“Middle Valley”: São José prepara o desenvolvimento de seu ecossistema de inovação

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“Middle Valley”: São José prepara o desenvolvimento de seu ecossistema de inovação

Cidade vizinha à Capital terá primeira edição do Startup Weekend em junho e prevê a inauguração de um Centro de Inovação até o final de 2018

Cidade vizinha à Capital terá primeira edição do Startup Weekend em junho e prevê a inauguração de um Centro de Inovação até o final de 2018

Quarta maior cidade catarinense, com mais de 239 mil habitantes (IBGE, 2017), São José viveu um crescimento populacional acelerado nas últimas décadas, assim como as vizinhas Florianópolis e Palhoça. Os dois municípios, porém, aproveitaram este impulso para se estabelecer como novos polos econômicos: a Capital superando a atividade turística com a ascensão de empresas de base tecnológica, e Palhoça mesclando incentivos à construção civil e ocupação de áreas industriais com programas de incentivo à TI e inovação (com o Inaitec e startups se instalando na Cidade Pedra Branca).

A proximidade com as duas cidades gerou uma demanda natural para o desenvolvimento de um ecossistema próprio em São José, que já contava com muitos empreendedores e startups, mas não tinha ainda uma série de ações organizadas. Foi dessa lacuna que surgiu a ideia do “Middle Valley”, uma referência à posição geográfica da cidade em comparação com as vizinhas.

E o Middle Valley “nasce” com 305 empresas de base tecnológica, das quais cinco são de grande porte as outras 300 são de micro ou pequeno porte. “O faturamento total é superior a R$ 650 milhões, o que representa 13% do fluxo econômico do município”, calcula Willian Quadros, diretor de Atividades Econômicas de São José. Mais de 5 mil pessoas trabalham no setor de TI na cidade, com destaque para a Intelbras, que possui cerca de 2,5 mil colaboradores, diz o diretor.

Para estimular a comunidade que atua neste mercado e que também quer empreender, São José organiza entre os dias 8 e 10 de junho a primeira edição do Startup Weekend, uma maratona de 54 horas de desenvolvimento de projetos inovadores – e que tem sido a base para muitos outros municípios catarinenses desenvolverem seus polos de tecnologia e inovação, organizado com apoio do Sebrae/SC e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico Sustentável do Governo do Estado. Além do evento em si, o município vem articulando parcerias com diversas entidades e anunciou recentemente a construção de um Centro de Inovação, que deve estar pronto até o final de 2018, como afirma o diretor de Atividades Econômicas nesta entrevista exclusiva para o SC Inova.

“Estamos alinhados com Florianópolis e Palhoça. Se tivermos sucesso nos próximos anos, poderemos ser a principal região metropolitana de inovação e TI do Brasil”, diz o diretor de Atividades Econômicas de São José, Willian Quadros. / Foto: Divulgação

SC Inova –  Conte um pouco de como começou essa articulação em São José para estimular o ecossistema local.

Willian Quadros – O movimento de inovação em São José é um tanto recente. Muitos dos moradores da cidade que empreendiam alguma startup ou empresa de tecnologia acabavam fazendo como pessoa jurídica em Florianópolis ou Palhoça. Surgiu então uma demanda orgânica para criar um ecossistema local, impulsionado pelo próprio mercado, que sinalizava uma carência de ações, eventos e projetos ligados a inovação na cidade. Em fevereiro de 2017 começamos a nos articular nesse sentido.

As primeiras iniciativas do poder público tinham como objetivo estabelecer parcerias com instituições que fomentam o ecossistema catarinense como Sebrae, ACATE, Fundação CERTI, Seinflo, Senai, Senac, entre outras. A segunda etapa foi procurar o mercado e escutar quais eram suas demandas na cidade, para isso realizamos um Meetup em maio do ano passado para reunir o mercado e bater um papo informal. Diante do diagnóstico realizado durante este evento nós resolvemos colocar a mão na massa e estabelecer uma série de ações para fomentar o setor.

O primeiro passo foi realizar uma agenda forte de eventos gratuitos, entre palestras, workshops, cursos entre outros. Fizemos um roteiro de divulgação do Sinapse da Inovação em nove universidades no município.  Em paralelo aos eventos foi viabilizado, pela iniciativa privada, um ambiente de inovação que pudesse concentrar nossos esforços e também o mercado. Depois de quase um ano de negociação entre parceiros públicos e empresas privadas da cidade, fechamos um acordo tripartite entre Prefeitura Municipal, ACATE e Grupo Dimas para a construção de um Centro de Inovação em São José, que será sediado na avenida Presidente Kennedy. O investimento é totalmente privado – a Acate será a operadora do ambiente junto com o projeto LinkLab, de inovação aberta, enquanto a Prefeitura Municipal será responsável pela conexão do ecossistema e pelas políticas públicas para o mercado de inovação.

Neste momento estamos articulando as empresas que farão parte do LinkLab e os parceiros que habitarão o ambiente, tais como incubadoras, aceleradoras, coworkings etc. O Centro de Inovação deverá ficar pronto até o final de 2018 e terá como foco a internacionalização de startups. Nosso trabalho será em ensinar os empreendedores a pensar global desde o estágio zero do negócio, ainda na fase de ideação.

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O terceiro passo no qual estamos trabalhando hoje é a elaboração do Plano Municipal de Inovação que será composto pela Lei Municipal de Inovação, o Conselho Municipal de Inovação e uma série de ações para estimular o sistema, entre eventos, redução tributária, projetos de fomento, etc.

SC Inova – De que forma você acredita que o Startup Weekend vai estimular este cenário de empreendedorismo na cidade?

Willian Quadros – O Startup Weekend é o principal evento de conexão entre empreendedores e também jovens entusiasmados com o setor de TI no mundo. Para que esse primeiro evento faça bonito, estamos organizando nove bootcamps em universidades da Grande Florianópolis (USJ, IES, Estácio, Anhanguera, IFSC, Univali, Udesc, UFSC e Borges de Mendonça). Os eventos nas universidades tem sido muito bons e mostrar um grande interesse no evento. Além disso realizamos recentemente um encontro especial sobre o Startup Weekend que reuniu mais de 70 pessoas (foto), quando também falamos sobre modelagem de negócio para startups.

Meetup sobre o Startup Weekend em São José reuniu, em maio, mais de 70 pessoas e discutiu também novos modelos de negócio. / Foto: Divulgação

SC Inova – A proximidade com Florianópolis de alguma forma prejudica a criação de uma “identidade” dos empreendedores e do perfil econômico de São José? Ou isto não chega a ser uma preocupação?

Willian Quadros – Não encaramos como um problema, pelo contrário. Encaramos como uma oportunidade de nos aproximarmos a Florianópolis, por uma série de motivos. A primeira dela é a saturação da capital no quesito mobilidade urbana, o que tem feito com que muitas empresas tenham nos procurado, para se manter perto da Capital, mas com condições de mobilidade urbana muito mais favoráveis. Além disso Florianópolis passa por um problema sério de insegurança jurídica na abertura de novas empresas, por problemas com alvará de funcionamento e habite-se.

Nós estamos muito alinhados com as Prefeitura de Florianópolis e Palhoça, pensando no desenvolvimento conjunto da região como um todo. Se tivermos sucesso nos próximos anos poderemos ser a principal região metropolitana de empresas de Inovação e Tecnologia do Brasil, então para nós isso não é um problema, mas com certeza uma oportunidade.

Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br