Embrapii: uma (ainda) pouco conhecida fonte de financiamento para inovação

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Embrapii: uma (ainda) pouco conhecida fonte de financiamento para inovação

Desde 2013, a Embrapii já apoiou 1.300 projetos de 910 empresas, com R$ 1,7 bilhão aplicados em projetos de inovação.

Em operação desde 2013, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) já apoiou 1.300 projetos de 910 empresas, com R$ 1,7 bilhão aplicados em projetos de inovação. / Foto: Workshop Embrapii/Unicamp (2019)


[31.08.2021]


Por Marcus Rocha, CEO do 2Grow Habitat de Inovação.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação no SC Inova

A política brasileira de fomento à inovação disponibiliza uma série de instrumentos públicos para financiamento de projetos de desenvolvimento de novos produtos ou serviços inovadores. Talvez os mais conhecidos sejam os mecanismos criados pela Lei de Informática e pela Lei do Bem e, mesmo assim, são poucas as empresas que as utilizam. Por exemplo, segundo o próprio Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), apenas 2,5% das empresas com perfil inovador utilizam do benefício da Lei do Bem.

Outra fonte de recursos para inovação ainda menos conhecida é a Embrapii, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, que apoia instituições de pesquisa tecnológica fomentando a inovação na indústria brasileira desde 2013. É uma Organização Social  que possui um contrato de gestão com o MCTIC e tem o Ministério da Educação – MEC como instituição interveniente, sendo que esses dois órgãos federais repartem igualmente a responsabilidade pelo seu financiamento.

Atualmente a Embrapii disponibiliza recursos para financiar projetos inovadores das seguintes áreas:

  • Tecnologias aplicadas para o desenvolvimento de materiais, produtos e processos com soluções tecnológicas inovadoras voltadas para diversas áreas como Meio Ambiente, Saúde, Energia, Agroindústria e Engenharia Submarina.
  • Mecânica e manufatura para desenvolver soluções para a integração dos processos, desde a concepção dos produtos até o descarte final. 
  • Biotecnologia, para inovações para a indústria farmacêutica, agronegócios, química e de análises clínicas.
  • Materiais e Química, para desenvolver inovações tecnológicas da sociedade de consumo, considerando produtos e matérias-primas para diversos setores industriais, tais como Química Verde, Materiais de Alto Desempenho, Aços e Ligas Especiais, Metalurgia e Materiais, Polímeros, Construção Ecoeficiente, etc.
  • Tecnologias da Informação e da Comunicação, para criar recursos tecnológicos integrados por meio de soluções de hardware, software e telecomunicações.

Percebe-se na forma de atuação da Embrapii uma forte orientação para a inovação aberta, pois busca potencializar a força competitiva das empresas, internacional e internacionalmente, por meio do desenvolvimento de inovações realizadas em cooperação com instituições de pesquisa científica e tecnológica, públicas ou privadas. A instituição também converge com a política brasileira de inovação ao ter foco em demandas empresariais reais, compartilhando o risco dos projetos com as empresas e as estimulando a inovar mais e com maior intensidade tecnológica. 

A Embrapii aporta 1/3 dos recursos do projeto, de forma não reembolsável. O restante dos recursos é aportado pela unidade Embrapii e também pela empresa. Se o projeto for executado por microempresa individual (MEI), ou micro ou pequena empresa (MPE), há a possibilidade de apoio do Sebrae que pode chegar a até 70% da sua contrapartida financeira no projeto, também de forma não reembolsável.

A entidade também incentiva a realização de projetos por meio de consórcios de empresas com interesse comum. São médias e grandes Empresas (MGE) atuando em parceria com pequenos empreendedores – inclusive startups -, atuando como âncoras de um projeto de encadeamento produtivo ou tecnológico, ou como apoiadoras da iniciativa. 

Ou seja, há um incentivo a projetos de inovação aberta e pode permitir que startups desenvolvam projetos em parceria com o consumidor final da tecnologia a ser desenvolvida.

A burocracia para criar e executar um projeto com recursos da Embrapii é consideravelmente menor, pois não é necessário aguardar editais – é um fluxo contínuo de projetos – e todo o relacionamento da empresa é realizado diretamente com a unidade credenciada, tanto em termos contratuais, quanto operacionais ou financeiros.

Para criar um projeto a ser financiado com recursos da Embrapii, a empresa interessada precisa primeiramente buscar parceria com uma das unidades credenciadas. São mais de 60 universidades e instituições de ciência, tecnologia e inovação de todo o país. Em Santa Catarina, destaque para a Fundação Certi, o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), o Instituto Senai de Inovação em Sistemas Embarcados (ISI/Embarcados), e os Laboratórios de Pesquisa em Refrigeração e Termofísica da Universidade Federal de Santa Catarina (POLO/UFSC).

Nesse primeiro contato, as partes precisam verificar a convergência entre as necessidades de inovação da empresa com as competências da unidade credenciada Embrapii. Se houver match, é desenvolvido um projeto de desenvolvimento de inovação, contendo um plano de trabalho que contempla itens como escopo, prazos, custos, sigilo e propriedade intelectual. 

Uma vez que a empresa e a unidade Embrapii estão de acordo com o projeto, é elaborado um contrato, estabelecendo as condições para a sua realização. Estando tudo em ordem, as partes assinam o documento e se inicia a execução do projeto, de acordo com o plano de trabalho que foi previamente acordado. 

De acordo com o site da Embrapii, até agosto de 2021 já foram apoiados 1.300 projetos, envolvendo 910 empresas e representando mais de R$ 1,7 bilhão aplicados em projetos de inovação. Desse montante, 32,7% foram investidos pela Embrapii, 18,3% pelas unidades credenciadas, e 48,9% pelas empresas, sendo um apoio financeiro significativo à inovação realizada de forma aberta. 

Considerando a quantidade total de empresas que podem acessar recursos da Embrapii, nota-se que o potencial desse mecanismo de investimento pode crescer muito mais. É uma oportunidade importante e que hoje ainda tem sido aproveitada por poucos. Para tanto, é necessário principalmente que as médias e grandes empresas iniciem seus trabalhos em inovação aberta, algo fundamental para a garantia da sua sobrevivência e da sua competitividade.

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