Novos indicadores: como mensurar o impacto socioeconômico e ambiental das organizações

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Novos indicadores: como mensurar o impacto socioeconômico e ambiental das organizações

“Estamos evoluindo de forma que as empresas buscam mais do que olhar apenas seu retorno financeiro – elas vêm ou querem vir conectadas a uma missão”

“Estamos evoluindo de forma que as empresas buscam mais do que olhar apenas seu retorno financeiro – elas vêm ou querem vir conectadas a uma missão” – Relatório de Impacto Impact Hub 2018

 

Por Ana Hoffmann*

Desde a fundação do Impact Hub Floripa, em 2015, nos propomos a mensurar o impacto socioeconômico e ambiental que causamos na nossa rede, assim como o impacto que é gerado organicamente por e entre nossos membros. Assim, anualmente, além dos nossos dados internos, disponibilizamos um questionário para nossos membros nos auxiliarem nessa análise.

Sabemos que dados são importantes e que devem ser usados como um guia para qualquer negócio ou organização. Esse olhar mais analítico traz maior assertividade para as ações e projetos que queremos executar e, assim, há maior clareza onde queremos chegar – sabendo também o quando e o como dessa questão.

Nessa pegada, o nosso vizinho de parede, Bruno Evangelista, lidera o movimento Data For Good do Social Good Brasil. Ele tem uma visão sistêmica sobre os dados, desde seu bom uso estratégico até operacionalmente:

“Em um mundo onde dados permeiam sempre mais as relações entre indivíduos, empresas, gestores públicos e organizações de impacto socioambiental, esses agentes têm que mudar progressivamente sua postura ao gerá-los e consumi-los. O primeiro passo para organizações de impacto é entender qual será a transformação gerada a longo prazo e quais decisões são necessárias para chegar lá, que é o nível estratégico. O segundo é evoluir em maturidade analítica, ou seja, ter clareza de quais dados são necessários para tomar essas decisões, o nível operacional. Só assim será possível navegar na complexidade do futuro analítico que se aproxima.”

Evolução do quadro de membros do Impact Hub Floripa e participação de público em eventos e visitas. / Fonte: Relatório de Impacto Impact Hub 2018

E esse futuro analítico já é parte da nossa vida. Conseguimos quantificar de maneira fácil muitos momentos, situações e até emoções. Que os digam os likes dos posts, contadores de passos, controladores do sono, e seja lá o que você usar no seu smartphone ou smartwatch.

Ocorre que, junto com essa consciência do quantificável, estamos evoluindo de forma que as empresas buscam mais do que olhar apenas seu retorno financeiro – elas vêm ou querem vir conectadas a uma missão e os questionamentos começam por tentar buscar as respostas para perguntas como:

  • Qual a mudança que queremos causar no mundo?
  • Qual é o impacto que queremos ter?

Não é por acaso que esses questionamentos são feitos: eles estão conectados com o atual movimento humano. A Gabriela Gandel é a Diretora Executiva do Impact Hub Global e fala de maneira muito lúcida sobre o comportamento humano social e ambiental:

“Como a história nos mostra, os humanos são bem-sucedidos em colaboração em grande escala quando realmente é necessário. E estamos passando agora por um desses momentos. Nosso mundo está sendo chamado para enfrentar questões sociais e ambientais urgentes enquanto enfrenta uma ruptura significativa na governança e nas economias, levando a uma oportunidade para a mudança sistêmica. O Impact Hub acredita que o único caminho é unir forças para construir um futuro onde os negócios e os lucros estejam à serviço das pessoas e do planeta, por isso criamos a maior plataforma de aceleração e colaboração do mundo para mudanças positivas: a rede do Impact Hub.”

 

Dados por gênero e faixa etária (em percentual) dos membros do Impact Hub Floripa. / Fonte: Relatório de Impacto Impact Hub 2018


Porém, para responder a esses questionamentos e ir de acordo com esse movimento, é preciso levar em conta novos indicadores e um novo olhar sobre os dados. E é isso que nos propomos ao tentar mensurar algo tão complexo quanto o nosso impacto socioambiental e da nossa comunidade.

Nossa mensuradora de impacto da rede, a Sarah Stamatiou Nichols, sempre nos diz o seguinte:  

“Impacto significa entender por que você faz o que faz, quais são seus serviços ou produtos em relação a essa missão, como a forma como você os entrega é única e como suas atividades impactam positivamente ou negativamente o mundo ao seu redor. Comparado aos retornos financeiros, o impacto social e ambiental que suas atividades criam é heterogêneo e sua medição pode ser desafiadora. Ao tornar o impacto parte de seus principais resultados, você pode aprender como as operações e o modelo de negócios de sua empresa impactam positiva e negativamente seus stakeholders e o meio ambiente, e depois tomar medidas para melhorar os resultados para seus clientes, funcionários, comunidades e o planeta”.

Mas esse trabalho, se não embasado em uma boa metodologia e em processos claros e definidos, pode virar uma grande bagunça. Por isso, nós e diversas organizações, criamos as nossas próprias Teorias da Mudança, que são “essencialmente uma descrição abrangente e ilustrativa de como e por que uma mudança desejada deve acontecer em um contexto particular. Ela são focadas em mapear ou “preencher” a lacuna entre o que um programa ou iniciativa de mudança faz (suas atividades, intervenções) e como isso determina que os objetivos desejados sejam alcançados” (TheoryofChange.org).

No nosso Relatório de Impacto 2018 você vai identificar mais detalhadamente os 7 elementos (impactos) da nossa Teoria da Mudança, bem como quais dos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da ONU estão conectados às atividades dos nossos membros.

Em nosso processo, após definirmos os 7 elementos e em quais ODSs iríamos focar, estipulamos quais as metas e indicadores que eram relevantes para sabermos se estamos “chegando lá” ou não. Mas é importante ressaltar que os dados que queremos obter devem estar atrelados ao coração do nosso negócio e visando o que queremos alcançar – por isso, o que é relevante para nós pode não ser relevante para as outras organizações ao nosso redor.

Sabemos que estamos atingindo nossas metas quando nos deparamos com dados como:

  • 50,6% dos nossos membros acreditam que impacto é tão ou mais importante que o retorno financeiro para o seu negócio – nos fazendo acreditar que temos uma comunidade que vibra e quer as mesmas coisas que nós.
  • 84,3% dos membros acreditam que o Impact Hub foi importante para o ganho de credibilidade e visibilidade para seus negócios;
  • 81,3% dos respondentes afirmaram que fizeram parcerias e colaboraram com outros membros;
  • 2h por mês é o tempo médio que cada membro dá ou recebe de mentoria ou feedback de outro membro;
  • 89,2% dos membros aumentaram a sua motivação pessoal e se sentem mais felizes apenas por trabalhar em um de nossos espaços e fazerem parte da rede.

Todos esses dados e muitos outros estão no nosso Relatório de Impacto de 2018, que busca compilar as pesquisas e informações retiradas de nossas ações e da nossa comunidade. Porque apenas medir não basta: é preciso comunicar os resultados e incentivar mais organizações a fazerem o mesmo.

Confira o relatório em primeira mão e na íntegra aqui.

* Ana Hoffmann é coordenadora de comunicação do Impact Hub Floripa.