[OPINIÃO] Para gerar novas tecnologias, ecossistemas de inovação precisam estruturar investimentos em P&D

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[OPINIÃO] Para gerar novas tecnologias, ecossistemas de inovação precisam estruturar investimentos em P&D

É fundamental garantir bons Centros de Pesquisa e Instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICT), em quantidade e qualidade maiores que as atuais – além da conexão entre empresas e universidades.

É fundamental garantir bons Centros de Pesquisa e Instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICT), em quantidade e qualidade maiores que as atuais – além da conexão entre empresas e universidades. / Foto:  Toon Lambrechts (Unsplash


[14.03.2023]

Por Marcus Rocha, Especialista em Ecossistemas e Habitats de Inovação e Gerente de Inovação e Startups do Sebrae/SC.
Escreve quinzenalmente sobre o tema no SC Inova

O leitor certamente já deve ter lido algo, ou ouvido falar, sobre empresas como SpaceX, Impossible Foods, BioNTech, Mosa Meat, Moderna, OpenAI, Lilium ou Boston Dynamics. Elas são conhecidas pelo desenvolvimento de inovações altamente tecnológicas e inéditas em áreas como Aeronáutica, Espaço, Saúde, e Alimentação. Junto com elas, há outros tantos novos negócios ainda desconhecidos, mas que estão no mesmo caminho.

Esta coluna já falou sobre quais frentes de trabalho as empresas devem considerar nas suas estratégias de inovação, citando a Matriz de Ambição da Inovação. De acordo com esse modelo devem ser consideradas três frentes de trabalho: Central, ligada ao core business; Adjacente, para a expansão dos negócios em mercados complementares; e Transformacional, com o objetivo de criar novos mercados para a empresa. Especialmente nos trabalhos de inovação Transformacional – e às vezes Adjacente – torna-se necessário o desenvolvimento de novas tecnologias, que vão muito além apenas das mais conhecidas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), considerando também biotecnologias, nanotecnologias, novos materiais/substâncias, etc.

O relatório ‘McKinsey Technology Trends Outlook‘, referente ao ano de 2022, traz um panorama das tecnologias que estão em desenvolvimento e que estão recebendo investimentos intensivamente, com o potencial de criar novos produtos inovadores que, caso sejam bem-sucedidos, criarão novos mercados. Nota-se que Inteligência Artificial, Energias limpas, Mobilidade, Conectividade, Consumo sustentável, Web3 e Bioengenharia são áreas com grande destaque neste relatório, considerando tanto a taxa de adoção pelos mercados quanto os investimentos recebidos.

Principais tendências tecnológicas, de acordo com “McKinsey Technology Trends Outlook 2022”. Quanto mais escuro o tom de azul de cada círculo, maior a taxa de adoção; e quanto maior o tamanho do círculo, maior o volume de investimentos recebidos.

O desenvolvimento de todas essas tecnologias demanda grande atenção em ações de promoção de pesquisas científicas, em todas essas áreas e em outras que estão a surgir. Esta é uma vertente dos ecossistemas de inovação que não recebe tanta atenção, especialmente no Brasil. Nota-se que, apesar de startups e outros tipos de empreendimentos inovadores estarem surgindo em quantidade e qualidade maiores, a maior parte apenas têm utilizado tecnologias já existentes, desenvolvidas em outros locais do mundo.

Tal cenário traz um elemento de desvantagem competitiva dos ecossistemas de inovação brasileiros, perante outros territórios. Cabe relembrar que a competitividade entre as empresas – e também os ecossistemas – já há algum tempo é mundial. Portanto, é necessário observar as melhores práticas em países como Estados Unidos, Coreia do Sul, China, Israel, Índia, Alemanha, entre outros que frequentemente são citados como referência.

INVESTIMENTOS EM P&D MOSTRAM MAPA DA INOVAÇÃO DISRUPTIVA 

De acordo com o Banco Mundial, as nações que mais investem em Pesquisa e Desenvolvimento tecnológico (P&D), considerando o percentual dos investimentos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), são: Israel (5,44%), Coreia do Sul (4,81%), Suécia (3,53%), Bélgica (3,48%), EUA (3,45%), Japão (3,26%), Áustria (3,20%), Suíça (3,15%), Alemanha (3,14%) e Dinamarca (2,96%). O Brasil figura na 34ª posição, com investimentos na ordem de 1,21%.

Importante observar a correlação entre o volume de investimentos em P&D e a ocorrência de empresas de base tecnológica – startups ou não – bem sucedidas globalmente de cada um desses países listados no relatório do Banco Mundial. Apesar dos bons resultados em áreas como o Agronegócio e Aeronáutica, o Brasil ainda precisa trabalhar mais em outros setores.

Por mais que sejam necessárias estratégias nacionais para garantir investimentos contínuos em P&D, com o foco futuro no desenvolvimento de inovações tecnológicas com alcance mundial, as ações precisam ser desenvolvidas localmente, nos ecossistemas de inovação. Para tanto, é fundamental garantir a existência de bons Centros de Pesquisa e Instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICT), em quantidade e qualidade maiores que as atuais. 

Outra ação que os ecossistemas precisam realizar é a aproximação das Universidades com as Empresas estabelecidas em cada território. Essas organizações precisam trabalhar de forma mais próxima, focando trabalhos de P&D nos setores tecnológicos estratégicos de cada território. É necessário realizar trabalhos em parceria, aumentando o volume de investimentos e dividindo a responsabilidade entre todos os atores envolvidos. Ou seja, se organizações de todas as hélices dos ecossistemas de inovação investirem igualmente em inovação, certamente o volume de investimentos será multiplicado em relação ao que é realizado hoje.

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Esse trabalho coletivo, utilizando as melhores práticas de inovação aberta, precisa ser realizado de forma intensiva, em diferentes frentes de trabalho, e considerando os estágios de maturidade de desenvolvimento de cada tecnologia. Isso certamente colabora com a diluição e a mitigação de diversos riscos que são oriundos da atividade inovadora, que são especialmente altos quando estão sendo desenvolvidas tecnologias inéditas.

Cabe destacar que este é um trabalho de longo prazo e quanto mais os ecossistemas demorarem a trabalhar nesse sentido, maior será a demora para obter resultados. Assim, além da continuidade das ações em prol do empreendedorismo inovador que já estão em andamento, é necessário que os atores locais se unam para trabalhar o assunto do desenvolvimento de novas tecnologias. 

Este é um assunto ainda silencioso, e que precisa de maior volume para que os ecossistemas de inovação do Brasil passem a ter um número maior de startups e outras empresas inovadoras que tenham impacto mundial, promovendo a geração de riquezas e desenvolvimento econômico e social em seus territórios.

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