Encontro em Blumenau reuniu cerca de 700 pessoas do setor para debater tendências, desafios, experiências de “reinvenção” e o que as construtechs e proptechs estão trazendo de inovação. Foto: Fabrício Rodrigues/SC Inova
Entre os mercados que mais sofreram com a temida “transformação digital” nos últimos anos, está sem dúvida o de construção civil e imobiliário. Além de ser um dos menos tecnológicos entre todos os segmentos econômicos existentes, no Brasil, a situação foi especialmente grave em função de um conjunto de fatores que se somaram a partir de 2015: uma crise que derrubou o PIB, estoques altos de imóveis (em função de estímulos à construção feitos nos anos anteriores), falta de crédito para o consumidor e empresas com baixa produtividade.
Além disso, a chegada de startups a este mercado (construtechs e proptechs) e a adoção de novas tecnologias aumentou a distância entre as empresas que operavam de maneira tradicional às que iniciavam seu processo de digitalização e apoio à inovação.
Sob esse cenário de transição que teve início, em 2019, um movimento na cidade de Blumenau para unir empresários do setor de construção e imobiliárias, investidores, engenheiros, arquitetos e empreendedores de tecnologia. Este grupo, ampliado pela presença de interessados de várias outras cidades, se encontrou na última quarta (16.10), em Blumenau, para a segunda edição do Fastbuilt Experience, evento para debater tendências, desafios de mercado, novos modelos de negócio e experiências de “reinvenção” e o avanço das construtechs e proptechs no Brasil e no mundo.
Boa parte dos cerca de 700 participantes era formado por empresários do setor – vindos desde o Rio de Janeiro, São Paulo, Cuiabá, Curitiba, Porto Alegre e várias regiões catarinenses – que tiveram um dia de “choque de realidade” ao longo da programação no Teatro Carlos Gomes.
Esta iniciativa de reunir a comunidade ligada à área de construção civil e setor imobiliário é tão recente quanto uma startup – o primeiro encontro na cidade aconteceu em março e reuniu um público quatro vezes maior na segunda edição. Isso começou a partir de um outro choque de realidade, vivido pelo engenheiro civil Jean Ferrari, quando participou do Startup Summit de 2018, em Florianópolis, quando ainda tinha uma empresa de construção e reforma.
“Fui convidado por um amigo do setor de tecnologia e, durante aqueles dois dias de imersão senti que estava numa caverna, descobri um mundo novo que estava perdendo”, lembra Jean. Pouco tempo depois, ele vendeu a empresa para apostar em alguma nova solução de engenharia – a ideia vingou com um aplicativo que usa inteligência artificial para elaboração do manual do proprietário, na qual tem como sócio o empreendedor Henrique Bilbao, que no início do ano assumiu também a presidência do Blusoft.
A falta de eventos sobre tecnologia e inovação em Blumenau motivou Jean a realizar a primeira edição do Fastbuilt Experience, em março passado, quando reuniu 150 pessoas. Depois de integrar a programação do Oktober Tech Week neste ano – e se tornar um dos maiores eventos daquela semana em Blumenau – a ideia é escalar o Experience nos próximos anos e colocar a cidade como referência no desenvolvimento de proptechs e construtechs do país.
SC: CELEIRO DE PROJETOS E INICIATIVAS DE INOVAÇÃO PARA O SETOR DA CONSTRUÇÃO
Santa Catarina, por sinal, se destaca no cenário nacional de inovação para este mercado, com cerca de 70 construtechs listadas do total de 550 em operação no país – atrás apenas de São Paulo em números absolutos. O estado também tem grupos associativos que reúnem empresas estabelecidas e startups, como as Verticais de Negócio da ACATE e da comunidade empreendedora Costa Valley (que representa a região de Itajaí, Itapema, Balneário Camboriú e região).
Entre outras iniciativas criadas a partir de empreendedores com atuação no estado estão a Construtech Ventures – projeto que a Softplan iniciou há alguns anos para estimular startups neste segmento – e a recém criada Terracotta Ventures, que chegou ao mercado para levar mentoria às empresas iniciantes, apoio para as que buscam investimento e que também atua como consultoria para as corporações mais tradicionais.
Das mais de 550 construtechs e proptechs em atividade no Brasil, a maior parte (35%) atua com serviços na área de aquisição e intermediação de imóveis e terrenos; outras 30% são voltadas a soluções para propriedades em uso, enquanto 26% oferecem tecnologia para construção e apenas 9% desenvolver projetos pré-obra, detalhou Bruno Loreto, cofundador do Terracotta Ventures.
Para ele, uma recomendação às empresas tradicionais que ainda não conhecem o ambiente de inovação é participar e investir em fundos setoriais: “isso gera aprendizado, pois terá conexão com novas empresas e permite ver o mercado mudando em uma situação privilegiada, além de ter a oportunidade de criar as próprias startups”.
E há também outros caminhos, como uma mudança de mentalidade e de processos e serviços, como que a Dimas Construtora, de Florianópolis, apresentou no evento. “A ideia era deixar de ser uma simples construtora para ser uma empresa de tecnologia que constrói prédios, monitorando todos os canteiros de obra, colocando um programador para cada engenheiro, para ajudar na produtividade, ter um UX designer e um customer success em cada empreendimento”, conta Fabrício Schveitzer, que liderou o processo como diretor de Operações nos últimos anos, mas que deixou recentemente a empresa para atuar na Softplan, como diretor de Produto do ERP Sienge.
“Nesse caminho, tivemos que tomar uma série de decisões no dia a dia: o que nós fazemos mas que não serve mais? Isso atende o cliente? Estamos usando tecnologia para melhorar as coisas? No fim do dia, a solução está nas pessoas, que ajudaram a empresa a ser guiada por dados, e não só na tecnologia”, lembra.
Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br
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