Parceria entre Hospital e fundo de investimentos quer criar novo modelo de apoio a healthtechs em SC

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Parceria entre Hospital e fundo de investimentos quer criar novo modelo de apoio a healthtechs em SC

InovaDona será um filtro de projetos de tecnologia para saúde que prevê investimentos em 10 startups nos próximos dois anos

InovaDona, espaço de inovação do Hospital Dona Helena em Joinville (SC), será um filtro de projetos de tecnologia para saúde que prevê investimentos em 10 startups nos próximos dois anos, em parceria com a Bossanova.

Na foto, a equipe do Dona Helena: Chander Turcatti (gerente de inovação Inova Dona), Danilo Abreu (superintendente médico assistencial), Tadeu Chechi (diretor geral) e Juarez Schroeder (diretor) 


[JOINVILLE, 06.09.2022]
Por Fabrício Umpierres, editor –
scinova@scinova.com.br 

Desenvolver um novo modelo de apoio, validação e investimento em soluções inovadoras em saúde é o foco de uma parceria que envolve uma das mais tradicionais instituições de saúde de Joinville (SC), o ambiente de um parque tecnológico e um dos mais ativos fundos de seed capital do país. 

A conexão entre o Hospital Dona Helena, fundado há 106 anos na cidade do Norte catarinense, o Ágora Tech Park e a Bossanova Investimentos resultou em uma “engrenagem” na qual startups de todo o país podem se conectar à instituição de saúde para testar e validar soluções, com possibilidade de gerar negócios, acelerar projetos e captar rodada anjo/seed.  

O ponto de partida é o lab de inovação InovaDona, apresentado na última quarta (31) em evento para mais de 100 pessoas no Ágora Tech Park. “Criamos um funil de iniciativas que engloba o hospital inteiro, do assistencial ao back-office, além de nos conectarmos com universidades e o ecossistema local de tecnologia. O que nos atrai são projetos que gerem impacto, qualifiquem pessoas e processos”, explica Chander Turcatti, gerente de inovação do InovaDona. 

As primeiras ações focadas em transformação digital e inovação aberta iniciaram há dois anos, com o intuito de repensar processos e sistemas internos, cultura corporativa e atração de startups – mas foram nos últimos seis meses que as atividades se intensificaram, com a realização de um hackathon com colaboradores e a conexão com novos negócios inovadores. Segundo Chander, há mais de 20 projetos selecionados que devem ser agregados ao escopo de desenvolvimento do InovaDona. 

Um exemplo é a parceria com a healthtech brain4care, que desenvolve tecnologia pioneira de monitoramento não invasivo de variações de pressão e complacência intracraniana. A partir de setembro, 350 pacientes que sofrem de epilepsia serão selecionados para participar de um estudo clínico no Dona Helena que tem como objetivo avaliar o padrão de variáveis cerebrais relacionadas à doença – uma condição neurológica bastante comum, que acomete uma a cada 100 pessoas. 

“Uma delas é a complacência intracraniana como mais um indicador para determinadas alterações nos pacientes”, explica o neurologista Felipe Ibiapina dos Reis, que coordena a pesquisa. O alvo são pacientes com diagnóstico de epilepsia, maiores de 18 anos, que serão monitorizados pelo sensor da brain4care, posicionado na região frontotemporal. O procedimento não é invasivo – o equipamento é aplicado ao redor do couro cabeludo, logo abaixo da maior circunferência do crânio, usando uma fita plástica ajustável. Espera-se que, futuramente, esses dados possam servir para um melhor controle das crises.

“Já fomos somente um hospital, hoje somos um sistema de saúde”, comenta o superintendente médico assistencial Danilo Abreu. Para ele, ainda há muitas “dores” que sequer foram mapeadas e que vão além da parte hospitalar, mas que impactam diretamente na gestão (faturamento, ciclo de receita etc) e podem ser identificados e resolvidos “com um mix de tecnologias, pessoas e processos”, explica. 

Com 915 funcionários e mais de mil médicos, o Dona Helena realiza mensalmente mais de 12 mil atendimentos de emergência, 1000 internações, 60 mil exames laboratoriais e 10 mil diagnósticos.  Em janeiro de 2020, com as primeiras notícias da Covid-19 se espalhando pelo mundo, o hospital montou um gabinete de crise e criou um plano de contingência que ajudou a instituição a ter uma das menores letalidades do novo vírus no país.   

FUNIL PARA INVESTIMENTOS

Enquanto o Dona Helena quer se consolidar como ambiente de testes e desenvolvimento de startups de saúde – com potencial também de contratar as soluções – a Bossanova entra no arranjo como um potencial investidor em empresas que já passaram pelo filtro técnico e de mercado. 

Kepler, da Bossanova (de colete): “este modelo vai encurtar muito o caminho para as startups captarem investimento”. / Foto: Divulgação

Em entrevista ao SC Inova, o investidor e cofundador da Bossanova João Kepler afirmou que a expectativa é que esta parceria com o Dona Helena resulte em 10 investimentos nos próximos dois anos, com cheques no perfil anjo/seed capital.

“Este modelo (em que o hospital valida previamente as soluções) vai encurtar muito o caminho para as startups captarem investimento. Não é um Shark Tank (programa de TV), é um aporte racional e técnico. Só neste banco de oportunidades que o Dona Helena está criando teremos boas oportunidades para nosso comitê analisar, pois as startups encaminhadas pelo hospital já terão passado pela avaliação especializada da área médica”, comenta Kepler. 

A Bossanova tem se aproximado gradualmente do ecossistema de Santa Catarina, com 28 startups investidas e parcerias com fundos locais de venture capital, como o Join.VC, formado por empreendedores e investidores do Norte catarinense.  “A região é muito fértil em startups e iniciativas empreendedoras – e dificilmente vemos casos de write-off (fechamento de empresas em função de prejuízos). O ecossistema é o grande diferencial no estado”, conclui o investidor. 

A área de saúde pode ser também um novo foco para o ecossistema da região, já que o Ágora conta com um hub destinado a healthtechs: o hospital de olhos Sadalla Amin Ghanem e a varejista farmacêutica Clamed inauguraram no ano passado iniciativas próprias de inovação e tecnologia no parque tecnológico. 

Como resume José Tadeu Chechi, diretor geral do Dona Helena, “a jornada de inovação gera desconforto, pois a área de saúde muda muito rápido, é preciso dar velocidade ao processo e todos precisam se adaptar. Mas nossa visão de futuro é que vamos aprender muito e materializar isso em resultados para pacientes e funcionários. O propósito é melhorar a qualidade de vida”. 

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