Inspiração para impactar localmente: debates no Innovation Summit estimulam Economia Criativa e inovação no Sul de SC

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Inspiração para impactar localmente: debates no Innovation Summit estimulam Economia Criativa e inovação no Sul de SC

Do empreendedorismo feminino à tecnologia, saúde, design e marketing, evento em Tubarão quer impulsionar um ecossistema digital e inovador na região.  / Fotos: Divulgação Innovation Summit

Como se constroem ambientes de inovação e economia digital nas cidades? 

Inspirados em polos que já estão se consolidando e sendo reconhecidos até fora do país – como Florianópolis e, um pouco mais recentemente, Joinville – municípios de Santa Catarina começam a seguir alguns caminhos que passam pela mobilização de comunidades locais (empresas, setor público, profissionais e academia) e organizar eventos regionais com foco em tecnologia, transformação digital e empreendedorismo inovador, e assim “contaminar” a sociedade. 

Em Tubarão, segunda maior cidade do sul de Santa Catarina, com 105 mil habitantes, esse movimento que começou a ser articulado pela “tríplice hélice” se materializou durante a segunda edição do Innovation Summit, evento promovido pelo Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia em parceria com o Sebrae/SC e que reuniu 1.100 pessoas ao longo de dois dias (10 e 11 de outubro), na Arena Estener Soratto. 

Depois de plantar a semente no ano passado, ao criar o conceito do evento, a organização buscou desta vez mostrar alguns exemplos de empreendedores, iniciativas e tecnologias em uso no mercado regional para que os presentes percebessem que a cidade começa efetivamente a criar seu ambiente próprio de inovação. “Precisamos mostrar esses exemplos para que sirvam como uma inspiração para impactar”, comenta o secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Giovani Bernardo.

Inspiração que começa pelo empreendedorismo feminino, como as histórias de vida de várias executivas que abriram a programação no encontro exclusivo para mulheres, o HERS, envolvendo mais de 200 participantes. É o caso da fonoaudióloga Fabíola Steiner, que tem negócios na área de saúde, beleza e eventos infantis em Tubarão, a CEO da Automatisa Laser Solutions, Joana de Jesus, que iniciou na empresa como estagiária há 18 anos, a ex-prefeita de Gramado e empresária Manoela da Costa, além da designer Mariana Dias, diretora criativa da marca de acessórios de alto padrão que leva seu nome, fundada em 2010.

Mas foi a partir da programação da tarde, com as arquibancadas tomadas, que o público do sul catarinense pode conhecer como empreendedores das mais diversas áreas encararam o mesmo desafio de muitos dos presentes: a necessidade de mudança de mentalidade e a imersão no mercado e no comportamento digital. Dos fundadores e executivos de empresas de TI já maduras (Softplan, Dot Digital Group, Audaces) a startups (Hero Spark, Moskit) e muito conteúdo voltado às áreas de marketing e vendas, ficou claro que, mais do que uso de novas tecnologias, é preciso contar com boa dose de criatividade para inovar.

Foi o caso de uma das maiores empresas da cidade, a Formus Movelaria, que passou por dificuldades no auge da crise econômica no país no mesmo período que completava 25 anos de mercado. “Começamos a trazer a industrialização para a marcenaria e voltamos à tona com o conceito de movelaria e arte. Uma soma de indústria e craft, high tech e low tech, fazendo artesanal e pensando industrial”, contou a diretora criativa Cláudia Silvestre, que a partir de então investiu em um espaço celeiro e silo, dentro da fábrica da empresa, em Tubarão. Nesse ambiente de criação em forma de ateliê os profissionais do setor criativo da empresa junto a arquitetos, designers e clientes para experimentar diversos materiais nos projetos. 

Na feira de negócios, uma outra empresa da cidade apresentava um protótipo inédito no mercado global de confecção: um software “espelho” pelo qual o consumidor pode visualizar o caimento de uma roupa em quatro dimensões (4D) na tela de um monitor. A tecnologia, que está sendo desenvolvida pela Uniup Uniformes em uma parceria com a multinacional catarinense Audaces, permite uma experiência do cliente com a roupa antes mesmo de ela ser produzida. 

Empresa de confecção de Tubarão é a primeira a testar (e codesenvolver) uma tecnologia da multinacional Audaces que permite visualização de roupas antes da fabricação. / Foto: Fabrício Rodrigues

“Começamos os testes há quatro meses e hoje estamos como co-desenvolvedores desse protótipo. A Audaces nos conheceu e entendeu que tínhamos a condições para customizar o produto, diferente do que acontece em uma marca de grande porte”, explica Gabriel Fernandes (foto abaixo), CEO do Grupo Oni, que tem 13 anos de mercado, reúne cinco empresas que atuam com linhas de confecção para outras marcas (private label), moda pet, uniformes para empresas e atua no e-commerce. A empresa se vale da força da região na área de confecção para se estabelecer no mercado – além de contar com 30 funcionários diretos e outros 100 em facções localizadas em cidades próximas, tem metade de seus 5 mil clientes na região da Amurel, a Associação de Municípios da Região de Laguna. E parte dos demais clientes vem do exterior, como Portugal, Alemanha, Japão e Canadá.


CAMINHO PARA O ECOSSISTEMA DIRECIONADO PARA A ÁREA DA SAÚDE 

Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Giovani Bernardo, municípios de pequeno e médio porte devem “vocacionar” suas políticas de inovação em função do potencial econômico já instalado.

A economia de Tubarão se mantém baseada no setor de serviços, especialmente na área de saúde, com um grande número de clínicas e hospitais que tornou o município como referência para moradores de outras regiões – cerca de 30% do ISS local vem deste segmento, calcula o secretário Giovani Bernardo. “Quando começamos a debater sobre como iríamos construir o nosso ecossistema de inovação, e o modelo do Centro de Inovação da cidade, decidimos arriscar e direcionar para a área de saúde porque pra nossa realidade local fazia sentido. Não havia nenhuma outra região que estava vocacionando seu modelo de inovação para este setor e, em função da base instalada, seguimos nessa aposta”, recorda. 

Ele defende que os municípios de pequeno e médio porte que estão nesta mesma fase inicial de desenvolvimento de políticas de inovação devam se concentrar em uma determinada área, onde já tenham alguma base econômica e de arrecadação: “talvez daqui a alguns anos possamos ampliar nosso escopo, mas inicialmente vamos focar na área de saúde, por ter também um grande potencial de tecnologia e futuro em função da curva de envelhecimento da população”.

Em 2020, a cidade deve receber a edição brasileira de um evento sobre tecnologia e inovação para a área de saúde que acontece a cada dois anos em Israel, a “nação das startups”. O MEDinBrazil, versão do MEDinIsrael, está previsto para o mês de julho e tende a reforçar assim o relacionamento com o ecossistema do país do Oriente Médio, que recebeu há alguns meses uma comitiva de empresários e representantes do setor público de Tubarão. “Neste sentido, o Innovation Summit foi um teste para este evento que estamos tratando com o Consulado de Israel mas que já tem apoio de entidades empresariais da indústria, do setor de tecnologia e medicina de Santa Catarina”. Todas estas iniciativas segmentadas fazem parte do projeto Hub Saúde, lançado no ano passado e que tem como objetivo de conectar as empresas, instituições e entidades ligadas ao segmento de saúde.

Segundo Ben Harel, palestrante internacional do Innovation Summit que foi empreendedor e investidor de várias empresas de TI israelenses, o país conta com mais de 5 mil startups, sendo que 1,5 mil atuam na área de saúde e ciências da vida. E Tubarão espera em breve reforçar o ecossistema nacional de startups com algumas healthtechs: até meados de novembro, o Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia deve selecionar os cinco melhores projetos na área de saúde inscritos em edital público que vai prever um valor total de R$ 250 mil com recursos do Fundo de Inovação. Atualmente, na estimativa da prefeitura, a cidade conta com um total de 165 empresas de tecnologia. 

INOVAÇÃO POR MEIO DA ECONOMIA CRIATIVA E DO DESIGN

Enquanto o setor da saúde deve receber uma atenção maior com relação a projetos voltados para empresas de base tecnológica, há um esforço paralelo para qualificar e inspirar uma outra base de empreendedores e trabalhadores da indústria criativa, especialmente na área de artesanato e móveis. No sábado seguinte ao Innovation Summit, o espaço externo da arena deu lugar a um festival cervejeiro e cultural, com feira de artesanato local, conectando outros segmentos à marca do evento de inovação. Há também iniciativas em debate na cidade sobre criação de roteiro turístico integrando os monumentos e obras do pintor tubaronense Willy Zumblick e um circuito rural ecogastronômico pelos municípios vizinhos.

No final de novembro, o arquiteto paulista Marcelo Rosenbaum (conhecido por participações em programas de TV como Caldeirão do Huck e Decora/GNT) vai a Tubarão para levar capacitação a um grupo de artesãos e marceneiros, escultores e designers durante dois dias no “celeiro” da Formus, com a diretora criativa da empresa como uma das voluntárias do projeto, que tem patrocínio do Sebrae/SC e apoio do setor público.

“Todas as ações que estamos promovendo e incentivando dentro do poder público têm o envolvimento da iniciativa privada e da comunidade. Se for apenas uma ação de governo, pode morrer por vários motivos, mas se o setor produtivo está engajado a ideia se mantém. Nosso foco é provocar, conectar e dar o suporte para o desenvolvimento destes projetos”, conclui Giovani.

Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br

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