Com crescimento e articulação de fintechs, SC vira referência em inovação para o mercado financeiro

Voce está em :Home-ACATE, Inovadores-Com crescimento e articulação de fintechs, SC vira referência em inovação para o mercado financeiro

Com crescimento e articulação de fintechs, SC vira referência em inovação para o mercado financeiro

Criada há pouco mais de dois anos, Vertical Fintech tem gerado conexão e oportunidades de negócio entre startups do setor em Santa Catarina e grandes corporações do país.

Criada há pouco mais de dois anos, Vertical Fintech tem gerado conexão e oportunidades de negócio entre startups do setor em Santa Catarina e grandes corporações do país.

 

Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br

As fintechs, empresas que inovam com soluções para o mercado financeiro, são algumas das protagonistas do cenário de startups do Brasil. Algumas delas – como o Nubank (banco digital) e a Stone (máquinas de pagamento) – formam a primeira leva de “unicórnios” do país, startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. E os próximos bilionários podem vir justamente deste segmento, na visão de especialistas no mercado.

O segmento de fintechs também é o que mais recebe investimentos em capital de risco no país. Segundo levantamento feito pela Escola do Financeiro com dados da plataforma Crunchbase, foram realizados 151 aportes nos últimos três anos (no mercado catarinense, destaque para os R$ 100 milhões captados pela joinvilense ContaAzul). Outra pesquisa, publicada pelo programa boostLab, calcula um volume total de investimentos de R$ 1,5 bilhão nas fintechs brasileiras em 2018.

O potencial deste mercado – e a demanda por inovação proporcionada por bancos e outras instituições financeiras – motivou a criação de um grupo de empresas do setor em Santa Catarina no final de 2016, a Vertical Fintech, organizada pela Associação Catarinense de Tecnologia (Acate). 

Quem identificou o potencial catarinense para unir tecnologia ao setor financeiro – e impulsionou a criação da Vertical Fintech – foi nada menos que a maior câmara de ativos privados do país, a Cetip, que pouco tempo depois se fundiu à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e deu origem à B3, uma das principais empresas de infraestrutura de mercado financeiro no mundo, com atuação em ambiente de bolsa e de balcão. Hoje a Vertical conta com cerca de 30 participantes ativas, das quais 20 são startups e outras 10 são empresas com mais tempo de mercado.

“Quando nós mapeamos o Brasil, há uns três anos, para identificar os principais hubs de inovação, chegamos a duas conclusões: São Paulo e Florianópolis eram, sem dúvida, os centros mais maduros. E percebemos que em Santa Catarina havia empresas bem estruturadas e profissionais qualificados. O potencial de sucesso, em função disso, era muito maior do que em outras regiões”, explica Rodrigo Pereira, Head de Inovação e Novos Negócios na B3 e diretor da Vertical Fintech.

Em pouco mais de dois anos, o número de startups neste nicho mais que dobrou, passando de cerca de 200 para mais de 500 novos negócios. Nestes primeiros anos de atuação, o foco do grupo foi estruturar a governança da Vertical e definir os pilares estratégicos para atuação. “Temos basicamente quatro frentes: governança para gerarmos valor para o mercado financeiro, atenção à regulamentação e tendências como pagamento instantâneo e criptoativos, desenvolvimento de eventos de conteúdo e networking, além de cursos e mentorias, unindo cases locais e grandes corporações”, detalha.

Em paralelo, a Vertical começa a estruturar uma pesquisa, com apoio da ABStartups e Associação Brasileira de Fintechs, para identificar todas as novas empresas do setor que atuam no sul do Brasil e conectá-las com o resto do país. “É percebido que a empresas avançam muito rápido neste mercado e grande parte dos participantes da Vertical dobra o faturamento ano a ano”, ressalta Rodrigo.

 

NOVAS PLATAFORMAS E MODELOS DE NEGÓCIO

Annalisa Blando Dal Zotto, fundadora da Par Mais: consultoria em investimentos que se tornou uma fintech e escalou serviços. / Foto: Divulgação Par Mais

No segmento de fintechs, as inovações não geram benefícios apenas para instituições de grande porte. Avanços nos meios de pagamento e em investimentos pessoais trazem para o jogo novas plataformas de serviço e mudam modelos de negócio convencionais. É o caso da Par Mais, uma consultoria em finanças pessoais e corporativas que se tornou uma fintech. “Nós tínhamos uma metodologia muito eficiente e queríamos escalar, mas não sabíamos como fazer. Agregamos novos sócios na área de marketing, comercial e tecnologia e desenvolvemos um sistema próprio de alocação de carteira de investimentos. É personalizada mas parametrizável, e fornece mais de 300 estratégias possíveis de acordo com o perfil do investidor”, detalha a fundadora Annalisa Blando Dal Zotto, que participa da Vertical Fintech desde a criação do grupo.

Em 2018, a empresa recebeu um aporte de R$ 6 milhões do Grupo Valorem, que também atua no mercado financeiro, para desenvolvimento de soluções – e se prepara para uma nova rodada de investimentos nos próximos anos. Com uma equipe de 52 pessoas, a Par Mais registrou um aumento de 230% no número de clientes no ano passado. “A Vertical abriu muitas portas, especialmente para conhecermos fundos interessados. Tem esse propósito de colaboração mas também de fazer negócios – e o mercado está muito aquecido para fintechs”, opina Annalisa.

Outra participante da Vertical que tem crescido de maneira acelerada nos últimos anos é a PagueVeloz, de Blumenau, fundada em 2013 e que desenvolve tecnologia para intermediar pagamentos e recebimentos via cartão de crédito e boletos bancários. Em 2018, a startup cresceu 300% e chegou à marca de 16 mil clientes utilizando a plataforma, por onde foram transacionados mais de R$ 3 bilhões em pagamentos.

Nilton Spengler Neto, diretor da PagueVeloz: mercado de SP é fundamental para negócios, mas foi o conjunto de iniciativas em SC que ajudou o desenvolvimento da startup. / Foto: Divulgação PagueVeloz

A PagueVeloz é um exemplo da conexão dos dois polos de inovação em finanças do país. Dois terços da equipe não estão na sede catarinense, mas em São Paulo, que concentra 34 colaboradores – em Blumenau trabalham 16 pessoas. “É onde temos grande parte de nossos clientes”, comenta Nilton Spengler Neto, cofundador e diretor de Negócios. Mas se o dinheiro está na capital financeira do país, foram os programas de desenvolvimento de negócios e conexões de Santa Catarina que serviram como suporte para o crescimento. “O conjunto catarinense faz a diferença: participamos da Vertical, fomos acelerados no programa Darwin Startups, também fomos selecionados para o StartupSC e o Scale-up Endeavor“, enumera Neto.

Mesmo com os 160km de distância entre Blumenau e Florianópolis, os sócios se dividem para acompanhar as reuniões e agendas da Vertical Fintech. “É muito importante pelo relacionamento e também como um hub de inovação e conhecimento. É um fórum onde compartilhamos informações com um público bem distinto, inclusive já apresentamos nossa empresa e trocamos ideias para desenvolver negócios. Somos ouvintes e interlocutores”, resume.

Esta conexão entre grandes corporações e novas empresas do setor financeiro pode aquecer também o mercado de fusões e aquisições (M&A) em Santa Catarina, opina Annalisa, da Par Mais: “os negócios entre empresas de vários setores vão ser impactados por conta desse polo de inovação que temos aqui. Nós éramos uma empresa de consultoria mas só vimos que poderíamos nos tornar uma fintech por estarmos em Florianópolis. Isso gera valor para o mercado e acredito que vai impulsionar muito a compra e venda de empresas e também a entrada de outras com oferta de ações na Bolsa (IPO)”.

Na visão de Rodrigo, da B3 e da Vertical, o caminho é apoiar empreendedores a acessar o mercado de capitais, o que poderia ampliar significativamente o valor de mercado das empresas e o potencial da economia local. “É claro que São Paulo vai continuar concentrando grande parte dos negócios, mas acreditamos muito no potencial catarinense, principalmente em termos proporcionais. Apoiando o crescimento das fintechs, vejo que o caminho natural é vermos cada vez mais empresas locais fazendo seus IPOs no futuro”, resume.

 

Conteúdo produzido para