A globalização cria redes internacionais, permitindo que lideranças de ecossistemas de inovação de Santa Catarina possam trazer para cá as lições e os conhecimentos de quem está muito à frente. / Foto: Ansar Naib (Unsplash)
[22.11.2022]
Por Marcus Rocha, Conselheiro e Especialista em Ecossistemas e Habitats de Inovação.
Escreve quinzenalmente sobre o tema no SC Inova.
Na semana passada aconteceu em Barcelona o Smart City Expo World Congress 2022, cidade que se tornou referência nesse tema não apenas por sediar o evento, mas principalmente pelas suas boas práticas. Um dos principais locais da cidade que aplicam na prática os conceitos de uma Smart City é o 22@, um distrito de inovação que é destino certo para todos os que visitam Barcelona e que se interessam pelo assunto.
Primeiramente é importante salientar que o estímulo ao empreendedorismo é uma das mais importantes dimensões quando se busca avaliar uma Cidade Inteligente. E é nesse quesito que Barcelona e Santa Catarina se conectam, a partir do modelo de centros de inovação que foram criados no 22@.
Antes de mais nada, vale um breve histórico sobre esse distrito de inovação de Barcelona. Com cerca de 200 hectares, de frente para o Mar Mediterrâneo, a região então chamada de ‘Distrito Industrial 22A’ abrigava uma série de indústrias, que foram implantadas a partir da década de 1860, o que inclusive rendeu à cidade o apelido de “Manchester Catalã”. No entanto, entre as décadas de 1960 e 1990 o território passou a viver um período de obsolescência das indústrias que lá estavam instaladas, com a consequente desocupação e degradação dos seus espaços.
Na década de 1990 se iniciou um movimento de ressignificação daquela área, o que inclusive fez com que o conceito de ocupação do território fosse modificado, trazendo também um nome atualizado, mas com referência ao passado. Surge, assim, o ‘Distrito de Inovação 22@’.
Além da aplicação de boas práticas de urbanismo, com a ocupação mista do território, unindo residências e empresas, o plano de ocupação do 22@ atraiu e organizou também o desenvolvimento econômico, pautado no empreendedorismo inovador. Com isso, passam a se instalar naquela área diferentes clusters de inovação de forma organizada e localizada. Destacam-se os clusters de Mídia, Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) e Tecnologias Biomédicas, e Energia.
Com o passar do tempo, outros clusters também se instalaram na região, com destaque para o de Design. Além disso, também começaram a ser desenvolvidas instalações cujo objetivo é concentrar esforços e serviços para estimular o empreendedorismo inovador, que foram chamadas de ‘centros de inovação’.
O 22@ possui mais de 12 diferentes centros de inovação ou de pesquisa e desenvolvimento (P&D). A partir dos resultados positivos apresentados por essas instalações e sob a liderança do professor Josep Miquel Piqué, criou-se um modelo de referência para a instalação de outros centros similares, não apenas na Espanha, mas em qualquer outro local do mundo.
Em Santa Catarina, a partir de uma parceria que envolveu diferentes atores, com destaque para o Governo do Estado, a Rede Catarinense de Inovação (Recepeti), o Grupo de pesquisa VIA Estação Conhecimento do departamento de Engenharia de Gestão do Conhecimento da UFSC, a Rede de Parques Científicos e Tecnológicos da Catalunha (XPCAT), e o próprio 22@, houve uma transferência de conhecimentos para criar toda uma base de conhecimento para a criação da Rede Catarinense de Centros de Inovação.
Todo esse trabalho se traduz hoje em um material que é referência nacional, o ‘Guia de Desenvolvimento de Ecossistemas e Centros de Inovação‘, e em uma rede que hoje já possui presença em 15 municípios de todo o Estado, considerando centros de inovação construídos tanto pela iniciativa pública quanto pela iniciativa privada.
Ao concentrar os serviços mais importantes para o desenvolvimento de empreendimentos inovadores em grande quantidade e com alta qualidade, gera sinergia e aumenta as chances de sucesso de startups e outros tipos de negócios baseados na inovação. Esses locais também são veículos fundamentais para o desenvolvimento dos ecossistemas locais de inovação, criando ambientes favoráveis para a execução efetiva dos processos de planejamento desenvolvidos por entidades como o Sebrae/SC que já foram realizados em 9 regiões, englobando mais de 17 municípios.
Nota-se, no entanto, uma diferença importante entre os centros de inovação criados no 22@ de Barcelona, e os desenvolvidos aqui em Santa Catarina. Lá, cada cluster criou o seu centro de inovação, especializado em um determinado setor econômico. Aqui, os centros de inovação nascem ‘genéricos’. Considerando que os próprios planejamentos dos ecossistemas locais de inovação prevêem que o desenvolvimento do empreendedorismo inovador precisa se concentrar em setores tecnológicos estratégicos, torna-se necessário um movimento de especialização dos centros de inovação catarinenses, assunto que inclusive já foi tratado nesta coluna.
Outro movimento, mais recente, e que também se originou de um intercâmbio com o 22@ foi o Plano de Desenvolvimento Regional (PDR) do Pacto Floripa, uma iniciativa liderada pela Associação Empresarial de Florianópolis, juntamente com outras entidades empresariais e organizações da sociedade civil da cidade, como uma resposta para a execução prática de ações para a retomada do desenvolvimento econômico local no pós-pandemia da Covid-19.
A partir do PDR do Pacto Floripa estão sendo desenvolvidos 6 Distritos Criativos, nas regiões do Continente, Canasvieiras, Centro, Ingleses, Lagoa, e Sul da Ilha. A metodologia para o planejamento e modelagem desses distritos foi liderada pelo VIA Estação Conhecimento, a partir do compartilhamento dos conhecimentos sobre o 22@ do professor Piqué. O PDR surge a partir da iniciativa do distrito criativo Estreitar, que foi realizado a partir de um trabalho conjunto do autor deste artigo e a professora Clarissa Stefani Teixeira, do VIA.
Percebe-se que o 22@ é também um ecossistema de inovação vibrante, que tem como prática fundamental o compartilhamento de conhecimentos para a geração de inovações. É importante ver que essa é uma característica comum aos ecossistemas, que cria conexões não apenas dentro da sua própria comunidade, mas também fora dela. Com a globalização, isso cria redes internacionais, permitindo que lideranças de ecossistemas de inovação de Santa Catarina possam trazer para cá as lições e os conhecimentos de quem está muito à frente. Que essas conexões se mantenham vivas, e que as ações aqui descritas neste artigo se fortaleçam cada vez mais, para o desenvolvimento cada vez maior do empreendedorismo inovador.
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