A virada que fez a Jogos do Rei se reinventar como uma plataforma de games de impacto social

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A virada que fez a Jogos do Rei se reinventar como uma plataforma de games de impacto social

Após passar por um momento de crise, empresa de Palhoça lançou na Malásia um jogo internacional para promoção da paz e começa a olhar para o mercado externo

Após passar por um momento de crise, empresa de Palhoça lançou na Malásia um jogo internacional para promoção da paz e começa a olhar para o mercado externo

Estamos em 2009, período em que o Orkut era rei no Brasil: um grupo de amigos de Palhoça, na Grande Florianópolis, se juntou para desenvolver jogos de carta (canastra, buraco, truco, tranca e outros) para redes sociais, aproveitando a febre da internet na época. O projeto da Jogos do Rei deu mais certo do que os sócios esperavam nos primeiros anos – especialmente entre o público da terceira idade, que trocou a mesa de carteado pelo computador. Entre 2013 e 2014, já quando o Facebook e os aparelhos mobile começaram a dominar o comportamento dos usuários no país, a Jogos do Rei chegou a contar com 20 funcionários e adaptar seus jogos de redes sociais para o ambiente móvel dos celulares.

Mas foi justamente a virada para a tecnologia mobile que mudou o jogo, literalmente. Problemas tecnológicos no desenvolvimento e concorrentes com soluções que funcionavam melhor para o usuário fizeram a empresa perder muitos clientes e quase ir à lona. A partir desse período, os quatro sócios acabaram se distanciando e começaram a desenvolver outros projetos.

Agora voltamos para 2017: uma empresa catarinense de games vira notícia ao lançar no Encontro Internacional da Paz, na Malásia, diante de representantes de 102 países (entre embaixadores e presidentes de países asiáticos e africanos), o jogo da paz Peace Is Possible, com expectativa de atingir mais de 200 mil pessoas e mobilizar jovens ao redor do mundo em torno de ideias e ações pela paz. Sim, trata-se da mesma Jogos do Rei que começou desenvolvendo games clássicos para redes sociais.

Como então se deu essa virada para uma plataforma de jogos com impacto social e alcance global?

No início deste ano, a empresa decidiu “sair do prédio e ir pra rua”, ou seja, focar no desenvolvimento de novos produtos, mercados e clientes, uma guinada comercial e de marketing que trouxe ao comando da Jogos do Rei um novo integrante: o empreendedor e consultor em desenvolvimento de softwares Thaynan Mariano, com experiência de negócios na Irlanda e também voluntário em organizações como a Junior Chamber International (JCI) e o Conselho Estadual de Juventude em Santa Catarina.

Summit Internacional da Paz, na Malásia, onde a Jogos do Rei lançou o game Peace is Possible

A maneira como ele chegou à história é curiosa. Um amigo, fundador de uma startup local de tecnologia, mandou uma mensagem perguntando se ele toparia ser o CEO de uma empresa que pertencia a um dos sócios desta startup. O sócio em questão era Rafael Pfleger de Aguiar, agora diretor técnico na Total Voice e um dos quatro fundadores da Jogos do Rei. “Inicialmente respondi que não estava interessado em ser o CEO de uma empresa, meu foco era trabalhar com desenvolvimento de novos negócios. Mas depois, tomando um café com o Rafael e quando ele me falou que era uma empresa da área de games, mudei de ideia. Desde jovem, eu queria tanto ser jogador de futebol quanto desenvolver jogos. Era uma ótima oportunidade” lembra.

“Ninguém fala de paz, especialmente no universo dos games”

A partir de maio, Thaynan ficou responsável pela parte comercial da empresa, de olho em novas oportunidades. Alguns meses depois, a Jogos do Rei fez o pré-lançamento de um novo game, chamado King’s Mine em eventos como Gamercon, em Florianópolis, e o Brazilian Independent Game (BIG) Festival, o mais importante para desenvolvedores de jogos do país. Mas o que chamou a atenção foi um outro nicho que estava em destaque no evento paulistano: a categoria de jogos de impacto social. Aí a ficha caiu. “Percebi que nesse novo momento da empresa precisávamos entrar nesse segmento. Então pensamos em fazer uma campanha em formato de jogo, com situações do dia a dia. Ninguém fala de paz, especialmente no universo dos games, então esse era um caminho para buscar engajamento”, lembra Thaynan, agora CEO da empresa.

Em parceria com a JCI Brasil – seção nacional da associação mundial de jovens entre 18 e 40 anos – a Jogos do Rei partiu para a criação de um game simples, em que o jogador passa por desafios do cotidiano (exemplos que vão de violência urbana, situações de trabalho e comportamento social, cumprimento às leis etc.) e tem que tomar decisões que poderão aumentar o número de embaixadores da paz. O jogo, que pode ser acessado em qualquer computador ou celular com acesso a um navegador, tenta ser simples o suficiente para que crianças possam participar e adultos entendam a profundidade da questão da paz no dia a dia. A JCI global tem cerca de 200 mil membros em mais de 100 países, com um perfil  predominantemente feminino (mais de 70%) e estuda fazer lançamentos do jogo em outros países.

Equipe em produção: aposta a partir de agora é se tornar um estúdio global de games


A grande parte dos jogadores do Peace is Possible até o momento são do Brasil, EUA, Alemanha, Irlanda e países asiáticos. O lançamento em três línguas (inglês, espanhol e inglês) marcou um novo caminho para a Jogos do Rei. “Agora somos um estúdio de games que começa a pensar global, não apenas no mercado nacional. Também temos possibilidade de desenvolver jogos para empresas, como estratégias de marketing. Além disso, vamos nos engajar cada vez mais no tema da paz, reforçando a pegada social, de entrega para a comunidade, patrocinando eventos como já fizemos com a Faculdade Nova Palhoça (Fatenp) e dar mentorias para alunos de desenvolvimento de jogos”, antecipa o CEO.

Jogos clássicos ainda dão as cartas no faturamento

Mas se engana quem acha que os jogos de carta não fazem mais parte da estratégia da Jogos do Rei. Há uma boa parcela de clientes fiéis (muitos deles jogam desde que a empresa começou) que garante uma fatia significativa dos negócios da empresa, que fechou 2016 com um faturamento de R$ 1,5 milhão. Todo mês, a plataforma recebe 50 mil novos jogadores e contabiliza 20 mil partidas diárias.  Ao todo, mais de 5 milhões de pessoas já jogaram alguma modalidade. “Temos uma média de 10 mil clientes VIPs, todos na faixa acima dos 35 anos, que geram um tíquete médio em torno de R$ 12 por mês”. O desenvolvimento da tecnologia andou em paralelo nos últimos meses, com a plataforma rodando em html5. “Nosso cliente, o vôzinho e a vózinha, não precisa mais ficar atualizando o flash. Agora muito mais gente consegue jogar. Estamos voltando pras cabeças”, afirma Thaynan. A equipe da Jogos do Rei, ainda com sede em Palhoça, hoje conta com nove funcionários e tem vaga para outros duas áreas (customer sucess e desenvolvedor back-end).

Na visão do CEO, o mercado de games passa por um momento de expansão. “Na verdade, está cada vez melhor no Brasil, embora ainda faltem mais eventos e as universidades precisam estar mais perto do mercado. Há mais dinheiro rodando e recentemente a Agência Nacional de Cinema lançou dois editais de fomento para projetos de R$ 400 mil por empresa. Estamos hoje no mesmo cenário das startups há coisa de 10 anos. Agora sim é que está começando”, opina.