Entenda como foi criado o projeto montado pelo BRDE para viabilizar obras como o Centro de Inovação ACATE Sapiens, que pode ser replicado para outros ambientes inovadores
O ecossistema de tecnologia em Santa Catarina vai ganhar, nos próximos meses, um novo centro de inovação, em pleno Sapiens Parque, um dos maiores parques tecnológicos do país, localizado na região norte de Florianópolis. O Centro de Inovação ACATE Sapiens – que tem inauguração prevista para novembro e vai concentrar dez empresas de tecnologia – foi viabilizado graças a um modelo inédito no Brasil que permitiu a utilização de linha de financiamento para inovação para construir um condomínio de empresas de tecnologia.
Este modelo foi proposto pelo Banco de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e chancelado pela FINEP, que financiou um consórcio de 10 empresas em processo articulado pela Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), que será a gestora do Centro de Inovação.
Com recursos do programa BRDE Inova com a linha FINEP Inovacred, o projeto foi formalizado em 2015 e, com a inauguração do espaço, estabelece um novo modelo que pode auxiliar empresas de TI que querem se instalar em parques tecnológicos. “Foi uma iniciativa muito complexa, pois não havia até então uma maneira de viabilizar financiamento coletivo para empresas se instalarem em parques tecnológicos. Não era algo usual no mercado, mas quebramos a cabeça até encontrar uma forma de viabilizar o apoio a esse projeto”, ressalta Felipe Castro do Couto, gerente de Planejamento da agência do BRDE em SC.
O banco já tinha experiência com o modelo de financiamento coletivo para a agricultura familiar, o que ajudou a replicar alguns passos no projeto para o setor de tecnologia. “O BRDE tem uma tradição de financiamento coletivo em áreas rurais, então procuramos nos inspirar nessa experiência em um projeto de tecnologia. Foi desafiador, pois envolveu vários atores em um único projeto”, explica Couto.
“Caso o BRDE não tivesse aceitado realizar essa operação na qual o grupo de empresas foi analisado conjuntamente, tendo o próprio empreendimento como garantia, provavelmente as empresas individualmente não teriam conseguido construir o seu ambiente – ou teriam feito isso em um ambiente isolado, sem o benefício do compartilhamento e da proximidade, tão comuns no ambiente de inovação”, resume Gabriel Sant’Ana, diretor executivo da ACATE.
O projeto aprovado permitiu às empresas construir um ambiente adaptado às suas necessidades, em um conceito de coletividade, em torno de uma entidade, sem fins lucrativos, que fomenta o setor. O período de carência e quitação do financiamento (oito anos) ajuda também as empresas a viabilizar seus projetos e tenham um espaço adequado para crescer.
Como acrescenta o diretor executivo da ACATE, “ambientes como parques tecnológicos concentram empresas, institutos de pesquisa, universidades, entidades, eventos relacionados à pesquisa e inovação, e isso tem se mostrado um fator de indução da inovação em diversos países”.
Há também formas mais simples para obter financiamentos de inovação para obras em parques tecnológicos. A Softplan, por exemplo, fez a contratação direta de uma linha de financiamento do BRDE para a construção de sua sede no Sapiens Parque, inaugurada em 2017 e que concentra mais de mil colaboradores – é a principal âncora privada do empreendimento. Entre as exigências para este tipo de financiamento está o credenciamento do parque tecnológico na lista certificada pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).
Recentemente, a prefeitura de Itajaí também buscou consultoria da equipe técnica do BRDE para desenvolver o projeto de um distrito de inovação no município. “É uma iniciativa que começa agora a se desenvolver. Estamos sendo consultados para apoiar na questão legal e no modelo para viabilizar a infraestrutura, que será a base para atrair as empresas”, comenta Couto.
Para o gerente de planejamento, “a interação do BRDE com o ecossistema local trouxe novas visões e uma mentalidade voltada à inovação – tanto que buscamos um modelo no setor tradicional, que é o financiamento coletivo no agronegócio, e adaptamos para o setor de tecnologia”.
Por Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br
Reportagem especial produzida para
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