O compartilhamento de dados entre empresas e usuários é uma característica do modelo de negócios em tecnologia, e veio pra ficar. Não querer seus dados expostos afetará em muito sua vida online.
[03.07.2020]
Por Alexandre Adoglio*
Envelhecimento instantâneo foi a promessa de um aplicativo alguns meses atrás em que, com um foto selfie no smartphone, podíamos nos ver como idosos, deixando muitos encantados e alguns outros preocupados com a decadência apresentada.
Logo a brincadeira se espalhou, fazendo muita gente interagir entre si com provocações e o famoso “Desafio FaceApp” entre influenciadores. Rapidamente, o app escalou para 150 milhões de usuários ativos, colocando-o entre os principais downloads em mais de 121 países.
Fora as tentativas de golpe, o uso do app que capta nossos rostos levantou inúmeras suspeitas quanto ao seu modelo de negócio, visto que cerca de 95% dos usuários não paga pelo seu uso. As especulações sobre uso destas imagens chegaram até os desenvolvedores baseados na Rússia, que apenas meneavam a cabeça nesta primeira onda de uso do app.
Porém, agora ao fim do primeiro semestre de 2020 o uso do FaceApp explodiu de novo, levando mais alguns milhões a utilizarem o sistema, para desta vez formarem seus rostos como sexo oposto. Devido a melhorias no sistema de IA (Inteligência Artificial) os resultados ficaram cada vez mais realistas, turbinando ainda mais o dowload nas appstores.
E novamente mostramos como não estamos preparados para proteger nossos dados, pois a política de privacidade do FaceApp deixa claro que o aplicativo extrai dados como sua localização, endereço IP e informações do arquivo de log com o objetivo de direcionar anúncios direcionados a você. Com dados assim, os anunciantes podem direcionar anúncios para usuários em regiões específicas, por exemplo.
Fica muito fácil culpar o aplicativo a empresa ou o desenvolvedor, mas o usuário realmente lê os termos de uso ao instalar? Ou, você deixaria a porta da sua casa aberta durante a madrugada?
Desde o escândalo Cambridge Analytica, que por meio de testes quiz do Facebook levantou um banco de dados com 7 milhões de usuários, percebemos de forma mais contundente como a coleta de dados está cada vez mais sutil e eficaz.
SEGURANÇA DE INFORMAÇÕES PESSOAIS VS.
DIREITO DAS EMPRESAS USAREM NOSSOS DADOS
É fato que a maioria dos usuários dos serviços online não é vivente do setor de tecnologia, não tendo conhecimento exato de como se dá a coleta e compartilhamento de nossos dados. Mas seria isso um argumento para dizer que estes dados são coletados aleatoriamente, sem nosso conhecimento?
A comoção em torno desta aplicação está no seu auge agora, provocando até uma mobilização social nos EUA, pressionando a Polícia Federal a banir o uso do reconhecimento facial em suas ações. Já a Amazon bombou as vendas de suas fechaduras inteligentes, que não só monitoram o tráfego de pessoas e carros na rua como também a qualidade dos entregadores, inclusive identificando seus funcionários com integração na biometria do sistema logístico. Porém, após o sistema ter sido hackeado e utilizado para invasão no sistema wi-fi das residências, a empresa bloqueou o acesso para uso dos dados pela polícia.
Em Santa Catarina o reconhecimento facial não só já promove negócios no Brasil e exterior, como faz parte cada vez mais da rotina dos moradores.
A BGI, com sede de pesquisa em Florianópolis, desenvolve o CredDefense, que embarca em uma só solução softwares da Alemanha, Japão e Estados Unidos, promovendo não só a detecção de indivíduos em meio a multidão como também o uso desta solução como biometria de segurança para empresas.
A também manezinha Payface, startup de recebimento de pagamentos por reconhecimento facial, já intermediou mais de 100 mil transações no primeiro ano de operação, e acaba de receber um aporte para expansão da solução. Já a polícia do Estado está utilizando câmeras de monitoramento com reconhecimento facial para monitoramento de praias, vigilância nas ruas e até como estratégia de segurança na Oktoberfest de Blumenau.
Na real, o compartilhamento de dados entre empresas e usuários é uma característica do modelo de negócios em tecnologia, e veio pra ficar. Não querer seus dados expostos afetará em muito sua vida online, pois além de impedir o pleno funcionamento da maioria dos softwares irá impactar o modo como sua interação virtual acontece.
Como sempre, é uma questão de escolha.
* ALEXANDRE ADOGLIO é CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve semanalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova.
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