Para ter uma história para dividir com consumidores, as marcas precisam conhecer sua identidade, saber por que existem e o que de fato seu produto ou serviço resolve na vida das pessoas.
Por Manoela Hoffmann*
Já é claro que a era em que as marcas vendiam seus produtos com discursos unilaterais acabou. As mídias convencionais (TV, rádio, impressos etc.), que antes davam o tom da comunicação, hoje desabam aos pés do universo online onde o público opina e constrói uma relação humana na interação com as marcas que acredita e confia. A facilidade da internet trouxe essa liberdade ao consumidor, que tem acesso a qualquer informação em multitelas: computador, tablet, smartphone etc.
Ou seja, as pessoas podem e querem falar com as marcas, se identificar com elas, reconhecer nelas valores que se assemelham aos seus. Mas para ter uma história para dividir com esses consumidores sedentos, as marcas precisam conhecer sua identidade, saber por que existem, como entregam valor ao mercado e o que de fato seu produto ou serviço resolve na vida das pessoas.
PROPOSTA DE VALOR
Antes era impossível imaginar que uma empresa, nascida de forma regional, com um produto regional, pudesse conversar de forma franca com seu consumidor, fazendo com que sua marca fosse relevante o suficiente a ponto de substituir produtos líderes de mercado. Isso porque à frente de tudo estava o produto e não quem o produzia – ou, menos ainda, quem o consumia. A grande descoberta – tão óbvia, porém não tão clara à época – é que as empresas são feitas por pessoas e pessoas falam, pessoas se conhecem, pessoas criam círculos de conexão e pessoas querem proximidade e voz.
É essa ‘voz’ que hoje ocupa as mídias sociais e oportuniza o crescimento das empresas a partir de propostas de valor alinhadas com os desejos das pessoas. Se uma empresa sabe seu propósito, saberá mais facilmente conquistar seus consumidores, porque consegue comunicar o que a torna única e diferente de todas as outras marcas que existem por aí.
A HORA E A VEZ DA ESTRATÉGIA
Perdi as contas de quantas vezes me perguntaram o que é design estratégico e por que afirmo que as empresas que investem em marca estão acertando a mão na definição do seu propósito e, consequentemente, na interação com o consumidor. Simples. Uma empresa precisa resolver um problema de um grupo de pessoas e a resolução desse problema é o por quê da sua existência. Ou seja, resolvendo um problema uma marca gera valor para o seu consumidor que a reconhece pelos seus atributos únicos.
Explicando de forma mais prática: se a indústria, o varejo ou um tipo de serviço precisa melhorar seus resultados, o design estratégico pode percorrer o caminho de mercado inerente ao produto ou serviço, produzir um diagnóstico e desenhar um plano de ação para que a comunicação com o consumidor seja eficaz onde a marca estiver inserida.
Esse contexto serve de munição para reconhecer os pontos positivos e negativos da marca (produto ou serviço), entender o posicionamento e as políticas da empresa. Assim, é mais fácil para os setores que trabalham com a gestão melhorarem o desempenho de mercado, desenvolvendo produtos e serviços relevantes e, assim, oferecendo ao consumidor o que ele de fato deseja.
INOVAÇÃO, VANGUARDA E VALOR DE MARCA
Recentemente a catarinense Biomercado, com sede em Palhoça, lançou sua marca própria – denominada Souly. A história da empresa é recente, mas com uma capacidade de inovação surpreendente: primeiro criaram um e-commerce chamado Novidade Saudável, que reúne as marcas mais famosas do mundo em alimentação natural, orgânica e vegana e trouxeram às mãos dos brasileiros.
Recapitulando: eles resolveram um problema das pessoas, aproximando marcas mundiais dos consumidores no Brasil, cuja demanda por esse tipo de produto (saudável e natural) aumenta a cada dia (segundo a agência Euromonitor Internacional, até o ano de 2021 o mercado de alimentação saudável no Brasil deve crescer, em média, 4,41%). Sucesso garantido: mais de 150 mil seguidores no Instagram e um público fiel e interativo. Estava claro que era possível mais e, foi assim que a Souly surgiu, a partir da necessidade do consumidor.
Além dos produtos disponíveis no site de compras, os empreendedores pesquisaram o mercado para entender o que mais caberia para incrementar seu mix. Descobriram que era possível importar e embalar proteínas vegetais puras e criar uma linha completa de plant-based, com assinatura própria. E o melhor, utilizar os canais de comunicação que já possuíam para os consumidores que já haviam despertado para o consumo de produtos mais naturais, saudáveis e limpos.
A marca Souly – Feed your soul nasceu assim, pensada pela relação de interesse dos consumidores, em suas necessidades reais por alimentação saudável e alimentos com alto poder nutricional. O padrão visual e verbal segue a proposta de valor da marca – prezar pela integridade dos alimentos e a qualidade das relações humanas – e o diálogo com o consumidor é próximo e interativo.
Chance de erro: baixa; representação do valor de marca: surpreendente!
*Manoela Hoffmann é sócia na Move Design Estratégico
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