Engenheira e CEO da startup Prevision, Paula Lunardelli assume a Vertical de Negócios que une players tradicionais do mercado de construção e imobiliário a empresas de tecnologia e adianta: “precisamos unir a inovação de SC à força do mercado de São Paulo”. / Foto: Divulgação
A engenheira civil Paula Lunardelli viveu recentemente duas crises econômicas. A primeira foi a que abateu praticamente todos os setores produtivos do país, em especial o setor de construção civil e imobiliário, a partir de 2015. Ela era diretora de engenharia de uma construtora e, para se adaptar aos cortes no orçamento, ela criou uma planilha que ajudava a resolver problemas que as plataformas que a empresa usava – e eram caras – não estavam resolvendo: a gestão previsível e o planejamento das obras.
A alternativa funcionou e, assim que ela percebeu que tinha um MVP (protótipo) em mãos, começou a apresentar a outras empresas do setor – e nada menos do que 29 construtoras se interessaram pela solução. Assim nasceu, em 2017, a Prevision – batizada inicialmente como Welob e que passou pelo programa de incubação do MIDITEC – que desenvolveu um software à gestão visual de obras, que dá o panorama atual e a previsão de término, além de simular impactos físicos e financeiros de cada empreendimento.
A segunda crise econômica, dessa vez no âmbito pessoal, se deu ao longo de 2018. A empresa seguia “na raça”, apenas com os recursos dos sócios Paula, Yan Bedin (diretor de Operações) e Thiago Senhorinha (diretor de Tecnologia). “Estávamos com 27 clientes, mas ainda assim precisei vender o carro, não deu conta e depois vendi o apartamento… fomos assim até o final do ano, achei que não daria mais pé”, conta a empreendedora.
As coisas melhoraram a partir de uma participação em fórum da Rede de Investidores Anjo de Santa Catarina (RIA SC), mantida pela ACATE e a Anjos do Brasil. A apresentação da startup rendeu posteriormente um aporte de R$ 250 mil cotizado por um grupo de nove investidores – e que será reforçado por outra captação (de praticamente metade do valor inicial) nos próximos meses. Os recursos vão apoiar as metas audaciosas da Prevision de dobrar o número de clientes (dos atuais 50 para 100) em um ano, expandindo também a atuação hoje concentrada em Santa Catarina, São Paulo e Paraná para outros estados.
Além da vida executiva em uma startup em fase de expansão, Paula também assumiu recentemente a direção da Vertical Construtech da ACATE, lançada no início do ano passado e que reúne a cadeia tradicional da construção civil e imobiliária a empresas de tecnologia que desenvolvem soluções para este mercado.
“Eu participo de muitos eventos, conheço o mercado e vejo muita gente querendo inovar mas sem saber de que forma, assim como as corporações também buscam novas soluções mas não têm acesso a pessoas que podem ajudar. O foco da Vertical é buscar a integração entre essas partes e unir o mercado, vejo muito sentido nessa complementaridade”, ressalta a nova diretora.
Um dos focos do grupo – que tem como vice-diretor Fabricio Schveitzer, diretor de Novos Negócios e Inovação na Softplan e que atuou por quase 18 anos no grupo Dimas – é atingir novos e maiores mercados. “Se unirmos a força da inovação e da tecnologia de Florianópolis com o potencial do mercado de São Paulo, podemos ajudar a resolver muitos problemas do setor de construção e imobiliário”, diz Paula.
De acordo com dados da aceleradora Construtech Ventures, o Brasil conta hoje com mais de 560 startups voltadas para a construção civil, desenvolvendo desde modelos 3D com realidade virtual, dispositivos vestíveis acoplados aos equipamentos dos operários, além de soluções de machine learning, Internet das Coisas (IoT), gestão e automação de processos.
Os desafios tornam a empreendedora uma nova referência feminina em setores tradicionalmente ocupados por homens: tecnologia e construção civil. “Na Prevision hoje temos mais mulheres do que homens, mas a questão é que eu nem paro para pensar muito sobre isso. Sempre trabalhei em obras, desde a primeira empresa e fiz um curso (Engenharia Civil) que tem poucas mulheres. Claro que já tive problemas ao longo do caminho, mas não boto energia nestes problemas, não penso em diferenças como forma de segregar. Se eu puder inspirar outras mulheres a pensarem da mesma forma é um ganho, em minha visão”, conclui.
Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br
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