Do mar para a academia: inovação da Surf Evolution ensina a pegar ondas além da praia

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Do mar para a academia: inovação da Surf Evolution ensina a pegar ondas além da praia

Depois de anos desenvolvendo protótipos, startup de Florianópolis se prepara para produzir em escala uma prancha inspirada em treinamento de surfe

Depois de anos desenvolvendo protótipos, startup de Florianópolis se prepara para produzir em escala uma prancha inspirada em treinamento de surfe

Em Florianópolis, a cidade das 42 praias e da maior densidade proporcional de startups no país, surge uma inovação que une a vocação econômica e turística da capital catarinense: um aparelho em forma de prancha que simula mais de 60 movimentos de surfe e que pode ser instalada em casa ou em academias para treinamento funcional. Uma solução para praticar fundamentos de uma atividade física complexa e que só pode – ou poderia, até agora – ser ensinada à beira-mar.

Essa é a proposta da Surf Evolutionuma startup idealizada no início da década pelo empreendedor Francis França, 33 anos, e que após anos de testes e protótipos, começa a ser produzida em escala nos próximos meses para atender academias e também o mercado do varejo.

Enquanto muitos praticantes de surfe começam a se dedicar às ondas desde cedo, a história de Francis no esporte foi tardia: durante toda a adolescência, dos 12 aos 19 anos, ele passou por um quadro grave de depressão, abandonou os estudos e chegou a ficar um dia inteiro em meio a moradores de rua. “Eu quase ‘apaguei’ nessa época, tive surtos depressivos, saí andando e não queria voltar para casa. Até que despertei e tudo aquilo que eu não fiz na adolescência comecei a fazer depois de adulto, como luta, dança, surfe…”, lembra.

Quando procurou uma escola de surfe, a maior dificuldade era o condicionamento físico para movimentos como o joelhinho e a remada. Foi quando ele improvisou, em casa, um cavalete de madeira com elásticos para treinar. Um protótipo informal que virou possibilidade de negócio quando ele começou a fazer na Univali um curso de gestão de negócios de surfe. Quando ele apresentou a ideia ao professor e consultor Marcos Fantazzini, foi surpreendido com a resposta: “ele me disse que, se tivesse mostrado o projeto uma semana antes, tinha R$ 120 mil para investir. Eu vim de família bem pobre, nunca tinha pensado em juntar esse dinheiro na vida, quanto mais investir isso no meu cavalete”, comenta.

O produto, ressalta o fundador da startup, “não é voltado apenas para quem já surfa, mas para quem quer manter o condicionamento físico e ter capacidade de pegar ondas”.

O interesse fez com ele levasse o projeto adiante: fez uma maquete, apresentou para o colega de faculdade Lucas Fenoy, que se tornou o primeiro investidor anjo, e seguiu modelando ideias com outros professores e empreendedores. Foi um processo longo, que ganhou corpo em 2014, com a seleção em programas como o Sinapse da Inovação (e um recurso de R$ 80 mil) e o InovAtiva Brasil, além uma parceria com o Instituto Federal de Santa Catarina para desenvolvimento de um protótipo.

Em 2016, iniciaram uma campanha de financiamento coletivo que acabou não trazendo dinheiro vivo, mas uma série de serviços oferecidos como permuta – de análises biomecânicas a plano de negócio, ações de marketing etc. O protótipo começou a ganhar forma e a Surf Evolution inaugurou um showroom na praia do Campeche, além de expor a máquina em eventos locais como o RD Summit ao OP Pro 30 anos, o campeonato na praia da Joaquina que marcou o revival dos primeiros dias de surfe profissional na Ilha. Participaram também do programa Shark Tank Brasil e impressionaram os investidores do programa com sua invenção. Mas faltava o próximo passo, que era a capacidade de produção em escala.

“No ano passado nós fechamos com uma consultoria que veio transformar a empresa em uma S.A., nos ajudou com o cap table e o valor de mercado. Isso nos ajudou a ir para o Sapiens Parque, no prédio da Acate”, comenta Francis. No espaço, trabalha um grupo de aproximadamente 20 pessoas, entre a parte administrativa, jurídica, educadores físicos e equipe técnica.

A linha de produtos atende desde praticantes domésticos e escolinhas de surfe a grandes academias, com modelos que variam entre R$ 5 mil e R$ 50 mil. Além das máquinas, há as modalidades de franquia: uma delas para quiosques de entretenimento (para levar a shopping centers, por exemplo) e centros de treinamento de surfe, e outra para educadores físicos adquirirem e potencializar o treinamento dos alunos.

A startup também tem uma atleta patrocinada, a surfista Marina Rezende, que atualmente está na tela do Canal Off participando da série América Central por Elas, percorrendo picos para surfar no continente ao lado de outras três esportistas.

Neste ano, a Surf Evolution prevê a entrega de 100 unidades, que serão comercializados pela All Gym, uma distribuidora de equipamentos para academia que tem mais de 9 mil clientes em Santa Catarina. No primeiro semestre de 2019, esperam replicar o modelo para o mercado corporativo. Mesmo sem a produção em escala, a empresa já tem pedidos de vários países: Rússia, Japão, Emirados Árabes, Espanha, França, Estados Unidos… “A demanda veio de forma orgânica, por meio de nossas redes sociais e da exposição institucional. Nosso trabalho agora é dar conta das entregas e captar novos investidores”, explica Francis.

O produto, ele ressalta, “não é voltado para quem já surfa, mas para quem quer manter o condicionamento físico e ter capacidade de pegar ondas”. A analogia é com o cross fit, “uma atividade física baseada em movimentos militares que chegou a um público mais amplo”, e o stand up paddle, que se difundiu rapidamente, tem similaridades com o surfe mas exige menos esforço e pode ser praticado fora do litoral. “Se levarmos essas condições para qualquer lugar, podemos ter um mercado mundial. A atividade funcional está em alta e o surfe vende muito fácil”, completa Francis, que faz questão de contar sua história de vida em palestras motivacionais.  

Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br