Para o diretor internacional da Fira de Barcelona, Ricard Zapatero, responsável pelo evento mundo afora, o desafio das cidades brasileiras que querem ser inteligentes é a inclusão social. / Foto: Divulgação SCECWB 2025
[CURITIBA, 26.03.2025]
Por Fabrício Umpierres, editor SC Inova – direto do Smart City Expo CWB 2025
O Diretor Internacional da Fira de Barcelona, Ricard Zapatero falou com exclusividade ao SC Inova durante o Smart City Expo Curitiba 2025. Para ele, o Brasil — e especialmente a capital paranaense — ocupa um papel de destaque no cenário global de cidades inteligentes. Zapatero também comentou os desafios da América Latina e a importância dos ecossistemas de inovação para o desenvolvimento urbano sustentável.
O evento, que começou nesta terça (25), encerra na quinta (27) e já reuniu mais de 22 mil pessoas na Ligga Arena.
SC Inova — Como você enxerga o desenvolvimento do Brasil, especialmente a partir do evento realizado em Curitiba, no contexto das smart cities?
Ricard Zapatero — O Brasil é um país de mais de 200 milhões de habitantes e está passando por um processo intenso de urbanização. Nos próximos anos, 70% a 80% da população mundial estará vivendo em cidades. Isso nos leva à necessidade urgente de melhorar a gestão urbana e usar tecnologias para oferecer mais qualidade de vida aos cidadãos. Sustentabilidade e inovação são fundamentais para isso.
Curitiba, nesse cenário, está jogando na Champions League. É uma das cidades mais premiadas do mundo em projetos de cidades inteligentes. Em 2023, foi reconhecida em Barcelona como a cidade com o melhor projeto de smart city — o que mostra como está na vanguarda desse movimento.
SC Inova — Quais são os principais desafios para os países da América Latina nesse contexto?
Zapatero — Um dos grandes desafios da América Latina é garantir que ninguém fique para trás no processo de transformação digital. A inclusão social é uma preocupação muito presente nos governos da região. É essencial que todos tenham acesso à internet de qualidade, que possam se comunicar com os serviços públicos de forma digital, que consigam realizar suas tarefas e se integrar plenamente à vida urbana por meio da tecnologia. Essa sensibilidade para com a inclusão é um diferencial muito importante da América Latina.
SC Inova — E qual é o papel dos ambientes de inovação, como parques tecnológicos e hubs, na criação de cidades mais inteligentes?
Zapatero — Se eu sou uma pessoa criativa, com vontade de inovar, preciso estar cercado por outras pessoas que também estão criando. Sozinho, em casa, é muito difícil gerar inovação. Mas se estou em um ambiente onde diferentes profissionais compartilham ideias, onde há projetos em andamento em diversas áreas — seja tecnologia, gestão de resíduos, digitalização de serviços — isso me estimula, me inspira e me permite colaborar.
Por isso, é tão importante criar hubs de inovação, como está acontecendo em Curitiba. Ambientes onde as pessoas possam se encontrar, discutir, observar o que os outros estão fazendo. É isso que torna a inovação real e os projetos viáveis.
SC Inova — Na sua opinião, o maior desafio para as cidades inteligentes é a tecnologia ou o talento?
Zapatero — Sem talento, não há tecnologia. O papel das administrações públicas é criar um ecossistema favorável para que o talento floresça. O mundo está passando por uma transformação no modo como desenvolvemos e retemos talentos. Investir em pessoas é o caminho para garantir o avanço tecnológico e o desenvolvimento sustentável das cidades.
SC Inova — E o que esperar das novas gerações nesse cenário?
Zapatero — As próximas gerações vão acelerar a transformação das cidades. O que elas vão realizar em 20 anos será equivalente ao que nossa geração fez em 100. Esses jovens que hoje estão inovando vão mudar a vida de todos nós.
Mas é preciso lembrar: a tecnologia, por si só, é vazia. Ela precisa ter uma razão de ser — e essa razão deve ser tornar a vida das pessoas melhor. A inovação deve nos ajudar a sermos mais felizes. Se não conseguimos ter acesso à água, à energia, aos serviços públicos, ou se não conseguimos nos comunicar com o governo, não seremos felizes. No fim das contas, o propósito da tecnologia deve ser o bem-estar.
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