Cidade do sul catarinense deu início neste ano a um ambicioso planejamento para se tornar, nas próximas décadas, um centro logístico, de TI e novos negócios na região
Um dos mais importantes corredores ferroviários de Santa Catarina, a região de Tubarão (a 135 km ao sul de Florianópolis) teve um papel estratégico na economia local ao longo do século XX como sede administrativa da primeira estrada de ferro construída no estado, que transportava a riqueza da região carbonífera ao país pelos portos de Laguna e Imbituba. Mas uma enchente em março de 1974, que deixou 90% da cidade submersa durante três dias e deixou pelo menos 199 mortos, marca até hoje a história do desenvolvimento econômico da cidade de 103 mil habitantes.
Passados 43 anos desde a catástrofe, um ambicioso projeto liderado pela prefeitura e com apoio de empreendedores e lideranças locais pretende tornar Tubarão no principal hub de inovação do sul catarinense até 2050. Um longo caminho, mas que teve como primeiros passos a criação da Lei Municipal de Inovação e do fundo de fomento para projetos inovadores, além de outras iniciativas paralelas envolvendo associações empresariais e grupos de empreendedores.
“Começamos o ano sem nada”, conta Giovani Bernardo, gerente de Inovação e Empreendedorismo da prefeitura de Tubarão – cargo que também não existia até o início do ano. Mas não foi preciso muito tempo para as primeiras ações saírem do papel: em maio já estava aprovada a legislação, o fundo e o conselho municipal de inovação, envolvendo empreendedores, setor público e universidade. “Temos a tríplice hélice bem representada aqui na cidade, mas desde o início tanto o governo quanto o setor de educação deixaram a liderança das ações com o lado empresarial. A inovação tem que ser dinâmica, gerar riqueza, nota fiscal. Não pode ser apenas um centro de pesquisa ou servir como cabide de emprego”, comenta.
Recentemente, outros movimentos empreendedores começam a emergir na cidade, como o Conexão Startup, que promove encontros regulares para gerar networking e negócios e o Code for Tuba, formado por desenvolvedores e programadores da região. Em maio, a cidade recebeu a primeira edição do Startup Weekend Tubarão, que reuniu 120 pessoas em uma maratona de desenvolvimento de projetos inovadores ao longo de um final de semana. Um movimento semelhante ao que aconteceu em Criciúma, como registramos nesta reportagem sobre o Vale do Carbono.
“A inovação tem que ser dinâmica, gerar riqueza, nota fiscal. Não pode ser apenas um centro de pesquisa ou servir como cabide de emprego”, diz Giovani Bernardo, gerente de Inovação da prefeitura de Tubarão.
Até dezembro, a prefeitura pretende lançar um edital para submissão de projetos, com recursos do Fundo Municipal de Inovação. “Esperamos contar com recursos entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão, sem contar aportes externos. O edital ainda está sendo elaborado, mas em nossa visão o ideal é ajudar a promover projetos um pouco mais robustos, para que o recurso gere resultados”, explica.
Antes de chegar ao setor público, Giovani fez carreira como executivo e empreendedor: fundador da Exxas Business, que atua com consultoria em gestão de negócios e inovação, é diretor da Associação Comercial e Industrial de Tubarão (ACIT), foi presidente da Associação de Jovens Empreendedores (AJET) do município e também lidera o comitê de implantação do Centro de Inovação de Tubarão, iniciativa do governo de Santa Catarina em 13 regiões do estado.
A criação dos centros terá, na visão de Giovani, um papel essencial para o desenvolvimento de municípios do interior catarinense nos próximos anos. “Apesar de alguns criticarem o projeto e considerarem ousado demais, os centros têm como função levar a temática de inovação para o interior. Eu comparo com o movimento do ensino superior, feito pela ACAFE (Associação Catarinense de Fundações Educacionais), na década de 1970. Ninguém na época via a importância de faculdades em cidades menores, mas muito do desenvolvimento equilibrado em Santa Catarina se deve a esse movimento. Acredito que os centros de inovação poderão ter um papel semelhante quando se fala em desenvolvimento de competitividade e ecossistemas inovadores no estado”, compara. Com um atraso de aproximadamente um ano nas obras em função da desistência da construtora, o centro de inovação de Tubarão deve ser retomado em breve com o lançamento do edital para conclusão da obra, o que deve levar pelo menos mais 12 meses.
Enquanto a quase vizinha Criciúma acabou se consolidando como polo econômico do sul catarinense nas últimas décadas, a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), por sua vez tornou Tubarão como referência regional em educação superior – o que reforça a importância da academia para o desenvolvimento do município.
Mas porque Tubarão teria potencial para ser um hub regional de inovação?
“Não temos uma característica única, como Florianópolis hoje tem a tecnologia e em Joinville sempre foi a questão industrial. Nossa vocação econômica é a diversidade, além da vantagem geográfica: em 20 quilômetros temos um aeroporto regional e também um porto, somos cortados por uma rodovia federal, algo que outras importantes cidades do estado como Blumenau e Criciúma não tem, uma vantagem logística. Além disso há o contexto turístico, estamos entre a Serra e o Litoral – isso tudo nos dá um perfil de hub”, enumera. Dentro dessa visão, foram definidas algumas áreas chave para o desenvolvimento da inovação local: saúde (em função de vários cursos oferecidos na região e do bom número de leitos hospitalares), educação, logística, turismo e energias renováveis.
Tubarão deve receber ainda em 2018 uma aceleradora de negócios, bancada por investidores locais e um “hub empreendedor”, que será sediado em uma construção histórica que está sendo revitalizada no centro da cidade: “a ideia é ter um coworking público e vários serviços para empresas inovadoras de qualquer porte, seja no aspecto legal a capacitações”.
O maior desafio do projeto de estímulo à inovação é aumentar a renda per capita na cidade: enquanto em Florianópolis a renda média da população é de R$ 1.798,00, em Tubarão a média é de R$ 1.077, o que faz a cidade cair ano a ano nos rankings de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). “A cidade precisa de uma guinada para mudar essa realidade e pra isso é preciso gerar oportunidades e empregos de qualidade, baseados na economia do conhecimento, da inovação. Por isso, nosso planejamento tem foco até 2050, quando completamos 180 anos de emancipação. Até lá, esperamos ser o principal hub de inovação do sul de Santa Catarina e uma das melhores melhores cidades do país para se viver”, conclui Giovani.
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