A importância e a função dos programas de apoio às startups

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A importância e a função dos programas de apoio às startups

De pré-incubadoras a aceleradoras e escaladoras, há uma lógica para determinar uma espécie de “caminho feliz” para uma startup.

De pré-incubadoras a aceleradoras e escaladoras, há uma lógica para determinar uma espécie de “caminho feliz” para uma startup. Ecossistemas que possuem todos esses programas podem reduzir os riscos referentes à inovação. / Foto: LinkLab Acate/Divulgação


[13.04.2021]


Por Marcus Rocha, CEO do 2Grow Habitat de Inovação.
Escreve quinzenalmente sobre ambientes e ecossistemas de inovação.

Quando o assunto é inovação, frequentemente vemos oportunidades de diferentes tipos de iniciativas de suporte a startups: pré-incubadoras, incubadoras, aceleradoras, entre outras. Muitas pessoas, dentro e fora dos ecossistemas, ainda não têm total clareza sobre as funções dessas iniciativas, tão importantes para o empreendedorismo inovador.

Antes de mais nada, é importante definir o que é uma Startup. Muito se fala nesse termo, mas frequentemente há um uso inadequado do mesmo. Unindo definições propostas por três referências importantes: Eric Ries (A Startup Enxuta, 2012), ABStartups e StartSe,  pode-se compreender que Startup é um novo empreendimento desenvolvido em um cenário de incertezas, pois visa criar um produto ou serviço com carga significativa de inovação e com um modelo de negócios que permita um rápido crescimento, em larga escala. Percebe-se que nem toda empresa de base tecnológica, ou que se propõe a desenvolver um novo produto/serviço é uma Startup, assunto para outro artigo.

A partir dessa definição, fica claro por que as startups são tão interessantes hoje. Apesar dos altos níveis de risco envolvidos, quando uma startup dá certo, ela experimenta altos níveis de crescimento em um curto período de tempo e provoca “efeitos colaterais” positivos, tais como geração e distribuição de riqueza, oportunidades de trabalho qualidade, criação de novas cadeias de suprimentos, e uma grande arrecadação de tributos. Assim, stakeholders que sejam pessoas físicas ou jurídicas, privadas ou públicas, acabam se beneficiando do sucesso das startups.

Devemos nos lembrar sempre do componente de risco que é inerente a qualquer startup. Em épocas de escassez de recursos econômicos ou financeiros, a mitigação desses riscos é importante, principalmente para stakeholders interessados no sucesso sistemático de startups nos seus ecossistemas de inovação. Com isso, foram criadas iniciativas que visam a redução da mortalidade desses empreendimentos, tais como incubadoras, pré-incubadoras, escaladoras, venture builders, aceleradoras, e tantas outras denominações que hoje fazem parte do vocabulário dos profissionais da inovação.

Aqui nesse espaço há a oportunidade de esclarecer ao leitor o que essas iniciativas significam, e quando elas se aplicam na trajetória de uma startup, que começa com uma ideia para resolver um problema ou atender a uma necessidade real, a ser traduzida em um produto ou serviço. Depois se desenvolve esse produto ou serviço, começando por um Mínimo Produto Viável, que evolui ao longo do tempo, e que precisa ser introduzido no mercado por meio de uma empresa constituída. Até aqui a startup vive o chamado “vale da morte”, período no qual a maior parte delas não sobrevive.

Com as vendas do produto/serviço busca-se a tração da startup, provocando crescimento da empresa, especialmente no seu faturamento. Em seguida, é necessário buscar a escalabilidade, para alcançar os objetivos do seu modelo de negócios. Nessas fases, o desafio é evitar que a startup permaneça estagnada, ou que tome decisões não sustentáveis que façam com que fracasse.

DA PRÉ-INCUBAÇÃO ÀS “ESCALADORAS”

O Guia de Desenvolvimento de Ecossistemas e Centros de Inovação, criado para nortear as políticas e ações dos diferentes atores dos ecossistemas e dos habitats de inovação em Santa Catarina, esclarece cada uma das principais iniciativas de suporte às diferentes fases das startups. Esse trabalho lançou as bases para o alinhamento e a compreensão da complementaridade entre essas ações, independente do nome que venham a ter.

A pré-incubação visa dar suporte à etapa da ideação, quando a startup ainda não está formalizada como empresa e precisa estabelecer ou validar seu plano de negócios, com especial atenção ao modelo de negócios, estratégias de mercado e principais processos, além de especificar e desenvolver um Mínimo Produto Viável. Ao final do ciclo, com duração de 2 e 6 meses e que pode acontecer de forma presencial ou remota, a startup deve estar pronta para ser formalizada e iniciar suas operações no mercado.

Incubadoras atendem startups que já estão formalizadas e iniciaram suas operações no mercado há pouco tempo, precisando de suporte para enfrentar as incertezas, tanto do ambiente interno quanto externo. Para tanto, é oferecido um conjunto de serviços de consultoria, assessoria, mentoria, espaços de trabalho, cursos, networking, rodadas de negócios, aproximação com entidades financeiras e de investimentos, além de oportunidades de cooperação com instituições de ciência e tecnologia, de ensino e/ou de pesquisa. 

O ciclo de incubação não tem uma duração fixa, apesar de algumas incubadoras estabelecerem um tempo máximo de permanência. O final da incubação é estabelecido pela evolução da startup. A partir da avaliação de diferentes indicadores de desempenho, são “graduadas” startups que estiverem aptas a sobreviver no mercado por conta própria. 

As aceleradoras visam atender startups que já operam no mercado há algum tempo, mas que precisam evoluir em aspectos específicos para desenvolver as competências que precisam para tracionar e atingir o seu potencial de alto crescimento. Para participar da aceleração, normalmente as startups precisam ceder entre 5% e 15% do seu capital social, o que também pode incluir investimento financeiro por parte da aceleradora.

Durante o ciclo de aceleração, de 6 a 12 meses, a startup recebe capacitações em áreas como marketing, vendas, tecnologia, desenvolvimento de produtos e gestão, e são oferecidas oportunidades de ampliação da rede de contatos dos empreendedores, com foco em vendas ou na busca de investimentos.

Startups que têm potencial de rápido crescimento também podem encontrar serviços de apoio para a escalabilidade. Com isso surgiram as escaladoras, ou “scalerators, que utilizam práticas de venture building para apoiar startups que, no menor período possível, possam ganhar mercado, aumentar o faturamento, identificar oportunidades e contratar funcionários. O objetivo é transformar a empresa em uma scale-up, com crescimento de 20% ou mais por pelo menos 3 anos consecutivos.

Da mesma forma que as aceleradoras, as escaladoras normalmente buscam contrapartidas pelos seus serviços obtendo uma pequena parte do capital social da startup participante. Porém, não possuem ciclos específicos de participação para “graduação” das empresas.

Percebemos que há uma lógica para determinar uma espécie de “caminho feliz” para uma startup, que deveria começar por uma pré-incubadora, e logo depois de iniciar suas operações no mercado, podendo ingressar em uma incubadora, para em seguida ter a oportunidade de participar de uma aceleradora, e tendo potencial de alto crescimento, poder fazer parte de uma escaladora.

A partir dessa interdependência entre os programas de suporte às startups, é natural que haja uma recomendação de que estejam próximos fisicamente, em habitats de inovação. Assim, ecossistemas que possuem todos esses programas passam a ter o potencial de reduzir os riscos referentes às startups, proporcionando um desenvolvimento econômico sustentado, baseado em negócios com grande potencial de impacto positivo local.

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