M sobre competidores também podem ser compartilhadas com a força de vendas em battle cards que explorem os pontos fortes do produto/serviço e exponham as fraquezas da concorrência.
Essa alocação de recursos de IC&M na seleção e no sucesso das startups investidas pode ajudar as empresas a obterem melhores resultados financeiros. O que certamente se traduz em melhores condições para o investidor no momento do exit.
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