Do desenvolvimento ao “early exit”: as experiências de quem, na casa dos 30 anos, vendeu sua startup

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Do desenvolvimento ao “early exit”: as experiências de quem, na casa dos 30 anos, vendeu sua startup

No Startup Summit, empreendedores da Conaz, Hiper e Total Voice compartilharam com o público o caminho que os levou a crescer rápido e vender suas empresas para gigantes do setor.

No Startup Summit, empreendedores da Conaz, Hiper e Total Voice compartilharam com o público o caminho que os levou a crescer rápido e vender suas empresas para gigantes do setor, no painel “A vida depois do exit”. Foto: Fabrício Almeida/Startup Summit

 

Nas décadas de 1980 e 1990, o sonho dourado dos yuppies (não sacou? veja aqui) era conquistar o primeiro milhão antes dos 30 anos. O que aqueles vorazes jovens que atuavam em sua maioria no mercado financeiro e de capitais não imaginavam era que, algumas décadas depois, outros caras com a mesma faixa etária alcançariam cifras significativamente maiores negociando as tecnologias desenvolvidas por eles mesmos. E em Santa Catarina, não no Vale do Silício. 

Diferente do perfil arrogante característico dos yuppies, boa parte dos empreendedores do século XXI se destaca pela discrição. Dos milhares de participantes que estavam na plenária do Startup Summit na última semana, em Florianópolis, a maioria provavelmente não conhecia os três caras que estavam no palco no painel “A vida depois do exit“, que apresentou casos de fundadores de startups em Santa Catarina – todos na faixa dos 30 anos – que foram vendidas neste ano.

EM COMUM, A TRAJETÓRIA POR PROGRAMAS DE CAPACITAÇÃO E ACELERAÇÃO

Há três anos, o empreendedor Renan Lecheta entrava no programa de capacitação StartupSC com o objetivo de estruturar sua recém criada construtech Conaz, de Florianópolis, que faturava em torno de R$ 1 mil por mês e era formada pelos quatro sócios e dois funcionários. Foi no mesmo ano que entrou no programa a Total Voice, empresa de Palhoça que estava mudando radicalmente seu modelo de negócio na área de serviços de telefonia para empresas de tecnologia. As duas empresas seguiam o caminho trilhado alguns anos antes pela Hiper, startup de Brusque que tinha uma solução para pequenos varejistas e que estava em acelerado processo de crescimento.  

Em 2019, as três empresas foram vendidas para grandes empresas de seus mercados: a Hiper teve um exit de R$ 51 milhões para a Linx, de tecnologia para o varejo; a Conaz foi adquirida pela construtech paulista Âmbar, com foco em habitação popular; e a TotalVoice agora é parte da gaúcha Zenvia, que atua no setor de telecom. 

O que essas três jornadas diferentes têm em comum? Todas passaram por programas de apoio e desenvolvimento de novos negócios em Santa Catarina, do StartupSC (as três) à incubadora Miditec e a aceleradora corporativa Darwin Startups

“Nós entramos no StartupSC sem um fundador de tecnologia. Éramos uma empresa de engenheiros que ainda não tinha seu modelo de negócio e nicho definido”, lembra Renan, co-fundador da Conaz. Ao longo daquele ano em que começaram no programa, eles definiram que o foco de sua plataforma de conexão entre construtores e fornecedores de insumos seriam as pequenas e médias construtoras e, a partir disso, montaram seu modelo de vendas junto à aceleradora ACE. 

Em 2018, quando já estavam atendendo mais de 100 construtoras e com uma receita recorrente mensal de R$ 50 mil, começaram a ser procurados para uma aquisição. Após dez meses de negociações – dificultadas porque “a casa não estava tão organizada e a documentação para o deal é robusta”, ressalta o fundador – o negócio foi fechado e agora a Conaz é uma unidade de negócios da Âmbar, que manteve a mesma estrutura em Florianópolis e é parte de um projeto de expansão geográfica e de portfólio, junto com outras unidades de negócio.

DO VoIP A UM NOVO MERCADO 

O empreendedor João Selarim entrou na TotalVoice em 2015 quando a empresa ainda fornecia um serviço tradicional de VoIP (chamadas telefônicas via internet) e enfrentava um mercado repleto de concorrentes com baixa margem de lucratividade. Com a ideia de desenvolver uma API (interface de integração) de comunicação por voz e texto para empresas de tecnologia, ele validou o foco e o modelo de negócios – fornecendo inicialmente para o setor de TI – e buscou investimento-anjo, aportado pelo fundo BossaNova. A empresa cresceu seis vezes em um ano, saltando de um faturamento de R$ 170 mil em 2016 para R$ 1,1 milhão em 2017. No ano passado, praticamente dobrou os resultados e já contava com 19 colaboradores. 

Enquanto buscavam recursos para uma nova rodada de crescimento, receberam a proposta da Zenvia, empresa para a qual forneciam soluções de voz, e fecharam a venda após nove meses de negociações e questões legais. “Fomos a quinta empresa adquirida por eles, que mostraram um processo muito humano de aquisição, de aprender com nossos processos”, detalhou João. 

“NÃO DEIXAMOS ESQUELETOS NO ARMÁRIO” 

Das três startups que contaram suas trajetórias no palco do Summit, a Hiper foi a primeira a passar pelo StartupSC, na terceira turma (2013/2014). Na época, a empresa tinha uma equipe enxuta (sete pessoas, boa parte delas ainda na equipe atual de mais de aproximadamente 150 colaboradores) e mil clientes, número que dobrou após o programa de capacitação mantido pelo Sebrae/SC. “Nosso foco era ganhar tração”, contou Tiago. 

Em seguida, foram acelerados pela ACE, de São Paulo, quando dobraram o volume de clientes novamente, e buscaram uma rodada série A (R$ 4 milhões, da gestora de venture capital Cventures com o fundo M3). “A captação veio bem na época do impeachment, em 2016, uma confusão gigante no cenário político e econômico”, lembra o fundador. Se o ambiente no Brasil era de caos, ao menos a área financeira e contábil da Hiper estava rigorosamente ordenada. “Quando recebemos o recurso e viramos uma S.A, mudou tudo na parte contábil, criamos um setor de controladoria e investimos nele. A ideia era não deixar ‘esqueletos no armário’ nessa área”.  

Quando, no final de 2018, surgiu a oferta da Linx, uma gigante de tecnologia para o varejo, a casa em ordem ajudou a Hiper a fechar a venda em um tempo relativamente curto: cerca de três meses. “Valeu a pena termos feito esse movimento na área financeira e contábil. Todo o processo foi rápido e intenso porque estávamos com tudo organizado”, concluiu Tiago. Hoje ele é diretor na vertical para pequeno varejo da Linx S.A e, como os demais empreendedores naquele palco, também uma referência para outros tantos que estavam na plateia do Startup Summit e que não pensam como os yuppies.

Cobertura: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br