Tanto produtos quanto processos inovadores a serem desenvolvidos precisam ter em mente a viabilidade econômico-financeira, social e ambiental – já que inovação e sustentabilidade são indissociáveis. / Foto: Unsplash
[15.02.2022]
Por Marcus Rocha, empreendedor e colunista SC Inova.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação
O vocabulário da gestão empresarial é cheio de termos interessantes, boa parte deles em inglês. Como a inovação se encontra nesse contexto, volta e meia surgem novas expressões que são “diferentes”, por assim dizer. Uma dessas novas expressões que vem ganhando maior destaque recentemente é a “innovability“, que na língua portuguesa foi traduzido como “inovabilidade”. Trata-se da junção dos termos “innovation” (inovação) com “sustainability” (sustentabilidade).
Antes de mais nada, é importante relembrar o significado desses termos tão importantes para as organizações de hoje. Mesmo sendo óbvio, vale trazer o conceito de inovação, a partir da sua fonte mais consagrada, o Manual de Oslo: é um produto (bem ou serviço) ou processo novo que se diferencia significativamente daqueles existentes até então, e que está disponível para seus potenciais usuários (no caso de um produto) ou foi colocado em prática nas organizações (no caso de um processo).
Da mesma forma, é importante compreender o que é exatamente sustentabilidade. Apesar de frequentemente estar associada apenas às questões do meio-ambiente, a sustentabilidade vai muito mais além. A principal definição ligada a esse termo foi trazida em 1994 por John Elkington. Ele recomenda que, para serem sustentáveis, as organizações precisam trabalhar considerando em igual medida as seguintes dimensões do “triple bottom line” (tripé): Econômico-financeira, Social e Ambiental.
Mais recentemente também se percebe um movimento global, principalmente no meio empresarial, para a adoção de práticas ESG nas estratégias corporativas e, assim, mais um jargão foi acrescentado ao vocabulário empresarial. Trata-se de buscar a responsabilidade nas esferas do Meio-ambiente (“Environmental“), Social e da Governança. Percebe-se que, apesar dessa nova sigla que está em evidência, trata-se de um conceito muito parecido, senão igual, ao do tripé da sustentabilidade criado na década de 1990.
Portanto, inovação, sustentabilidade e ESG são guias para tornar as organizações mais perenes, com maiores chances de estarem ativas e bem-sucedidas por muito tempo. A partir desse entendimento, a inovabilidade faz bastante sentido.
No entanto, a união desses conceitos não deve ser compreendida como uma nova área ou departamento, ou nicho para inovar. Não se trata de desenvolvimento de inovações com foco na sustentabilidade. É necessário ter uma perspectiva estratégica, na qual a sustentabilidade esteja presente como diretriz para todas as atividades de inovação.
Tanto os produtos quanto os processos inovadores a serem desenvolvidos precisam ter em mente, ao mesmo tempo, a viabilidade econômico-financeira, social e ambiental, já que inovação e sustentabilidade são indissociáveis.
INOVABILIDADE COMEÇOU NO SETOR DE ENRGIA
Os registros de artigos e reportagens sobre o assunto indicam que as práticas de inovabilidade iniciaram no setor de energia. Isso provavelmente ocorreu por causa das pressões que esse setor sofre para buscar fontes energéticas que sejam mais eficientes e que causem cada vez menos impacto ambiental e social. Assim, destaca-se a Enel, empresa do setor de energia com sede na Itália e que no Brasil possui operações nos estados do Rio de Janeiro, Ceará, Goiás e São Paulo, e desde 2014 incorporou inovação e sustentabilidade nas suas estratégias.
Outro destaque é a EDP, que possui matriz em Portugal e também opera no Brasil, que mais recentemente também fez o mesmo movimento.
Esse tema se torna ainda mais interessante quando são adicionadas as práticas de inovação aberta às estratégias de sustentabilidade. Ao desenvolver redes de parcerias com diferentes atores dos ecossistemas, em diferentes frentes de trabalho, além dos benefícios na forma de produtos ou processos novos ou significativamente melhorados que passam a ter propostas de valor mais amplas, que também levem em conta os impactos sociais e ambientais que podem ser causados pelas inovações.
Outro ponto interessante é que, por meio das redes de parceiros desenvolvidas por meio da inovação aberta, a cultura da sustentabilidade também é disseminada. Isso acontece porque o olhar estratégico para o tripé da sustentabilidade passa a ser também naturalmente compartilhado e incorporado pelos parceiros, já que a organização líder dessas iniciativas inovadoras traz isso como uma diretriz fundamental.
Pode-se perceber esse potencial em iniciativas como o “Open Innovability” da Enel, que alcança parceiros em cerca de 100 países, sendo que em 32 deles resolveu instalar hubs de inovação. Desde o início do programa já foram recebidas mais de 7 mil propostas de soluções inovadoras e, mesmo que não se saiba quantas delas foram selecionadas, testadas, validadas e incorporadas como inovações, é nítido o impacto positivo levado aos ecossistemas locais de inovação.
Então a Inovabilidade Aberta é muito recomendável, enriquecendo ainda mais o portfólio de opções estratégicas para as empresas e demais organizações. E já que está na moda criar novas expressões, a partir desses conteúdos fica a sugestão para a ampliação da sigla ESG para IESG: Innovative; Environmental; Social; Governance.
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