A visão é de Jefferson Gomes, diretor regional do Senai/SC, que enfatizou a importância de testar novos modelos unindo setor público, privado e academia – como propõe o Pacto pela Inovação. Fotos: James Tavares/SECOM SC
Há cerca de um ano, o governo de Santa Catarina, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS) lançava uma iniciativa para integrar a chamada tríplice hélice (entidades públicas, academia e mercado) em um projeto comum para desenvolver a Nova Economia e o empreendedorismo no estado: o Pacto pela Inovação.
Ancorado na construção de uma série de Centros de Inovação em cidades polos do estado, o Pacto atraiu, na largada, cerca de 30 entidades que se comprometeram com projetos individuais alinhados ao propósito de desenvolver a inovação em Santa Catarina. Porém, a principal vitrine pública desta iniciativa – as obras dos centros de inovação – caminha a passos lentos: o primeiro dos 13 empreendimentos, em Lages, foi inaugurado em 2016 e o segundo, em Jaraguá do Sul, no início deste ano.
“Fazer um prédio de 4 mil metros quadrados, pelo setor público, leva quase quatro anos. O governo até tem dinheiro para isso mas todo o processo é burocrático, algumas construtoras faliram, tivemos que recomeçar tudo. Não dá pra comparar com a iniciativa privada, que fez por exemplo uma sede para a BMW no norte do estado em nove meses”, compara Jean Vogel, coordenador do Pacto pela Inovação pelo governo do estado, durante evento em Florianópolis de apresentação do projeto à imprensa.
A apresentação aconteceu, não por acaso, no recém inaugurado Instituto Senai da Indústria, um laboratório avançado de inovação e pesquisa especializado em Sistemas Embarcados, onde startups e empresas de pequeno e médio porte desenvolvem projetos conjuntos com grandes empresas públicas.
Um deles é o projeto de um nanossatélite de alta resolução espacial e coleta de dados de estações hidrometeorológicas, envolvendo a Telebras e a Embraer, que criaram uma joint venture, a Visiona Sistemas, para desenvolver a nova tecnologia. Orçado em R$ 12 milhões, o satélite também servirá de laboratório para o desenvolvimento e validação de tecnologias espaciais desenvolvidas pela Visiona e Senai, como os softwares de navegação, guiagem e controle, de supervisão de bordo e de rádio definido por software, consideradas as principais lacunas tecnológicas da indústria espacial brasileira atualmente.
“Empresas como a Telebras e a Embraer não precisam criar seus próprios centros tecnológicas, mas sim desenvolver cadeias, agregando especialistas e empreendedores. Ao final do jogo, tem que ter startup e pequenas, médias empresas juntas”, resume Jefferson de Oliveira Gomes, diretor regional do Senai em Santa Catarina.
“Não dá pra depender só do estado para promover projetos de inovação, mas o Brasil conta com um volume muito pequeno de capital privado dedicado a isso”, ressalta. Para ele, a oportunidade de conexões a que se propõe o Pacto deveria servir para justamente mudar o modelo de inovação comum no país, ainda baseado nos recursos públicos: “em Santa Catarina podemos chegar a um outro nível, e precisamos agora ‘israelizar’ o modelo, colocar mais capital privado no fluxo de inovação”.
A comparação é com o Silicon Wadi, o ecossistema de Israel que concentra, proporcionalmente, o maior volume de startups do mundo e que foi gerado a partir de uma forte conexão entre entidades públicas, capital privado e universidades.
“E como conseguir trazer mais recursos para inovação? Internacionalizando empresas, levando startups para viver e participar de outros ambientes econômicos”, opina o diretor do SENAI.
O Instituto Senai da Indústria, inaugurado no começo de 2018, recebeu recursos de R$ 1,5 bilhão financiado pelo BNDES e outros R$ 1,5 bilhão divididos entre as federações da indústria. “Quando o Instituto nasceu, pensamos: não podemos replicar o que as universidades já fazem. Então temos que criar projetos piloto e testar novos modelos, colocando startups e médias empresas dentro do ambiente do setor público”, conclui Jefferson.
Uma das entidades que atuam como co-gestora do pacto é a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), representando a conexão com o setor privado. “Precisamos de mecanismos e programas para gerar mais empresas. Se os egressos das universidades não conseguem gerar nota fiscal, se não ajudar nossa indústria a inovar, todo esse esforço vai por água abaixo. A inovação vai ajudar também a financiar a universidade”, ressaltou Daniel Leipnitz, presidente da ACATE.
O Pacto pela Inovação vai apresentar oficialmente os resultados do primeiro ano de atividades e as novas entidades que farão parte do projeto, em uma reunião em Florianópolis no dia 04 de dezembro.
Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br
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