A tecnologia que ajudou Florianópolis a se tornar um centro de desenvolvimento para agricultura de precisão

Voce está em :Home-Inovadores-A tecnologia que ajudou Florianópolis a se tornar um centro de desenvolvimento para agricultura de precisão

A tecnologia que ajudou Florianópolis a se tornar um centro de desenvolvimento para agricultura de precisão

Fundador da Arvus e hoje CEO da Hexagon Agriculture, Bernardo de Castro conta como a multinacional sueca centralizou em SC a área de P&D da unidade

Fundador da Arvus e hoje CEO da Hexagon Agriculture, Bernardo de Castro conta como a multinacional sueca centralizou em SC a área de P&D da unidade

Há cerca de 15 anos, o desenvolvimento de uma solução inovadora voltada para o agronegócio marcou o surgimento de uma das primeiras empresas de base tecnológica para este mercado em Santa Catarina: a Arvus, fundada em 2004 pelos engenheiros de automação e sócios Bernardo de Castro, Gustavo Raposo e Adriano Naspolini em Florianópolis. Eles haviam desenvolvido um controlador eletrônico que, instalado em tratores e implementos agrícolas, fornecia a dosagem exata de fertilizante a ser aplicada no solo – a técnica comum até então era a de aplicação contínua do produto.

Ao longo de 10 anos, a empresa, capitalizada com rodadas de investimento do fundo Criatec (BNDES), se consolidou no mercado nacional ao criar sistemas para agricultura de precisão, especificamente para colheita de grãos, florestas e cultivo de cana de açúcar. Tinha clientes no Cone Sul (Argentina, Uruguai e Paraguai) e começava a abrir espaço em outros mercados internacionais, até ser adquirida pelo grupo sueco Hexagon, em maio de 2014, com atuação em diversas áreas da indústria (sistemas geoespaciais, agricultura, mineração, entre outras).

“Fomos a primeira empresa brasileira a desenvolver sistemas embarcados para agricultura”, lembra Bernardo de Castro, 38 anos. Mineiro de Uberlândia, ele e o então sócio começaram a desenvolver o sistema a partir de uma oportunidade sugerida pelo tio de Bernardo, gerente de uma propriedade agrícola em Goiás. Em meados da década passada, o real desvalorizado frente ao dólar tornava a solução nacional – desenvolvida com recursos próprios e o apoio de bolsas de pesquisa muito mais competitiva para os produtores rurais. Mas uma crise no agronegócio anos depois colocou um ponto de interrogação no futuro da empresa, lembra Bernardo.

Em 2009 dois aportes do fundo Criatec, no valor de R$ 3,5 milhões, serviram como impulso para a Arvus focar no desenvolvimento do produto e na expansão comercial. “O mercado de agricultura de precisão deu uma amadurecida naquela época. Os produtos que até então eram caros ganharam escala, já havia distribuidores locais fortes e o sentimos que nossa solução começava a ficar para trás”.  

LEIA TAMBÉM: Como as agrotechs estão levando tecnologia para o campo em Santa Catarina

Começou então o ciclo de expansão da agrotech: em 2013 a Arvus figurava em oitavo lugar no ranking Deloitte/Exame PME das pequenas e médias empresas brasileiras que mais cresceram no último triênio. O caminho que se desenhava era um novo round de investimento, com negociações bem avançadas.

Até que entrou um competidor global na história: a Hexagon, que também era fornecedora dos sistemas de GPS usados pela Arvus, e costurava uma série de aquisições que resultaria na divisão de Agricultura – hoje presidida justamente por Bernardo. Outro fundador, Adriano Naspolini, se mantém na empresa como diretor de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), Gustavo Raposo, por sua vez, permaneceu até meados de 2016 e hoje atua como investidor anjo. “O cenário econômico estava muito indefinido em 2014, quando decidimos vender a empresa para a Hexagon, que também era uma ameaça forte para a Arvus naquele momento”, lembra o empreendedor.

“A história da Arvus foi bem representativa para as startups de agronegócio no Brasil”, comenta Bernardo, que hoje comanda, de Florianópolis, a unidade global da Hexagon Agriculture. / Foto: Hexagon Agriculture (Divulgação)

A Hexagon tinha recém adquirido a Leica Geosystems, com base na Suíça, que atuava com agricultura de precisão e tinha clientes na Europa e Austrália. Depois veio a comprar também a Ilab Sistemas, de Ribeirão Preto (SP), com forte presença no setor sucroenergético (cana de açúcar). As três empresas então formaram a unidade de Agricultura do grupo sueco, que decidiu centralizar em Florianópolis a área de pesquisa e desenvolvimento global. “Absorvemos boa parte da tecnologia da Leica para a equipe em Santa Catarina”, explica Bernardo. 

Na sede da Hexagon Agriculture, às margens da rodovia SC-401, em Santo Antônio de Lisboa, trabalham cerca de 70 pessoas de setores como pesquisa e desenvolvimento, comercial, financeiro e administrativo e manufatura dos equipamentos. Há também equipes nas filiais de Ribeirão Preto e Madrid, onde ficou o legado das operações da Leica na Europa, somando cerca de 150 colaboradores. “Somos a menor das divisões da Hexagon, por sermos também a mais recente, mas também a que mais cresce organicamente entre todas”, diz o CEO.

E acredita que o futuro de muitas startups do setor de agro passa também pelas demandas de grandes grupos interessados em aquisições: “a realidade deste mercado é que há muitas novas empresas que, por falta de braço operacional, desenvolvem soluções muito específicas, como recomendação para sementes de milho em uma determinada região produtora – isso não é muito abrangente. Por outro lado, há grandes players do setor químico, de sementes e logística que estão apostando em programas de corporate venture. Pelo tamanho, essas companhias são o braço que faltam às startups”, explica.

Enquanto o outro fundador da Arvus, Gustavo, ficou até meados de 2016 na direção comercial do novo grupo, Bernardo acredita que o ciclo ainda não acabou. “A história da Arvus foi bem representativa para as startups de agronegócio no Brasil: nós identificamos um problema, desenvolvemos uma solução, fomos investidos, crescemos e depois adquiridos. Esse ciclo sim fechou. Mas eu particularmente tenho um desafio e uma motivação para ver essa solução que criamos ter uma abrangência global, ser dominante no mercado. Tem muita coisa para desenvolver ainda no mercado brasileiro e é isso que me motiva”, resume.