Sinapse da Inovação: investimento total vale por um ano de impostos gerados pelas startups

Voce está em :Home-Negócios-Sinapse da Inovação: investimento total vale por um ano de impostos gerados pelas startups

Sinapse da Inovação: investimento total vale por um ano de impostos gerados pelas startups

Desde 2008, programa teve orçamento de R$ 26,4 milhões e ajudou a desenvolver 400 novas empresas. Juntas, as egressas faturam cerca de R$ 150 milhões/ano

Em 2008, ano em que a crise varreu o mercado financeiro internacional, um projeto para estimular novos empreendedores na área de tecnologia surgia em Santa Catarina. Em uma época anterior à disseminação de conceitos como startups e aceleradoras, uma metodologia desenhada pela Fundação Certi gerou o programa Sinapse da Inovação que previa: seleção, capacitação, pré-incubação e recursos iniciais para projetos de inovação de base tecnológica.

Desde então, foram realizadas cinco edições do programa, que somaram mais de 6 mil projetos enviados e cerca de 400 empresas formadas pelo programa, que geram 1,5 mil empregos diretos. “Somadas, as startups que saíram do Sinapse faturam cerca de R$ 150 milhões por ano, o que resulta em aproximadamente R$ 30 milhões em impostos gerados. Isso é mais do que foi investido desde o início no programa”, calcula José Eduardo Fiates, superintendente da Fundação Certi, durante evento realizado na quinta-feira (07.12) para apresentar os resultados da quinta operação do Sinapse. 

Evolução dos investimentos no programa Sinapse da Inovação (em R$ milhões).

Em quase 10 anos, foram investidos por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc), entidade vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, um total de R$ 26,4 milhões, dos quais R$ 10,4 milhões somente em 2017. Para 2018, o orçamento previsto é de R$ 11,2 milhões. Neste ano, as startups passaram a receber uma quantia maior para ajudar no desenvolvimento do projeto (R$ 60 mil), além da possibilidade de complementar com uma bolsa de R$ 42 mil. Além disso, foi realizada em julho a primeira feira de negócios do Sinapse da Inovação, em que os empreendedores levavam suas soluções e as apresentavam para outros empresários, investidores e mentores de startups.

 

“O perfil de quem participa do Sinapse é do empreendedor part time, que está começando uma ideia mas ainda tem emprego. Criamos essas bolsas para ajudar a transformá-los em empreendedores full time“, explica Leandro Carioni, diretor do Centro de Inovação da Certi. “O Sinapse é como uma terceira via, uma oportunidade para quem não quer ser funcionário de uma empresa ou seguir carreira pública”.

“Investimos na ideia lastreada no conhecimento”, diz Leandro Carioni (ao centro), diretor do Centro de Empreendedorismo Inovador da Certi. 

Quando os projetos para a primeira edição chegaram, os avaliadores se assustaram: “eram planos de negócios gigantescos, tinha que ler duas mil páginas de um dia pro outro. A grande maioria a gente negava, porque não estava alinhado ao contexto que a gente esperava. A gente tem que provocar os pesquisadores a falar a linguagem do mercado” lembra Carioni. A provocação deu resultado: logo nos primeiros anos, projetos promissores apareceram e com o tempo acabaram se tornando empresas inovadoras consolidadas no mercado nacional (Welle Laser, Nanovetores, entre outras). “Acredito que seja o projeto a partir de uma universidade que mais gerou empresas no Brasil”, resume.  

Regionalização

Desde 2008, o Sinapse recebeu projetos de 118 dos 295 municípios catarinenses. A maioria (cerca de 500) vieram de empreendedores que moram em Florianópolis, mas cidades como Lages (com 112 projetos) e a pequena Luzerna (com 31 ideias enviadas), no meio-oeste catarinense, se destacam pela participação proporcional. “Luzerna é uma cidade de economia agrícola mas que tem uma incubadora e gera diversos projetos bem interessantes”, destaca Leandro.  

Caroline e Thales, da PackID “pivotaram” a ideia do Sinapse e ganharam concurso mundial na Alemanha

Um dos cases internacionais de sucesso do programa veio de Chapecó: a PackID foi criada em 2016 pela mestranda Caroline Dallacorte e pelo aluno de Engenharia Elétrica da Unochapecó Thales Akimoto. Com dificuldades para monitorar os produtos na cadeia de distribuição na indústria de alimentos, Caroline desenvolveu o protótipo de uma tag adesiva para colocar em cada produto e receber informações sobre a temperatura. Mas a ideia inicial se mostrou inviável e a equipe passou a desenvolver uma tecnologia de radiofrequência que monitora, em tempo real e em maior escala, temperatura e umidades dos alimentos. Com a inovação, a dupla tirou o primeiro lugar na Advanced Materials Competition, desafio que reuniu startups de vários países em Berlim.

Para o diretor da Certi, o desafio das próximas edições será ampliar o acesso e o relacionamento com investidores, assim como a conexão com a indústria. Mas, em função dos bons resultados, não deve haver mudança no esquema de jogo: “a execução do programa nunca mudou. Foi justamente a previsibilidade do programa que estimula a cultura empreendedora, faz com que alguém que não pode participar num ano por falta de tempo ou projeto se prepare para a turma seguinte. Os projetos acabam vindo melhores a cada ano”.