Após fazer carreira na área de capital de risco, Rodrigo Ventura entendeu que era preciso desenvolver uma “jornada de formação” para que negócios inovadores não morressem por falta de caixa.
Startups começam como sonhos de empreendedores determinados a resolver problemas do mercado de maneira que possam crescer em escala. Mas em muitos casos estes sonhos acabam desfeitos por um “detalhe”: falta de dinheiro ou projeções financeiras equivocadas.
“Há muitos anos eu já tinha percebido que a área de finanças não era o forte de quem empreendia”, conta o engenheiro de produção Rodrigo Ventura de Oliveira, que acabou fazendo carreira na área de capital de risco e consultoria para startups.
Após oito anos como sócio da gestora de venture capital Bzplan, onde ajudou diversas startups investidas (como a Cata Company, Axado e mobLee, por exemplo), Rodrigo viu que era a sua vez de ir ao mercado como empreendedor e criou, há poucos meses, a Escola do Financeiro, um projeto que ele define como “uma jornada de formação para que profissionais na área de finanças se tornem protagonistas estratégicos de seus negócios”.
Esta jornada em questão envolve desde cursos a workshops e gestão de grupos colaborativos entre empreendedores para troca de experiências e boas práticas. O foco são startups e profissionais da área de finanças de empresas micro e pequeno porte, “com faturamento médio até R$ 1 milhão/mês e cerca de 100 funcionários, a partir disso a empresa já tem condições de contratar um executivo de finanças”, explica. Nos primeiros meses, já organizou seis eventos de capacitação para mais de 100 participantes e agora lançou cursos on-line e presenciais.
Este modelo acabou sendo definido ao longo do caminho como neo-empreendedor: “pensei inicialmente em desenvolver um software para isso, mas logo encontrei um concorrente que fazia exatamente o que eu estava imaginando – e eu não entendia de softwares. Depois eu percebi que poderia fazer – e já fazia – algo diferenciado, que era capacitar empreendedores de forma apaixonada sobre finanças“.
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A trajetória no apoio a empresas nascentes vem desde a primeira geração de startups de Florianópolis. Desde 2013 ele atua como mentor da recém-chegada Endeavor em Santa Catarina, além de ser instrutor do programa Startup SC, do Sebrae/SC, desde a primeira edição. Naquele ano, começou a dar cursos sobre projeção financeiras e valor de mercado (valuation) em um dos coworkings pioneiros da cidade, o Vilaj. “Esse histórico acabou me guiando, mesmo sem saber direito o que eu iria fazer depois que saí do mercado de venture capital. Meu foco seria capacitação em finanças”.
Muitas startups – e só pela Bzplan ele avaliou e conversou com algumas centenas – se agarram a “paradigmas bobos”, diz: “já ouvi muito empreendedor dizer que startup não precisa de projeção financeira e de análise de demonstrações contábeis. Só que se não entender o ciclo financeiro o risco mais óbvio é faltar dinheiro”. O modelo de negócio mais comum entre startups, o de vender software como serviço (SaaS), implica outros cuidados, ele ressalta: “é uma maravilha saber que o dinheiro do cliente vai cair de forma recorrente, mas ele tem que ter um controle forte, manter as rédeas bem curtas e saber quanto tempo em média ele retém esse cliente e entender o custo de aquisição (CAC)”.
O desafio principal é ajudar empresas a criar planos de execução factíveis, comenta Rodrigo: “já vi startups com ótimos produtos e modelos mas que a projeção financeira não parava em pé, o empreendedor não sabia até onde ele podia chegar naquele modelo de negócio. Tive cliente que faturava bem, tipo R$ 600 mil por mês, mas que me confessou ter ficado com uma ‘ressaca moral’ por nunca ter feito antes a projeção da área financeira”.
Outro risco comum nesta área acontece quando as startups vão bem, aumentam receita e estão capitalizadas. “Como não está faltando dinheiro nem clientes, parece que o assunto não é urgente. Por isso, decidi intensificar meus esforços nesse sentido”.
ONDE ESTÁ O “GAP” DA FORMAÇÃO FINANCEIRA
Programas com esse propósito de educar profissionais, como pretende a Escola do Financeiro, não faltam. Mas Rodrigo entende que encontrou um caminho de diferenciação: “há muitas plataformas generalistas, cursos online, softwares de mercado, mas tudo jogado. Faltava uma conexão, uma jornada de formação. As graduações são muito generalistas enquanto pós-graduações têm foco especialista, com muita teoria. Tem um vácuo aí para o microempreendedor que quer aprender o básico”.
A ideia então foi expandir os conteúdos para outros perfis profissionais, como advogados, designers, desenvolvedores, entre outros, que querem empreender mas que não vão investir em MBAs: “Os cursos são formas didáticas, com conceito, visão geral e desafio principal. Mas é preciso também desenvolver na prática, colocar a mão na massa e depois compartilhar com outros empreendedores”.
“No futuro”, resume, “a ideia é ter uma jornada de formação com todos esses caminhos, criar um playbook da área de gestão financeira”.
Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br
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