Localizado em Matosinhos, na região metropolitana do Porto, o Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produtos cria desde 1999 soluções inovadoras com foco nas indústrias da mobilidade, a partir de uma perspectiva de “sustentabilidade por design”. / Foto: Divulgação (CEiiA)
[01.03.2022]
Por Marcus Rocha, empreendedor e colunista SC Inova.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação
Já faz algum tempo que Portugal tem tido destaque quando o assunto é Inovação, não apenas por causa do Web Summit, realizado em Lisboa há alguns anos, mas por várias outras ações muito interessantes desenvolvidas por diferentes atores dos ecossistemas de lá. No entanto, ainda se conhece pouco aqui no Brasil sobre os centros de inovação Portugueses.
Com certeza vale a pena conhecer melhor o CEiiA, Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produtos, que cria soluções inovadoras com foco principal nas indústrias da mobilidade, sempre a partir de uma perspectiva de “sustentabilidade por design”. Fundado em 1999, inicialmente tinha foco no aumento da competitividade da indústria automobilística de Portugal, mas com o passar do tempo passou a trabalhar também em áreas como aeronáutica, mobilidade urbana, oceanos e espaço.
A sede do CEiiA fica em Matosinhos, na região metropolitana do Porto. A arquitetura principal do prédio chama a atenção, mas o mais interessante é o que acontece nas demais instalações e os próprios projetos desenvolvidos lá.
O CEiiA possui parcerias com organizações e iniciativas internacionais importantes, com destaque para os trabalhos realizados junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Além de fazer parte do Pacto Global da ONU, também foi indicado como representante na área de mobilidade sustentável no Breakthrough Innovation Platform da ONU.
Outra iniciativa da ONU da qual o CEiiA é fundador e membro ativo é o Sustainable Ocean Business Action Platform, que visa trabalhar em prol da sustentabilidade dos oceanos por meio da identificação de oportunidades para o desenvolvimento de inovações associadas à aquicultura, transporte marítimo, biodiversidade, etc.
O CEiiA também tem parceria ou faz parte de iniciativas como a Aliança Internacional para Descarbonização dos Transportes (TDA), a Associação de Estabelecimentos Europeus de Pesquisa Aeronáutica (EREA), o Fórum Internacional para Pesquisas em Aviação (IFAR), o Grupo de Inovação para a Interoperabilidade de Tecnologias da Informação e da Comunicação (eMI3) e o Fórum Internacional para a Conduta Ética nos Negócios (IFBEC). Desde 2015 o CEiiA também possui um programa de parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT), para receber estudantes que passam a realizar estágios em diferentes projetos de inovação.
Se as credenciais do CEiiA são interessantes, os projetos desenvolvidos pelo centro de inovação também vão na mesma direção. Foram vários os projetos para parceiros/clientes como Pininfarina, McLaren e Uber, entre outras marcas relevantes. Durante a pandemia do Covid-19 o CEiiA não se limitou a trabalhar nas suas áreas usuais. Como é uma Instituição de Ciência, Tecnologia e Inovação, a partir da escassez mundial de ventiladores pulmonares, engenheiros do CEiiA e da Escola de Medicina da Universidade do Minho rapidamente desenvolveram o ventilador Atena, o primeiro ventilador pulmonar português.
CONEXÃO COM PROJETOS BRASILEIROS
Para nós brasileiros, chama a atenção a participação do CEiiA no desenvolvimento do programa KC-390 da Embraer, como o design de da maior parte da fuselagem central e do trem de pouso, análise de estresse, redução de peso, suporte à fabricação, produção da documentação de certificação e de voo, e a definição e execução de testes.
O CEiiA também já desenvolveu outros projetos interessantes aqui no Brasil: a implantação de solução para carregamento de veículos elétricos para CPFL e Renault; a criação de um laboratório para mobilidade inteligente em Itaipu; e os projetos “eco-elétrico” em Curitiba e “ecomóvel” em Brasília.
Outra iniciativa muito promissora do CEiiA e que já está no Brasil é a plataforma AYR. Essa tecnologia inovadora surgiu a partir do desenvolvimento da plataforma Mobi.me, envolvendo tanto os módulos para a gestão e operação de modais compartilhados (bicicletas, patinetes, carros elétricos etc.), quanto os módulos para a integração de dados de diferentes fontes para o suporte à gestão dos órgãos públicos responsáveis pela mobilidade urbana. Ao executar também a tecnologia UberGreen (para a Uber), os técnicos do CEiiA começaram a calcular a economia de emissões de gases causadores do efeito estufa – principalmente o CO2.
Ao unir tudo isso a um blockchain, o CEiiA criou o AYR, uma plataforma que recompensa pessoas e comunidades pelos seus comportamentos sustentáveis, permitindo a criação de mercados voluntários de carbono em nível local. As recompensas são calculadas a partir do uso de modais de transporte sustentáveis (bicicleta, patinete, etc.), e são concedidas às pessoas na forma de tokens de uma criptomoeda sustentável chamada de AYR. Ao mesmo tempo, estabelecimentos do comércio local são credenciados para receber o AYRs como forma de pagamento.
Presente em cidades como Nova Iorque e Copenhague, a plataforma AYR já recebeu prêmios importantes nos últimos anos. O Google.org Impact Challenge on Climate reconheceu o potencial mundial dessa inovação, e estabeleceu uma parceria relevante com a Google; e o New European Bauhaus, o mais importante prêmio da Europa para a sustentabilidade.
O AYR chegou no Brasil a partir de Santa Catarina. Em uma iniciativa pioneira na América Latina, a cidade de Itajaí/SC lançou um projeto utilizando a plataforma AYR, chamada de MovItajaí, cujos aplicativos estão disponíveis para download na App Store e na Google Play Store. Cada AYR gerado por meio do uso dos aplicativos vale atualmente cerca de R$ 0,15 (quinze centavos de real), mas de acordo com a popularização da plataforma e dos tokens não apenas em Itajaí, mas também em outras cidades do Brasil e do Mundo, é possível que haja valorização.
É possível que, nos próximos anos, o CEiiA tenha cada vez mais presença no Brasil, seja pelo AYR, ou por outros projetos nas áreas em que atua. Como o desenvolvimento de inovação depende fundamentalmente do estabelecimento de redes e de parcerias, essa pode ser uma oportunidade importante para os atores dos ecossistemas de inovação daqui.
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