Uma nova visão para educar, trabalhar e viver: as provocações lançadas no ExpoInovação

Voce está em :Home-Joinville, Sociedade-Uma nova visão para educar, trabalhar e viver: as provocações lançadas no ExpoInovação

Uma nova visão para educar, trabalhar e viver: as provocações lançadas no ExpoInovação

Mais do que tecnologia, uma das grandes preocupações do evento realizado em Joinville foi com o desenvolvimento de uma mentalidade inovadora na educação, nos negócios e no desenvolvimento social / Fotos: Luciano Dias

Mais do que tecnologia, uma das grandes preocupações do evento realizado em Joinville foi com o desenvolvimento de uma mentalidade inovadora na educação, nos negócios e no desenvolvimento social / Fotos: Luciano Dias

Durante três dias, a inovação esteve no centro dos debates entre empreendedores, profissionais, gestores públicos, alunos e professores em Joinville. Pela sexta vez consecutiva, a cidade sediou o ExpoInovação, iniciativa do Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia (Comciti) em conjunto com a Softville e a Prefeitura de Joinville. Entre os dias 14 e 16 de agosto, os cerca de 500 lugares do teatro Juarez Machado ficaram lotados para receber uma programação que abordou temas como o futuro do trabalho, a criação de organizações exponenciais, o desenvolvimento de comunidades em torno da economia criativa e os desafios da cidade para os próximos anos, entre vários outros temas.

Um dos principais recados do evento é que inovação não é apenas tecnologia. Ela é um meio para alcançar a inovação, que por sua vez é um meio para alcançarmos um propósito” resume Daniel Wendorf, consultor técnico da Softville e presidente do Núcleo de Inovação da Associação Comercial e Industrial de Joinville (ACIJ), que participou da comissão organizadora do evento. Mais do que qualquer tendência tecnológica, uma das grandes preocupações do ExpoInovação foi com o desenvolvimento de uma mentalidade inovadora na educação e no desenvolvimento social, como esteve em destaque em dois eventos paralelos, o Education Talks e o Fórum de Inovação Social.

O Education Talks surgiu de uma ideia e um desafio dado para as grandes instituições de ensino de Joinville”, explica Daniel. “O conceito foi simples: juntar todas as instituições para trabalhar de forma colaborativa na capacitação dos professores, do ensino básico ao superior. Assim, identificamos e reunimos os professores que tenham trabalhos na área de inovação para a educação, pedimos para eles tirarem a camisa da instituição e trabalharem de forma colaborativa para entregar conteúdo de qualidade falando sobre como inovar nessa área. O desafio foi aceito e cumprido com maestria”.

Como lembra o diretor executivo da Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável, Fabiano Dell’ Agnolo, Joinville lidera o ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do país, mas isso não é o suficiente para encarar as mudanças pelas quais as sociedades, cidades e economias passam. “Ser o primeiro no Brasil não adianta, pois poderemos ser ‘patrolados’ por outras regiões do mundo. Em termos de cidades inteligentes e humanas, estamos muito aquém e é preciso remar muito para chegarmos a níveis decentes. Mesmo se o governo fizer tudo certinho, é apenas uma parte do processo”, comenta o diretor.

Hoje, várias iniciativas para repensar a cidade estão concentradas no Join.Valle – que deixou de ser um programa de governo para ser um think tank da nova economia gerido por lideranças multissetoriais para conectar projetos empreendedores, capital financeiro, conhecimento, mercado e networking – e no Jlle30, um “braço” do Join.Valle que tem como objetivo desenvolver aspectos humanos (qualidade de vida e bem-estar) junto com a comunidade em paralelo às ações de inovação e tecnologia.

Desde o ExpoInovação do ano passado, quando promoveu oficinas com líderes de bairros e entidades sociais, o Jlle30 vem ouvindo a população para entender as necessidades, com foco em novos projetos e também na revisão do Plano Diretor. “É um reconhecimento do passado junto a uma visão de futuro”, resume Fabiano.

O FUTURO DO TRABALHO E A INDÚSTRIA 4.0

Essa preocupação faz muito sentido na cidade porque, há alguns anos, o poder público municipal lançou um projeto para atualizar a matriz econômica local. O avanço da indústria 4.0, da internet das coisas e a tendência de desconstrução do mercado automobilístico poderiam custar milhares de empregos e tornar obsoleta a economia da maior cidade catarinense, que sempre se orgulhou das gerações empreendedoras e de várias indústrias que se tornaram multinacionais.

“O caminho para a inovação é se abrir para o mundo”, instiga Fernando Seabra, líder do Grupo de Relacionamento com Investidores da FIESP. Foto: Luciano Dias.

Para o pesquisador e professor Celson Pantoja, a dinâmica da indústria 4.0 e o futuro do trabalho vai exigir praticamente uma revolução no modelo mental da educação: “A inteligência artificial e cognitiva é um dos grandes desafios hoje, pois em breve os sistemas terão muito mais conhecimento do que nós. Por isso, temos que ensinar coisas únicas, desenvolver lideranças, treinar as pessoas para estarem em outro patamar“. Mas há também outros aspectos positivos: “As revoluções tecnológicas acabam com muitos empregos, mas não se prevê quais serão criados. Há 10 anos ninguém previa uma série de ocupações que existem hoje, como especialista de computação em nuvem, gerente de redes sociais, desenvolvedor de aplicativos mobile, engenheiro de carro autônomo”, comentou durante painel no ExpoInovação.

O caminho para a inovação é se abrir para o mundo, ver o que está sendo feito, mais pelos pequenos do que pelos grandes. Implementar a cultura do que já foi lançado está fadado à obsolescência no dia de sua criação. Como ser grande com a agilidade dos pequenos, desenvolver processo lean em todas as etapas, pensar com cabeça de pequeno sem recursos não importa qual o seu tamanho”, foi o recado deixado por Fernando Seabra, líder do Grupo de Relacionamento com Investidores da FIESP, investidor-anjo e mentor do Founders Institute, que palestrou no segundo dia do evento.

PRÊMIO INOVAÇÃO RECONHECE PROJETOS DA ACADEMIA, COMUNIDADE E EMPRESAS

Vencedores do Prêmio de Inovação de Joinville, que recebeu 50 projetos neste ano. / Foto: Luciano Dias

O ExpoInovação surgiu em 2013 com o objetivo de promover debates mas também apresentar projetos feitos nas universidades e institutos locais. Foi como nasceu o Prêmio de Inovação de Joinville, iniciativa do Comciti para incentivar a produção científica, tecnológica e a inovação entre os 26 municípios filiados à Associação de Municípios do Norte Catarinense (Amunesc). Neste ano, foram inscritos 50 projetos, 10% a mais do que em 2017, nas categorias Academia, Comunidade e Empresas.

Os vencedores na temática livre foram, respectivamente, os projetos “Fatores Genéticos Associados ao Risco do AVC”,  “Inova Mais Indústria” e “Nat.Genius — Desenvolvimento de Nova Linha para Moagem de Termoplásticos”. No tema Cidades Humanas, Inteligentes e Sustentáveis, venceram os projetos “E-Light SC”, “Meu Menu Orgânico” e “Aurora Experiências Virtuais”. O edital para participação no próximo ano estará disponível a partir de 01/09 no site www.comciti.com.br/premio.

Quando a sétima edição da ExpoInovação começar, em 2019, Joinville espera ter um ecossistema ainda mais fortalecido, com o crescimento orgânico das startups locais, uma maior interação entre a comunidade empresarial e acadêmica e o novo parque tecnológico, o Ágora Tech Park, em pleno funcionamento – a previsão é de conclusão das obras em março que vem.

Temos o desafio de se consolidar como o melhor evento de inovação do Sul do Brasil”, antecipa Daniel. “Também vamos aumentar o número de eventos paralelos com temas específicos, como por exemplo saúde/biotecnologia e cidades humanas e inteligentes. Muitas oportunidades de negócios foram geradas ao longo do evento, então fortalecer esse networking também será um das nossas metas. Queremos receber em Joinville a comunidade inovadora de todo Brasil”.

Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br