Startups: quais os principais problemas de contabilidade que podem dificultar a captação de recursos

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Startups: quais os principais problemas de contabilidade que podem dificultar a captação de recursos

A gestão contábil pode até não influenciar no valor de mercado da empresa, mas pode atrapalhar ou até ser um impedimento para o deal.

Em fases iniciais (early stage), a gestão contábil pode até não ajudar na análise do valor de mercado da empresa, mas se ela não “espelhar a realidade” pode atrapalhar ou até ser um impedimento para o deal. / Imagem: Scott Graham, Unsplash


[29.07.2022]


Por Ismael Rogério da Silva, empreendedor contábil e investidor-anjo 

O mercado de startups passa por um período de turbulência, que aponta para a necessidade de amadurecimento na governança, algo fundamental para quem vai buscar capital de risco em um período de desconfiança pelo resultado de alguns unicórnios Brasil e mundo afora.

O cenário, contudo, segue amadurecendo e s investidores e fundos estão cada vez mais exigentes na hora de avaliar as empresas. Além de indicadores básicos – tamanho do mercado, modelo de negócio, sinergia e background dos sócios – as startups que estão bem estruturadas na questão contábil e financeira, o caminho para captar recursos pode ser menos doloroso e muito mais promissor no médio e longo prazo.

E não se trata apenas do tempo para uma due dilligence (auditoria feita antes do investimento), mas também do valuation da empresa ao longo de seu desenvolvimento.

Na prática, porém, a realidade é outra. A grande maioria das startups não conta com uma estrutura de governança adequada à sua maturidade de negócio e tampouco têm orientação necessária a respeito. O que se vê são muitos negócios promissores no produto/serviço, modelo de negócio e proposta de valor, mas ainda “capengas” na questão financeira e contábil.

Exemplificando, muitas startups pecam em rotinas básicas, como remuneração dos sócios, regime de caixa (entradas e saídas) e pagamento de freelancers, modelo de prestação de serviço muito comum em empresas nascentes que ainda não têm condições de contratar funcionários. É fundamental que a contabilidade “espelhe a realidade” da empresa, de forma a facilitar a tomada de decisão seja dos gestores ou de futuros investidores.

Neste artigo, destacamos alguns dos problemas contábeis mais comuns na governança de startups e que impactam negativamente processos como gestão e atração de investidores ou outras fontes de financiamento. 

1. REMUNERAÇÃO DE SÓCIOS

Um erro comum nas empresas que recebem um investimento early stage (seja de um anjo ou de aceleradoras) é a forma de remunerar os sócios. Há duas maneiras de fazer isso corretamente: como retirada de pró-labore ou como distribuição de lucros. No pró-labore há encargos de INSS e IR, mais INSS patronal, dependendo do regime tributário. A distribuição de lucros atualmente é isenta de imposto, mas isso pode mudar de acordo com a votação da reforma tributária em debate no Congresso. 

Em geral, o que acontece? Um exemplo: muitas vezes a empresa recebe um investimento inicial (digamos, R$ 150 mil) e o sócio faz uma transferência de lucros em torno de R$ 5 mil para sua conta pessoal achando que está tudo certo. Esse recurso, porém, foi captado para alinhar seu MVP (produto mínimo viável, ou protótipo) ou para suprir alguma demanda de outra área da empresa, que nesta fase mal tem faturamento.  Consequentemente, se não há lucro, essa remuneração deve ser registrada como pró-labore. 

Se o empreendedor não recebe a devida orientação ele acaba gerando uma contingência, ou seja, tecnicamente é como se a empresa, que não lucra, estivesse emprestando o dinheiro ao sócio, inflando a conta no balanço contábil. Essa é uma orientação fundamental especialmente nesta fase da startup. E isso pode se tornar uma bola de neve, dependendo do valor, atrapalhando o próximo passo na captação de investimentos. 

2. LANÇAMENTO DO INVESTIMENTO ANJO COMO EMPRÉSTIMO

Outro problema contábil bastante comum: lançar o recurso do investimento anjo na modalidade mútuo conversível junto com outros empréstimos. Isso atrapalha bastante a análise do balancete, inclusive para os bancos. Hoje é uma prática mais difundida e os analistas bancários já entendem que é um tipo de empréstimo do investidor diferente daquele feito pelos bancos. 

Para fins de análise, é considerado esse valor somado ao PL e entra na capitalização futuramente, para análises de valuation. É fundamental separar o mútuo conversível em contas separadas.   

3. SALDO DE CAIXA 

Por diversas vezes encontramos saldo de caixa superavaliados em função, geralmente, de saques não identificados ou pagamentos sem respaldo legal, ou ainda, saldo remanescentes de integralização de capital que não espelhou a realidade. A sugestão é tratar essa rubrica da maneira correta, ou seja, espelhando o eventual saldo de caixa físico das empresas (o que é cada vez mais incomum, especialmente em empresas de TI). 

4. PAGAMENTO A FREELANCERS  

A remuneração a profissionais temporários (freelancers) sem a devida orientação para que apresentem contratos e documentação hábil, podem inflar o saldo de caixa ou o adiantamento a fornecedores (já que não há nenhum documento hábil para fazer o lançamento).

Pior ainda, lançam como se fosse uma entrada no caixa, em espécie, como se tivesse saindo do banco e entrando no caixa. No momento de ajustar a governança, de fazer a due dilligence, é um problema crítico, dependendo do volume, pois como citamos no começo não reflete a realidade da empresa. 

5. REGIME DE CAIXA (ENTRADAS E SAÍDAS)

Muitas vezes a contabilidade lançada pelo regime de caixa, não evidenciando corretamente o resultado da empresa, faz com que não se tenha uma noção correta do resultado. Além de não ter embasamento legal, distorce completamente o resultado da empresa e gera problemas tanto gerenciais como de planejamento tributário, prejudicando diretamente a negociação de um deal


EM RESUMO
: por mais que a complexidade tributária do país seja um desafio a negócios de todos os portes, hoje em dia temos uma série de serviços e de tecnologias acessíveis, tanto em termos de preço quanto de usabilidade, que permitem manter uma boa governança e uma gestão financeira saudáveis, sem engessar ou atrapalhar o core business da empresa.

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