A Cheesecake Labs nasceu internacional mas quer mostrar – e desenvolver – talentos de Floripa para o mundo

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A Cheesecake Labs nasceu internacional mas quer mostrar – e desenvolver – talentos de Floripa para o mundo

Com diversos clientes nos EUA, startup que desenvolve plataformas digitais espera crescer 80% neste ano e ajuda jovens carentes a aprender linguagem de programação

Com diversos clientes nos EUA, startup que desenvolve plataformas digitais espera crescer 80% neste ano e ajuda jovens carentes a aprender linguagem de programação

Foi a saudade do arroz com feijão que motivou o engenheiro de automação Victor Gomes de Oliveira a trocar, em 2013, o trabalho como programador na Uber, em San Francisco, por Florianópolis. Ao voltar para a ilha, onde tinha se formado alguns anos antes, o reencontro com os amigos de curso gerou uma inquietação: “Florianópolis, e Santa Catarina em geral, sempre um foi um polo de talentos. Mas como pode uma galera tão boa e inteligente, até melhor do que muitos com quem trabalhei lá no Vale, não ter as oportunidades que o pessoal nos EUA consegue?”.

Essa foi a deixa para se juntar a outros três amigos da Engenharia de Automação – Cassio Marcos Goulart, Alex Cordeiro e Marcelo Salloum dos Santos – e começar a desenvolver projetos próprios e inovadores dentro do apartamento que dividiam, no bairro da Agronômica, em Florianópolis. Surgia a Cheesecake Labs: “nos juntamos para construir algumas ideias meio doidas, algo bem despretensioso”, lembra Victor, hoje com 27 anos. Com uma boa rede de relacionamento no Vale do Silício, ele começou a receber pedidos de amigos dos Estados Unidos para desenvolver aplicativos e sites e assim surgiram os primeiros clientes.

Mas desenvolver projetos de terceiros não era o que motivava a equipe, que começou então a propor um novo modelo de trabalho, em que não só faziam a programação (como faz uma software house tradicional) mas também participavam de todo o plano de ação do produto. “Começamos a participar como sócios dos projetos e isso gerava um grande engajamento com os clientes. Eles gostavam, diziam que o nosso trabalho era diferente e traziam outros clientes”, comenta.

E foi nessa pegada de desenvolver um produto em sociedade com o cliente que a Cheesecake Labs foi se estabelecendo em Florianópolis, mas atendendo principalmente empresas da Califórnia. “As empresas de lá tem uma demanda absurda de desenvolvedores e o nosso foco começou aí, o Brasil pode ajudar a resolver esses problemas porque tem muita gente capacitada também”.

No primeiro passo, os clientes eram empreendedores em busca de suporte para projetos – um deles era Carter Maslam, responsável por soluções como Google Maps e Google Places e que trabalhou diretamente com Larry Page, um dos fundadores da empresa que hoje é a mais valiosa do mundo. Depois vieram startups e PMEs, até chegar a grandes empresas. “Fomos adaptando esses mecanismos de bonificação com o grau de maturidade dos nossos parceiros. Para alguns, que são maiores e têm ação em bolsa de valores, por exemplo, não faz sentido fazermos plano de ação – nosso indicador é a nota do app na loja, o número de uptime no servidor… a gente vai destrinchando esses indicadores e acompanhando o desempenho dos projetos”, resume Victor.

“Nossa visão é aproximar talentos globais fomentando a inovação e reduzindo vários tipos de desigualdades: social, a tecnológica, econômica e especialmente a desigualdade de reconhecimento dos programadores brasileiros”, diz o cofundador e CEO Victor Oliveira

Entre os clientes estão a Women’s March, um movimento global que defende o direito das mulheres e a igualdade de gênero e oportunidades, a Singularity University, comunidade internacional de educação e desenvolvimento de soluções inovadoras e exponenciais, além de grandes empresas brasileiras como Intelbras e Portobello. Para a Women’s March, por exemplo, a empresa desenvolve a plataforma de suporte e ambiente de desenvolvimento de projetos. Para a Singularity, criaram a infraestrutura global que reúne participantes de vários países, eventos e sites dos capítulos que representam a universidade.

Ao todo, a Cheesecake trabalha atualmente em 20 projetos e conta com uma equipe de 53 pessoas, em sede ao lado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A perspectiva é crescer 80% em 2018 (no ano passado a expansão foi de 100%) e chegar a 70 colaboradores. Como explica Victor: “o maior desafio é a demanda por pessoas, também porque buscamos trazer pessoas e manter a nossa cultura, nossos valores. Isso porque nossa visão é aproximar talentos globais fomentando a inovação e reduzindo vários tipos de desigualdades: a social, levando projetos à comunidade; a tecnológica e econômica, trazendo ferramentas e dólares pro país, e especialmente a desigualdade de reconhecimento, mostrando pro mundo a capacidade dos desenvolvedores brasileiros – criamos o Elixir, que é uma das linguagens que mais crescem em utilização hoje”. [nota do editor: o Elixir foi desenvolvido por José Valim, CEO da Performatech]. 

Curso Mão na Massa, iniciativa da Chessecake Labs com apoio de IFSC, CDISC e incubadora Celta, ensinou a 25 jovens de baixa renda linguagens de programação. / Foto: Divulgação

MÃO NA MASSA: CURSO CAPACITA JOVENS CARENTES EM LINGUAGENS DE PROGRAMAÇÃO 

No início de 2017, a Cheesecake deu início ao “Mão na Massa”, um curso para ensinar linguagem de programação a jovens carentes entre 14 e 20 anos, desenvolvido em parceria com o Comitê para Democratização da Informática de Santa Catarina (CDISC) e a incubadora Celta, mantida pela Fundação Certi. “Sentimos que faltava esse apoio na nossa comunidade local. Fomos conversar com o CDISC e o Celta, eles nos apoiaram e fizemos o primeiro curso lá na incubadora. Não é só um curso técnico, tem um caráter empreendedor, pois a ideia é que os jovens também desenvolvam aplicativos com foco em suas comunidades”.

Nas primeiras duas turmas, as aulas foram de programação para linguagem Android e, na nova turma (que reúne três grupos de 16 alunos e acontece no Instituto Federal de Santa Catarina), o foco é desenvolvimento web. Os próprios alunos escolhem, ao final de cada semestre, o que será ensinado no próximo – eles também recebem alimentação e transporte. A iniciativa já formou 25 alunos que desenvolveram cinco aplicativos: o “My Service”, que auxilia as pessoas a procurarem ou oferecer um serviço; o “What is in it?”, que mostra como a comida é feita e ajuda aqueles que têm alguma restrição alimentar; “Sair Agora”, que indica a programação das festas na cidade; o “Olhar Horizontal”, um app onde voluntários e ONGs podem se cadastrar; e o “ Onde Tem” que disponibiliza o acesso e a divulgação de cursos gratuitos em Florianópolis e já está disponível na Play Store.

Nossa visão de futuro passa também pelo impacto social. Queremos atingir 1 bilhão de pessoas até 2021. Parece muito, mas por meio das plataformas e aplicativos que desenvolvemos hoje, temos, atingimos 10 milhões de pessoas por quadrimestre – por isso, buscamos trabalhar com empresas que tenham um potencial de impacto global. Nosso objetivo é ser a melhor empresa de desenvolvimento de plataformas digitais do mundo”, resume o CEO.

Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br