Vertical Varejo quer conectar lojistas e startups para desenvolver em SC soluções e tecnologias para o futuro do setor

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Vertical Varejo quer conectar lojistas e startups para desenvolver em SC soluções e tecnologias para o futuro do setor

Novo grupo setorial criado na Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) tem patrocínio da Almeida Junior, que gerencia seis shoppings em SC, e pretende colocar o estado na vanguarda da inovação do varejo brasileiro

Novo grupo setorial criado na Associação Catarinense de Tecnologia (Acate) tem patrocínio da Almeida Junior, que gerencia seis shoppings em SC, e pretende colocar o estado na vanguarda da inovação do varejo brasileiro. Foto: Divulgação Garten Shopping Joinville

 

“No varejo, a inércia é fracasso certo”, disse certa vez o megainvestidor norte-americano Warren Buffett, quando alertava sobre as profundas mudanças no segmento que é o maior gerador de empregos do mundo. Em 2017, o varejo nos Estados Unidos registrou um aumento de 4% nas vendas ao mesmo tempo em que bateu o recorde de fechamento de lojas físicas – foram quase 7 mil estabelecimentos que deixaram de abrir as portas em definitivo a partir daquele ano.

A explicação para este paradoxo está no “Apocalipse do Varejo”, termo criado nos EUA para entender o fenômeno do “new retail” (novo varejo) capitaneado pelo avanço colossal da China, o comportamento cada vez mais digital do consumidor, as tecnologias emergentes e novos reis do pedaço, em especial Amazon e AliBaba.  

Esta mudança radical no setor motivou, em Santa Catarina, a criação da Vertical Varejo, iniciativa capitaneada pela Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) em conjunto com a Almeida Júnior, companhia que administra seis shoppings centers no estado (em cidades como Joinville, Blumenau, Balneário Camboriú, São José e Criciúma) e detém 70% da fatia deste mercado.

“O varejo está mudando de maneira muito, muito acelerada e queremos entender, em conjunto, as dores desse segmento e encontrar soluções para tornar o mercado catarinense uma referência em inovação dentro e fora do país”, resume Monique Campos, superintendente corporativa de Marketing do Almeida Junior. Em 2016, a empresa iniciou um programa chamado AJ Labs, para se conectar com startups e internalizar a cultura de inovação e desenvolvimento de novas tecnologias para o varejo.  

Esta é a 13a. Vertical de Negócios da Acate, que criou este modelo que estimula a cooperação entre os empreendedores há 10 anos e atua também nos segmentos de Educação, Agronegócios, Saúde, Games, Manufatura, Energia, Segurança, Internet das Coisas, Fintechs, Construtechs, Governança e Sustentabilidade, além de Conectividade e Cloud. No lançamento, no dia 19 de fevereiro, estavam presentes cerca de 90 participantes, entre eles fundadores de startups, representantes de grandes redes de varejo, shoppings, supermercados e entidades como Associação Comercial e Câmara de Dirigentes Lojistas da capital catarinense.

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“Nós já sentíamos a demanda de empresários do setor, mas não tínhamos conseguido organizar até então um movimento mais articulado para fomentar a cooperação. A partir de agora, a Vertical Varejo será um ponto para atender as demandas comuns, pensar em soluções ao setor e promover também o desenvolvimento de lideranças”, resume Luiza Stein, coordenadora do programa de Verticais da Acate.

Entre as atividades previstas deste grupo estão reuniões temáticas, meetups, além da perspectiva de parcerias, acordos de cooperação com entidades e participação em feiras setoriais e rodadas de negócio. O próximo encontro será realizado no dia 19 de março, na sede da entidade, em Florianópolis.

 

EM SC, TECHS DO VAREJO CRESCEM

O setor de varejo não é um elemento estranho no ecossistema de tecnologia de Santa Catarina. Há várias startups que atuam diretamente no mercado e são referência nacional. É o caso da Hiper, de Brusque, que desenvolve um software para gestão de lojas com foco nos pequenos negócios. Em sete anos de atividade, já soma mais de 15 mil clientes em 2 mil municípios do país. A Involves, fundada há 10 anos em Florianópolis, criou uma plataforma de gestão para o ponto de venda (PDV) utilizada por grandes marcas como L’Oreal, Motorola, Danone e RedBull e já está presente em 17 países – só em 2018, cresceu 50% e alcançou faturamento de R$ 27 milhões.

Para o consultor Carlos Zilli, “nosso desafio é saber o que acontece na China, que é a principal referência no varejo hoje”. / Foto: SC Inova

Um pouco mais jovem, a Smarket Solutions, também de Florianópolis, surgiu a partir de um sistema pensado pela administradora Marcela Graziano para ajudar varejistas a automatizar a produção de tablóides promocionais e a oferta de produtos a partir do input de dados. Até o ano passado, a startup atendia clientes de grande porte em cinco estados do país.

Estima-se que o Brasil conte hoje com 200 startups desenvolvendo soluções para o varejo, o que é muito pouco em função do tamanho do mercado e do enorme potencial que temos aqui no país”, afirma Carlos Zilli, ex-executivo de grandes empresas (Hering, Shell e Makro) e que atualmente atua como conselheiro e consultor, além de investidor tanto no mercado de varejo quanto no de tecnologia. Também é um dos sócios da Disruptiva, startup fundada em 2014 em Florianópolis que fornece consultoria virtual para gestão de vendas, compras, estoque e clientes de redes de franquia varejo.

“O nosso desafio aqui é saber o que acontece na China, que é a principal referência no mundo hoje. Eles crescem exponencialmente e o recado que eles passam é o da colaboração. Se comparar o varejo do Brasil com o da China em 25 anos, nós não mudamos muita coisa e eles mudaram tudo”, enfatizou Zilli, durante apresentação na Acate.

“O mais difícil”, resume, “é encontrar líderes capazes de entender a transformação digital”.

 

APOSTANDO EM IDEIAS

Foi justamente para tentar compreender o tal movimento de “transformação digital” que já estava virando de ponta-cabeças o varejo mundial que a Almeida Junior criou, em 2017, um programa de inovação chamado AJ Labs, integrando equipes de marketing e tecnologia. A intenção era buscar, a partir de demandas dos lojistas – e dos consumidores que circulavam nos shoppings da rede – novos serviços e tecnologias para serem desenvolvidas, internamente ou a partir do relacionamento com startups.

“Aprendemos, nessas iniciativas de inovação, que nada nasce pronto, tudo está em constante desenvolvimento”, diz Monique Campos, superintendente corporativa de Marketing do Almeida Junior.

Uma das primeiras ideias que surgiram e na qual a empresa apostou foi em uma plataforma que fazia a gestão de reviews, comentários positivos ou negativos que consumidores deixavam nas mais diversas redes sociais e sites de referência (de Facebook a TripAdvisor, Booking, Decolar, entre outros tantos). Foi assim que a startup Reviewr, fundada poucos meses antes pelo empreendedor Santiago Edo e que ainda não tinha um produto pronto, fechou seu primeiro cliente. A partir do protótipo que rodou no Continente Park Shopping, em São José, a empresa foi desenvolvendo seu sistema e hoje conta com mais de 30 clientes e um faturamento médio mensal em torno de R$ 90 mil.

Outra iniciativa que surgiu a partir do AJ Labs é a plataforma Shop Promo, que centraliza em um aplicativo promoções e ofertas de diferentes lojas de um mesmo shopping center e permite ao cliente fazer a reserva do produto. “É um embrião para futuras aplicações, como efetuar pagamentos por meio da plataforma. Nesse primeiro momento estamos analisando e implementando, entendendo por meio de dados e taxas de conversão o que atrai o cliente. Aprendemos, nessas iniciativas de inovação, que nada nasce pronto, tudo está em constante desenvolvimento”, ressalta Monique.

Segundo ela, a aposta em um modelo de vertical de negócios – em que, em tese, poderão ter a companhia de concorrentes diretos ou indiretos – é uma forma de “estimular a disrupção” na empresa mas também em todo o setor no estado.  “Vamos colocar todos na mesma mesa, shopping centers, varejistas, startups… Santa Catarina já é muito desenvolvida nesse modelo e certamente iremos descobrir muitos projetos, para problemas que já temos e outros que ainda nem identificamos”, resume.

 

Reportagem: Fabrício Rodrigues, editor SC Inova – scinova@scinova.com.br

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