Painel no segundo dia do Smart City Expo Curitiba 2023 mostra cases e “playbook” para gestores desenvolverem espaços inovadores nos municípios do país. / Foto: Divulgação SCEC 2023
[CURITIBA, 22.03.2023]
Redação SC Inova, scinova@scinova.com.br
Foz do Iguaçu, cidade paranaense de 260 mil habitantes que recebe mais de quatro vezes sua população devido aos atrativos turísticos e à “economia da tríplice fronteira” (Brasil, Paraguai e Argentina), foi uma das primeiras do país a testar um modelo de experimentação e inovação no ambiente urbano.
A partir de uma lei municipal de inovação e da legislação do Sandbox (que permite ao governo criar ambiente de teste de novas tecnologias – leia mais aqui), a cidade começou a criar em um bairro de 15 mil habitantes uma “mini cidade inteligente” na qual mais de 20 empresas validam soluções inovadoras, como sistemas de identificação facial, sensores para monitoramento ambiental, além de sensores para semáforos que geram informações ao poder público. O projeto começou em 2020, por meio de parceria entre a Itaipu Binacional e a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industral (ABDI), em conjunto com a Prefeitura Municipal.
“Para que projetos como esse vnguem, é preciso pensar na experiência do usuário, ou melhor, do cidadão”, resumiu o secretário de Tecnologia de Foz do Iguaçu, Evandro Ferreira, durante painel no segundo dia do Smart City Expo Curitiba 2023, nesta quinta (23). “Fizemos reuniões com moradores, enfrentaram algumas dificuldades no processo mas conseguimos integrar a tecnologia à comunidade, como um bebedouro inteligente instalado em uma pista de caminhada e um programa de conscientização ambiental para descarte correto de óleo de cozinha”, enumera.
Ainda que o projeto esteja nos primeiros passos, é um exemplo de como a gestão pública buscou o caminho mais indicado para desenvolver a ‘semente’ de uma smart city, que é começar pelo ambiente regulatório. “Este é o maior desafio às cidades inteligentes no Brasil”, reforça Igor Calvet, presidente da ABDI. “O Brasil conta com 5 mil municípios, com características diferentes. A criação dos sandboxes é fundamental para que garantir a governança porque mesmo em cidades que têm muitos atores envolvidos com inovação não há garantia de que os projetos vão avançar. É preciso escolher espaços nos ambientes urbanos para prototipar em menor escala e testar o retorno da população”.
Outros desafios, diz o presidente da ABDI, são a questão burocrática e o teste da tecnologia no dia a dia dos moradores. “Antes de começar, é preciso quebrar as barreiras nos ‘ecossistemas das instituições’, onde há muita burocracia e vaidade, o que pode impedir o resultado final dos projetos. Além disso, os cidadãos precisam ver os resultados das tecnologias aplicadas no dia a dia”, resume.
NOVAS TECNOLOGIAS: JÁ COMBINARAM COM A POPULAÇÃO?
Durante os primeiros dias do Smart City Expo, as tendências tecnológicas estiveram em evidência: do metaverso e dos gêmeos digitais, à inteligência artificial generativa, sistemas de segurança etc. Mas tudo isso chega efetivamente à rotina da população comum? “A maioria das cidades são de pequeno porte, então imagine em um local com 10 mil, 15 mil habitantes, não há afinidade com novas tecnologias. Como comunicar e explicar serviços como ChatGPT, chatbot, metaverso? Temos que traduzir tudo isso com resultados”, reforça Jean Vogel, presidente da Câmara de Smart Cities da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC).
Para ele, a governança começa com a definição de um modelo: para onde a cidade quer se desenvolver? “Se não tiver uma missão definida, cada um vai correr para um lado diferente. Unir a cidade em torno de um propósito ajuda na comunicação do governo com a população”, afirmou, citando o Pacto pela Inovação assinado por dezenas de entidades (públicas, privadas, sociais e acadêmicas) em Santa Catarina em 2017. “Naquele momento, a missão era transformar SC em um dos estados mais inovadores do mundo. E não adianta colocar toda a responsabilidade no poder público. A ideia do Pacto era empoderar todos os atores, sem concentrar as ações no governo”.
Ele citou outras dicas para os gestores públicos interessados no tema: tirar o protagonismo (o “egossistema”) da equação; começar pequeno, agir rápido e expandir; e fortalecer o papel do cidadão para tornar o território melhor e mais competitivo.
No final do ano passado, a FIESC e a Universidade SENAI lançaram um inédito MBI em Smart Cities, que pretende especializar executivos, secretários municipais e profissionais para desenvolver projetos de transformação digital em ambientes urbanos com aplicação prática – a primeira turma começa neste ano e vai oferecer carga de 360 horas, além de imersão em ecossistemas de inovação do Sul do país e em Barcelona, considerada a “capital das smart cities”. A iniciativa tem metodologia da LaSalle, conduzida por Josép Piqué, um dos criadores do Metamodelo usado como base em Santa Catarina.
Como concluiu Igor Calvet, da ABDI: “as cidades inteligentes só funcionam se for um jogo de ganha-ganha, do governo às empresas e os cidadãos. Hoje temos uma caixa de ferramentas muito maior para vencer estes desafios, do sandbox a exemplos em várias cidades”.
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