O quão longe estamos, de fato, de termos cidades inteligentes?

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O quão longe estamos, de fato, de termos cidades inteligentes?

Em 20 anos, haverá uma conurbação de 8 milhões de pessoas do norte ao sul de SC. E quem está pensando no impacto logístico e de mobilidade?

Em 20 anos, haverá uma conurbação de 8 milhões de pessoas ao longo de 400 km do norte ao sul de SC. E quem está pensando, agora, no impacto logístico e de mobilidade? Na foto, a californiana San José, que lidera ranking 2022 do World Economic Forum. / Foto: Jose Rago (Unsplash)


[21.03.2022]


Por Jean Vogel, presidente da Câmara de Smart Cities da FIESC

Cidades Inteligentes, Cidades Sustentáveis, Cidades Humanas e Inteligentes, Cidades para as Pessoas… existem alguns conceitos e definições, mas particularmente, penso que o que importa é olharmos para o efeito prático e como a aplicação destes conceitos é urgente para o desenvolvimento das pessoas e negócios. Nossas cidades não podem mais ser planejadas como há 20, 30, 40 anos… Todas as camadas da economia e da sociedade se transformaram drasticamente neste período, mas ainda enfrentamos legislações, gestores e políticas públicas do século passado. Os planos diretores fora da realidade são apenas um exemplo.

Em 20 anos deverá ocorrer uma conurbação de litoral e vale catarinense, concentrando mais de 8 milhões de pessoas em uma faixa sul-norte com menos de 400 km de distância, conectando Criciúma a Joinville e Jaraguá do Sul, e leste-oeste – com menos de 150 km, conectando Itajaí e Balneário Camboriú a Blumenau e Rio do Sul.

Neste cenário, como será a mobilidade? Teremos veículos elétricos, trens? E o ambiente de negócios, logística, formação e retenção de talentos… Quem está pensando nisso agora? A sociedade, entidades e associações, ou os gestores públicos regidos pela corrida às urnas a cada quatro anos?

Olhando para fora, o ranking do World Economic Forum aponta as 25 cidades mais inovadoras de 2022, 11 no continente norte americano, 7 na Ásia e 7 na Europa – na América do Sul, zero. Quase todas as 25 podem ser citadas como cases do conceito de Cidades Inteligentes. Não por acaso, muitas também detêm as maiores concentrações de talentos. Inovação é feita por gente!

Ranking do Fórum Econômico Mundial das cidades mais inovadoras – e com maior concentração de talentos.

Ainda que não tenhamos o hábito, cultura ou iniciativa de participar de rankings internacionais, uma rápida comparação entre as melhores do mundo e as melhores daqui, mostrará, claramente, que estamos muito distantes.

Santa Catarina possui todos os elementos para ser referência internacional, pois temos pessoas e talentos, indústrias e um ecossistema de inovação e tecnologia desenvolvido, mas é urgente que o ambiente de negócios, formação (da básica até a de alto nível técnico), cultura, conexões, lazer e bem-estar das cidades seja impulsionado, seja por política públicas ou pela iniciativa privada, há de se fazer um “pacto” pelo nosso desenvolvimento, sob pena de ficarmos, de maneira irremediável, para trás no cenário global.

A Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) criou, há cerca de um ano, a Câmara de Smart Cities, preocupada com o desenvolvimento das cidades e o quanto isso impacta no futuro e competitividade das indústrias, que precisam de talentos, tecnologia, legislação e um lugar onde as pessoas queiram morar. A ACATE também tem sua vertical voltada ao tema, mas precisamos de mais.

Esta semana, dias 24 e 25 de março, Curitiba recebe a edição brasileira do maior evento de cidades inteligentes do mundo – o Smart City Expo World Congress. Quantos gestores públicos estarão presentes, não apenas para circular, fazer fotos e vídeos para redes sociais e releases, mas para de fato, ouvir, estudar e se aprofundar no tema? 

Enquanto nossos bilhões seguirem indo para fundos eleitorais, ao invés de apoiar a educação, a ciência, a tecnologia e a inovação, seguiremos exportando grãos e importando inovação.