Empresas estabelecidas em mercados com alta competitividade precisam ter uma visão além das TICs (tecnologias da informação e da comunicação): materiais, equipamentos, substâncias, processos, entre outros.
[08.06.2021]
Por Marcus Rocha, CEO do 2Grow Habitat de Inovação.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação no SC Inova.
Diversas empresas que adotaram a inovação de forma estratégica implantaram seus programas de inovação aberta. No entanto, a maior parte desses programas têm considerado apenas a relação das empresas com startups, a partir de um ciclo que, após a identificação dos desafios de inovação, se inicia com um chamamento público.
Em seguida, as startups cujas soluções demonstram melhores condições de resolver os desafios de inovação são selecionadas para a realização de projetos piloto chamados de provas de conceito. Por fim, aquelas startups que forem bem-sucedidas nesse processo têm a oportunidade de estabelecer parceria com a empresa promotora do programa, sendo que algumas acabam recebendo investimentos ou até mesmo sendo compradas.
Ocorre que, para ser verdadeiramente estratégica, a inovação aberta precisa ir muito além desse processo de seleção de startups. As razões para isso são diversas, mas percebe-se que as empresas estabelecidas precisam investir não apenas em soluções inovadoras prontas ou quase prontas realizadas por startups.
Empresas estabelecidas em mercados com alta competitividade e intensiva aplicação de ciências precisam considerar o desenvolvimento de novas tecnologias, compreendendo uma visão além das TICs (tecnologias da informação e da comunicação): materiais, equipamentos, substâncias, processos, entre outros. Nessa fase é fundamental que as empresas busquem apoiar ou desenvolver parcerias com universidades e centros de pesquisa. Essas parcerias normalmente consideram o financiamento de linhas de pesquisa aplicada, orientadas aos interesses da empresa patrocinadora.
Outra fase do desenvolvimento de inovações que merece atenção por parte de iniciativas de inovação aberta de empresas estabelecidas é a ideação. A partir de desafios de inovação propostos, relacionados a problemas ou oportunidades reais que precisam de validação junto ao mercado, são aplicadas diferentes técnicas criativas e de empreendedorismo para o design de soluções. Esse trabalho precisa ser feito pela empresa junto ao ecossistema de inovação, trazendo para o processo de criação de ideias de negócios inovadores os alunos de escolas técnicas ou universidades, pesquisadores, profissionais liberais, além dos seus próprios funcionários, que podem colaborar tanto como mentores quanto na execução.
Há diferentes metodologias para o investimento em ideação para a inovação, com destaque para ações mais intensivas como as maratonas de inovação, também chamadas de hackathons, e para processos mais detalhados como os realizados por pré-incubadoras.
As empresas estabelecidas também precisam prestar atenção no apoio à execução de ideias na forma de protótipos ou de mínimos produtos viáveis. Tal ação pode considerar a evolução de planos desenvolvidos por iniciativas de suporte à ideação, ou até mesmo a seleção de startups que também se encontrem nessa mesma fase pré-operacional. Nesse sentido, parcerias com laboratórios especializados na prototipação de hardware (chamados de Fab Labs), centros de pesquisa, empresas da área de engenharia, consultorias em modelagem de processos de serviços, entre outros, são importantes.
Por fim, a seleção de soluções já colocadas no mercado, principalmente por startups, também deve ser considerada, juntamente com as demais ações descritas. Isso pode ser feito por meio do processo já mencionado no início deste artigo, mas também pode considerar outras formas. Vale a pena ampliar a busca para outros tipos de empresas e organizações, não apenas startups, que possuem soluções recém colocadas no mercado. Instituições de Ciência e Tecnologia frequentemente são úteis para empresas estabelecidas nesse sentido.
ORÇAMENTO PARA INOVAÇÃO: RECURSOS PRÓPRIOS E FONTES PÚBLICAS SUBSIDIADAS
Para realizar todas essas ações de inovação aberta, considerando várias frentes de trabalho para diferentes fases de desenvolvimento de inovações, é fundamental estabelecer um orçamento, tanto para o apoio financeiro relacionado às operações dessas iniciativas, quanto para a criação de veículos de investimentos para aqueles negócios que se mostrarem mais promissores.
Claramente a empresa precisará destinar recursos próprios para muitas dessas ações, mas é importante destacar que existem fontes de recursos públicos disponíveis para tal, com destaque para linhas de crédito com juros subsidiados de diferentes agentes, a Lei de Informática, a Lei do Bem, e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), entre outros mecanismos e editais que existentes ou que venham a existir. Então é importante que os gestores das empresas estabelecidas busquem apoio e recursos para pesquisas.
Portanto, a inovação aberta vai muito além dos programas oferecidos por consultorias especializadas que buscam conectar empresas com startups. Para que a prática se torne efetivamente estratégica é necessário considerar ações nas diferentes fases de desenvolvimento de inovações, aplicando diferentes métodos e processos, tendo como parceiros diferentes tipos de organizações, incluindo as startups, mas não se restringindo apenas à elas. Percebe-se que, ao executar todas essas frentes de trabalho, a empresa consequentemente se integrará de uma forma bastante intensiva ao seu respectivo ecossistema de inovação.
Considerando um horizonte estratégico para a inovação aberta, os resultados das diferentes ações virão ao longo do tempo e, raramente, no curto prazo. As pessoas nos cargos de liderança das empresas precisam compreender que a consistência e a persistência nas ações, realizadas com base nas melhores práticas e com profissionais qualificados, são o caminho para resultados consistentes que, certamente, levarão a empresa ao caminho da vantagem competitiva e do desenvolvimento sustentável dos seus negócios.
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