Ecossistema tech de SC lidera investimentos, pesquisa e inovação em mobilidade elétrica

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Ecossistema tech de SC lidera investimentos, pesquisa e inovação em mobilidade elétrica

Fundação CERTI reúne desde 2015 projetos com Celesc e a Weg a favor da redução de emissões de poluentes – e abre um novo mercado para startups

Fundação CERTI reúne desde 2015 projetos com Celesc e a Weg a favor da redução de emissões de poluentes – e abre um novo mercado para startups. / Foto: Divulgação CERTI


[FLORIANÓPOLIS, 10.10.2022]
Por
Lúcio Lambranho, especial para Agência SC Inova

Ao abrir as portas do seu estacionamento amplo no final de cada manhã, um shopping localizado em um centro urbano de Santa Catarina poderá atrair mais vendas oferecendo recarga grátis para os carros elétricos dos seus clientes. A tecnologia de reabastecimento até 2030, ano em que o Estado se comprometeu na última Conferência do Clima em 2021 de reduzir pela metade suas emissões de poluentes, será capaz de “encher o tanque” em um intervalo mais curto de tempo, tudo enquanto o dono do carro fará suas compras nas lojas ou uma refeição na praça de alimentação. 

Para compensar o gasto, a administradora do centro de compras vai ter dois sistemas. Um para gerenciar o carregamento das baterias de lítio onde os carros serão plugados e não sobrecarregar a rede elétrica quando vários clientes fizeram a mesma operação ao mesmo tempo. E outro dimensionando qual tipo de energia será usada a depender do horário e o do custo de cada uma, a da Celesc ou de outras fontes próprias de energia renováveis estaladas no prédio como a solar fotovoltaica ou eólica. Nos painéis de cada recarga na frente de cada carro, espaços de propaganda ou ações de marketing vão reduzir o custo da entrega grátis de energia. Para criar e implantar cada um desses sistemas, startups vão vender seus serviços de softwares e hardwares ao centro comercial

Este é um futuro para o qual o ecossistema catarinense de inovação vem se preparando há pelo menos sete anos e já poderia ser realidade nas estradas e nos postos de conveniência das rodovias de todas as regiões do estado, considerando que Santa Catarina tem uma rede com 34 estações de recarga, o Corredor Elétrico Catarinense, o maior do país com mais de 1.500 quilômetros de rotas eletrificadas inaugurado em junho deste ano. 

Os primeiros passos foram dados ainda em agosto de 2015 quando a Fundação CERTI em parceria com Celesc e o governo de Santa Catarina, por meio do seu programa de P&D/Aneel, criaram o projeto Eletroposto, uma infraestrutura de recarga em toda a sua área de concessão de energia e também conectada com os dois estados da região Sul. 

Iniciada em 2018, a segunda fase do projeto Eletroposto Celesc também deu a rede catarinense de recarga um avanço na tecnologia. São estações rápidas e semirrápidas. A diferença, segundo a Celesc, entre elas é o tempo de duração: as semirrápidas disponibilizam baixa potência e são usadas para recargas públicas em centros urbanos, enquanto as rápidas proporcionam alta potência e são capazes de realizar recargas em até 40 minutos. 

UMA NOVA CADEIA PRODUTIVA PARA A MOBILIDADE ELÉTRICA EM SC

O projeto também prevê a criação de startup para operacionalizar o modelo de negócio criado durante o projeto de pesquisa e desenvolvimento para obtenção de retorno financeiro à Celesc. A empresa, de acordo com a descrição do acordo, poderá ter como fonte de receita taxas para gerenciamento de eletropostos e serviços de engenharia e inteligência de mercado. Pois a participação das startups no desenvolvimento de novos produtos também é uma nova janela neste setor, avalia Laercio Aniceto Silva, superintendente de Negócios da Fundação CERTI. 

“Quando se trata de mobilidade elétrica, o setor agrega mais do que tecnologia de recarga. O gerenciamento energético da demanda e da própria criação desta infraestrutura de recarga. Pode ser eólica, solar fotovoltaica. Poderemos ter novas empresas criando e participando deste negócio como um todo”, diz. 

Eletroposto: uma infraestrutura de recarga  conectada com Santa Catarina e Paraná.
Eletroposto: uma infraestrutura de recarga conectada. / Foto: CERTI (divulgação)

“De certa forma, fazendo de novo paralelo com a telefonia celular, quantos negócios existem hoje em torno da tecnologia móvel? Então certamente com a mobilidade elétrica vão ter soluções para este setor. Diversas empresas vão ser ampliadas ou mudarão a visão de negócios para esta direção. E as startups são muito rápidas e se adaptam muito bem a esse modelo para frente a estas novas oportunidades”, acredita Silva.

Uma nova fase do projeto Eletroposto, ainda depende de ajustes com a Celesc, segundo Silva, mas como mostrou o SC Inova, o governo estadual que controla a empresa de energia, lançou em agosto deste ano as bases para que a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) comande as ações do Programa Catarinense de Estímulo a Mobilidade Elétrica (Programa SC+ELÉTRICA). 

O projeto, que deve criar uma nova cadeia produtiva estadual para a utilização de veículos deste tipo, já tem dois editais da Fapesc lançados em setembro de R$ 1,4 milhão. São chamadas públicas para criação de living labs por pesquisadores e instituições de ensino e propostas de produtos, serviços e projetos criados por startups registradas em Santa Catarina. 

Na visão da Fundação CERTI, a participação dos governos, além de projetos como este com a Celesc, também é esperada na área tributária com nova regulação para o setor de mobilidade elétrica. 

“Do ponto dos governos, nossa expectativa é que a carga tributária para os veículos elétricos seja revista incentivando o uso com uma redução significativa de custo. O outro ponto é que surjam cada vez mais projetos como este da CERTI com a Celesc no sentido de expandir a rede de estações de carregamento. Fazendo de novo um paralelo com a telefonia celular. Tivemos mais celulares sendo usados com mais estações para dar cobertura. E que estações sejam modernas, rápidas e que permitam que em pouco tempo possa ter o recarregamento do veículo elétrico”, avalia. 

O diretor da CERTI também vê com otimismo a possibilidade de mudanças na legislação e novos incentivos fiscais tanto para a compra de carros como na ampliação das redes de carregamentos em estabelecimentos comerciais e ao longos das rodovias. 

“A preocupação com a redução das emissões é cada vez mais crescente no mundo inteiro e muito preocupante sobre a questão do clima. Certamente, a adoção de veículos elétricos é no momento, junto com ações para se evitar o desmatamento, o que pode ajudar a evitar emissões e ajudar o clima. Então os governos têm papel fundamental nestas ações“, diz.

Laercio Silva, da CERTI: "Diversas empresas vão ser ampliadas ou mudarão a visão de negócios para a mobilidade elétrica"
Laercio Silva, da CERTI: “Diversas empresas vão ser ampliadas ou mudarão a visão de negócios para a mobilidade elétrica”.

PROJETO NACIONAL E INOVADOR COM A WEG

Em março deste ano, a Fundação CERTI fez uma exposição de outra parceria na área com Weg, multinacional catarinense que anunciou no final de setembro um investimento de R$ 660 milhões em nova fábrica em Santa Catarina para produção de motores industriais e “de tração elétrica”. O investimento da empresa no novo parque na sua sede em  no complexo industrial da companhia em Jaraguá do Sul (SC) é parte do projeto de estações de recarga para carros elétricos e que foram destaque no  9o. Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria no estande da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).  

Segundo a Fundação CERTI, o desenvolvimento do projeto teve início em 2018 e hoje conta com três modelos principais de estações de recarga: o modelo Wall, projetado para residências e condomínios; o Parking, desenvolvido para shoppings, estacionamentos e espaços públicos; e o Station, ideal para postos e rodovias. No evento em São Paulo será exposto o modelo Parking. Com tecnologia 100% nacional, as estações atendem recargas normais (8 a 16 horas) e rápidas (2 a 4 horas), a depender do veículo.

“A Weg sentiu a necessidade de ter estações da carregamento rápido que pudessem ser estações nacionais. Então a Weg contratou a CERTI para desenvolver a primeira linha nacional de estações de recarregamento de veículos elétricos. Ai não é só mais uma estação, mas uma linha de recarregamento rápido e estamos numa fase final deste projeto”, conta Silva. 

Para o diretor da CERTI, o anúncio da nova fábrica de motores elétricos da empresa catarinense vai ampliar ainda mais as possibilidades de termos veículos elétricos não só no país, mas no mundo, considerando que a Weg é uma multinacional, e a necessidade de estações como esta desenvolvidas nesta parceria que se torna ainda mais importante. 

“Só o fato de ter fabricação no país de motores também vai induzir o crescimento e ajuda na balança comercial por que estes motores serão exportados, assim como a criação de postos de trabalho e na própria construção da fábrica. A CERTI tem competência na área da indústria 4.0, de software e hardware que nos permitem desenvolver estações de carregamento de veículos elétricos, mas também na área de processo produtivo que ajuda a indústria a ter fábricas mais competitivas”, explica.

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