Projeto iniciado há dois anos pelo SESI atende cerca de 3,5 mil estudantes de 7 a 17 anos no contraturno escolar em diversos municípios do estado.
Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br
As habilidades digitais “nativas” de crianças e adolescentes nascidos no século XXI criaram uma grande interrogação para professores e educadores no novo ambiente de sala de aula. Como formar cidadãos com habilidades para entender os desafios de um mercado e uma sociedade que estão em constante transformação?
A resposta começou a surgir há dois anos, a partir de uma experiência do SESI em Blumenau, que tinha como objetivo colocar os jovens em uma nova perspectiva de aprendizagem, usando tecnologias emergentes (impressoras 3D, softwares de código aberto, robótica) para resolver problemas e desenvolver projetos, sempre em equipes. Assim surgiu o primeiro espaço de Educação Maker de Santa Catarina (e o maior da América Latina, com mais de 1,2 mil m2), iniciativa do SESI que hoje se espalha por 13 cidades catarinenses e, junto a uma rede de 11 laboratórios de robótica, atende em torno de 3,5 mil crianças e jovens – de 7 a 17 anos – no contraturno escolar.
“Estávamos envolvidos em pesquisas sobre modelos educacionais diferenciados, que trouxessem mais engajamento de alunos e professores. Encontramos o Movimento Maker, que potencializa a pesquisa e a investigação, a aprendizagem criativa como desenvolvimento de novas competências alinhadas à sociedade contemporânea”, explica Maria Tereza Paula Hermes, gerente de educação básica da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC).
O Movimento Maker tem a proposta do “faça você mesmo” (do it yourself), que estimula as pessoas a criar seus próprios objetos e tecnologias. Na educação, se traduz na criatividade, colaboração, pensamento crítico, fluência tecnológica, inteligência emocional e tomada de decisão. “O aluno não pode ser mais um repetidor de processos, mas sim um desenvolvedor de soluções, entendendo um problema e colocando a mão na massa em equipe”, reforça a gerente.
Há poucos dias, duas equipes catarinenses foram destaque em um dos principais torneios de robótica dos Estados Unidos, a First Championship, que reuniu estudantes de 60 países em Houston: representando Blumenau, a Techmaker (foto) – formada por seis alunos de escolas públicas e privadas – ficou em 12º. lugar no Desafio do Robô e venceu o troféu “Gracious Professionalism”, concedido ao grupo que mais demonstra respeito entre os colegas do time e os demais competidores. A outra participante catarinense foi a AgroRobots, com estudantes de Seara e Concórdia, que obteve o 14º melhor desempenho no Desafio do Robô entre as 108 equipes participantes.
Como ressalta Maria Tereza, não se trata apenas de uma atividade prática. “A equipe de Concórdia e Seara leu mais de 300 artigos científicos para desenvolver seu projeto. É uma iniciativa que promove efetivamente a pesquisa e a investigação para criar soluções originais e criativas”, afirma.
O mais recente espaço de Educação Maker inaugurado no estado é o de Florianópolis, que desde o início do ano funciona na sede da Astel, no bairro do Itacorubi e atende 25 alunos. É o segundo espaço na região metropolitana da Capital – o primeiro foi em Palhoça, em funcionamento desde 2017 – e o décimo terceiro no estado, presente tanto em cidades polo (como Joinville, Blumenau, Joaçaba, Jaraguá do Sul, São Bento do Sul, Xanxerê) quanto em municípios de menor porte (Ibirama, Indaial, Pinhalzinho e São José do Cedro).
No espaço Educação Maker de Florianópolis, há turmas no turno da manhã, de crianças entre 7 e 10 anos, e outra à tarde, para a faixa etária dos 10 a 17 anos, que trabalham mais dedicados à tecnologia e robótica ao longo de 4h semanais, uma vez por semana. “O planejamento varia de acordo com a turma. Eles mesmos vão descobrindo as possibilidades de projeto e definem o que vão desenvolver. A ideia é que eles venham e criem, não esperem o professor. Os jovens chegam aqui sem o senso de autonomia e acabamos estimulando isso”, explicaTiago Castanho, supervisor de educação da unidade.
EXPLORAR – E NÃO APENAS USAR – A TECNOLOGIA
O programa em SC inclui oficinas de Comunicação & Mídias (cinema, artes cênicas e novas ferramentas de comunicação digital), Tecnologia & Robótica (práticas com Lego, Arduíno, Raspberry Pi, impressora 3D etc.), Matemática, Ciências e Descobertas. O pioneirismo do projeto catarinense já atraiu educadores e representantes da indústria de outros estados, como São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. O Espírito Santo trouxe ao estado uma equipe com 40 profissionais para serem formados nessa nova perspectiva de educação.
“Trazemos as tecnologias como possibilidade de exploração, para deixar de criar usuários passivos de tecnologia para serem exploradores dela, por meio de impressoras 3D, cortadora laser, softwares open source, games… assim eles podem se tornar também desenvolvedores de novas tecnologias”, resume Maria Tereza.
Entre as principais mudanças percebidas no comportamento dos alunos está a nova postura com relação aos desafios propostos. “Não precisa de manual nem de professor para replicar os exemplos. A metodologia de aprendizagem é baseada em projetos, desenvolvimento de competência e trabalho em equipe, se errar não tem problema, é uma possibilidade de aprendizado. As habilidades socioemocionais são colocadas em prática no trabalho em grupo”, diz Tiago.
As inscrições para o programa de Educação Maker podem ser feitas por escolas conveniadas, entidades associadas ao Sistema S em Santa Catarina ou diretamente pelos familiares – há valores de inscrição diferenciados para cada modalidade. Além dos alunos, o propósito da Educação Maker também é contribuir com a formação de professores e a educação pública e privada do estado no contraturno. “Ao passar novas metodologias para o conhecimentos dos professores, estimula-se a inovação no dia a dia da sala de aula”, reforça o supervisor do espaço em Florianópolis.
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