O papel das Universidades na Inovação Aberta

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O papel das Universidades na Inovação Aberta

Muitas instituições de ensino superior não modernizaram a sua forma de atuação e nem ampliaram o escopo dos seus programas de extensão

Ainda há muitas instituições de ensino superior que não modernizaram a sua forma de atuação e nem ampliaram o escopo dos seus programas de extensão para maior integração aos ecossistemas de inovação. / Foto: Henrique Almeida (UFSC/divulgação)


[17.08.2021]


Por Marcus Rocha, CEO do 2Grow Habitat de Inovação.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação no SC Inova

É perceptível que as organizações da sociedade atual, públicas ou privadas, consideram a inovação como um componente chave para o desenvolvimento econômico e social. Encontrar soluções inovadoras tornou-se uma missão diária, tanto para o desenvolvimento de novos produtos ou serviços, quanto para a melhoria de questões sociais ou ambientais. A partir da ampla adoção de práticas de inovação aberta, a co-criação vem se tornando algo cada vez mais importante, o que também traz de forma crescente a necessidade intensiva de colaboração entre diferentes atores.

Para que haja uma produção de inovações de forma sustentável, os ecossistemas locais precisam contar fundamentalmente com pessoas capacitadas em diferentes áreas e que trabalhem de forma coletiva e criativa. As Universidades podem ter um papel fundamental nesse sentido, pois são responsáveis pela formação de profissionais altamente especializados, pela promoção do empreendedorismo, e pelos intercâmbios de conhecimento com atores de outras regiões e até mesmo de outros países. 

A partir desse cenário, as empresas passaram a ver as universidades como potencial fonte de novas ideias para produtos, principalmente focando os resultados de pesquisas em novas tecnologias ligadas às áreas como eletrônica, telecomunicações, mecânica, energia, química, bioquímica, materiais, farmacêuticos, etc. No entanto, ainda não são todas as universidades que são vistas dessa forma. 

Ainda há muitas instituições de ensino superior que não modernizaram a sua forma de atuação e nem ampliaram o escopo dos seus programas de extensão para maior integração aos ecossistemas de inovação. Essas universidades permanecem isoladas, tanto aquelas que visam apenas a pesquisa pura e acadêmica quanto as que apenas focam na formação profissional dos seus alunos.

As universidades que têm sido bem sucedidas em realizar parcerias com empresas para a realização de atividades de inovação aberta têm colhido bons frutos. Pesquisadores obtêm recursos para remunerar bolsistas ou estagiários, para manter seus laboratórios com equipamentos atualizados, além de terem espaço para testar suas teorias e conclusões de forma empírica, expandindo seu conhecimento científico. Professores proporcionam mais oportunidades de trabalho para seus estudantes, e as instituições passam a ampliar a transferência de capital humano para as empresas e para a sociedade como um todo.

Apesar de alguns desafios, principalmente relacionados aos diferentes propósitos e cultura de empresas e universidades, há alguns fatores que têm estimulado esse tipo de trabalho conjunto no âmbito da inovação aberta:

  • Ao realizar parcerias com universidades, as empresas podem explorar novas tecnologias e métodos, sem a necessidade de investir em novos funcionários ou em infraestrutura; 
  • Universidades atuam em diversas áreas do conhecimento; especialmente nos campos da engenharia, das ciências exatas, da natureza e da biologia há grupos trabalhando em soluções para desafios importantes que podem ser aproveitados por empresas;
  • Uma empresa pode trabalhar ao mesmo tempo junto a diferentes áreas de pesquisa em uma universidade, permitindo maior agilidade nos esforços de desenvolvimento de novos produtos.
  • Os estudantes que participam de projetos de pesquisa podem constituir um grupo de potenciais futuros empregados que já estejam familiarizados com as tecnologias da empresa, estando disponíveis para contratação no curto prazo;
  • Empresas que buscam pesquisadores ou grupos de pesquisa de referência em determinadas áreas de conhecimento, podem encontrá-los a partir de buscas e bases de artigos científicos, agilizando o processo de busca dos melhores parceiros;
  • Laboratórios de pesquisa de universidades tendem a não representar ameaças competitivas a empresas;
  • Empresas podem trabalhar em parceria com universidades a partir de diferentes formas e canais, formais ou informais.

AS ETAPAS DA INOVAÇÃO EM CONJUNTO COM UNIVERSIDADES

Para uma parceria bem sucedida entre empresa e universidade, é necessário prestar atenção a algumas etapas básicas. Primeiramente, no início dos trabalhos em parceria é necessário realizar a socialização, quando as partes começam a se conhecer mutuamente e trocar os primeiros conhecimentos, o que ocorre a partir de reuniões e eventos informais. Para reduzir atritos e acelerar o processo de construção de confiança, recomenda-se a atuação de um mediador entre empresa e universidade. No Brasil esse papel é frequentemente exercido pelas Instituições de Ciência e Tecnologia (ICT).

Uma vez que a socialização é bem sucedida, os parceiros percebem os benefícios do trabalho em conjunto e conseguem construir um plano de projeto de pesquisa ou desenvolvimento para inovação. Nessa etapa o acordo de parceria deve ser formalizado, tomando-se o cuidado para que não haja excessivas restrições que inibam o trabalho criativo, algo que é fundamental para a produção de inovações.

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A terceira etapa considera a combinação dos novos conhecimentos produzidos com os conhecimentos existentes da empresa. Isso se traduz na forma de novos componentes, técnicas, processos e métodos com potencial de melhorar produtos existentes, ou até mesmo de criar novos produtos. Nesse momento há um potencial conflito de interesses entre a empresa e os pesquisadores da universidade: a primeira (empresa) busca o máximo de confidencialidade para evitar que a concorrência possa copiar as inovações, enquanto os segundos (pesquisadores) buscam dar publicidade aos resultados das pesquisas por meio de trabalhos científicos divulgados em revistas e/ou eventos especializados.

Aqui, novamente, o papel de um mediador é importante para estabelecer uma dinâmica equilibrada, atendendo aos interesses de ambos os parceiros, mas deixando claro que ambos precisarão ser atendidos em alguma medida.

A última etapa de um projeto de inovação entre empresa e universidade é a internalização dos resultados do trabalho realizado em conjunto. Esse é o momento durante o qual os pesquisadores passam a ter acesso a segredos industriais e trabalham em conjunto com os especialistas da empresa, com o objetivo de traduzir o conhecimento científico produzido em inovações que efetivamente aumentem o potencial mercadológico da empresa.

Apesar de hoje as empresas atuarem preferencialmente em parceria com startups, aquelas que atuam em mercado com altos níveis de competitividade e desenvolvimento tecnológico precisam contar com outras frentes de trabalho. Nesses casos, a busca pelo desenvolvimento de inovações que apliquem novos conhecimentos científicos é fundamental para a competitividade desses negócios. 

Para tanto, os ecossistemas de inovação devem fortalecer o papel das universidades, que devem melhorar cada vez mais suas atividades de formação de profissionais com alta qualidade, e exercer de maneira cada vez mais atuante o seu papel de gerador de pesquisas científicas com efetivo valor para a sociedade.

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