Startup, que nasceu em Santa Maria (RS) e hoje também tem sede em Florianópolis, cresce levando o modelo Rappi/iFood/UberEats para 180 cidades de pequeno e médio porte. Na foto, os sócios Pedro Judacheski, Fernando Giaretta e Guilherme Kruel.
[FLORIANÓPOLIS, 27.06.2019]
Por Fabrício Rodrigues, editor SC Inova – scinova@scinova.com.br
Enquanto moradores de capitais e das cidades de maior porte do país já estão se acostumando à comodidade trazida pelos aplicativos de entrega – seja de comida (iFood, Uber Eats) ou de qualquer coisa (Rappi) – quem está no interior se sente à margem dessa revolução tecnológica que chegou ao setor de serviços nos últimos anos.
Mas não por muito tempo, se depender da Delivery Much, uma startup que surgiu em 2011 em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, e que há cerca de três anos se mudou para Florianópolis. Em crescimento acelerado nos últimos anos, a empresa fundada por Pedro Judacheski (CEO), Fernando Giaretta (CTO) e Guilherme Kruel (CFO) se tornou o maior app de delivery de comida para cidades do interior, presente em 180 municípios – de Cacoal, em Rondônia, até Pelotas, no extremo sul gaúcho – e com um portfólio de 6 mil restaurantes que atendem diariamente mais de 1 milhão de usuários.
“Nosso propósito é democratizar a revolução global de delivery pelo interior do Brasil e, num próximo momento, de países da América Latina também”, explica o CEO e cofundador Pedro Judacheski.
Santa Catarina, além de ser o maior escritório da empresa, representa 24% do volume transacionado na plataforma – cerca de R$ 10 milhões no primeiro semestre de 2019, um total que dobrou em relação a 2018, estima Pedro. O app está em 21 municípios catarinenses, desde polos regionais (Blumenau, Lages, Criciúma, Tubarão, Rio do Sul, Joaçaba e Jaraguá do Sul) até outros de menor porte, como Timbó, Canoinhas, Navegantes, Porto União, Rio Negro e Pomerode, por exemplo. Só em Rio do Sul, considerado um dos melhores cases do país, o volume de vendas ultrapassou a marca de R$ 2,5 milhões, no início deste ano.
A startup já levantou cerca de US$ 5 milhões em duas rodadas de investimentos e espera fechar uma captação significativamente maior ainda neste ano, a partir do qual pretende escalar a presença em 700 municípios do interior do Brasil. E com planos de expandir para a América Latina. O primeiro aporte, de nível seed capital, foi feito pela Novitá Aceleradora de Investimentos, que ampliou sua parte na empresa com um segundo round em conjunto com Alex Tabor, fundador do Peixe Urbano.
A Delivery Much atua no modelo de franquia: cada cidade conta com um franqueado que fica responsável pela captação dos restaurantes locais que farão parte do aplicativo. Do valor de cada compra via app, 7% fica com o franqueado e 3% com a Delivery Much. “O empreendedor que participa como franqueado acaba se tornando uma referência tecnológica em sua região. Nós damos um ‘banho de cultura’ de tecnologia para ele levar o produto diretamente aos donos dos restaurantes. Os municípios do interior são muito carentes em relação a isso”, detalha Pedro.
Uma das vantagens do modelo de negócio são os grandes players – iFood, Uber Eats e Rappi – como referência para abrir o mercado e aculturar o consumidor com relação à compra de comida e outros produtos por meio do celular. “Eles levam a inovação para os grandes centros e nós expandimos para o interior. Mas pensamos diferente deles, queremos escalabilidade, com foco no relacionamento hiperlocal e na democratização da tecnologia, despertando o senso empreendedor no interior a partir da figura do franqueado”, explica o CEO.
O AMBIENTE DE “EMPREENDEDORES ABERTOS” DE FLORIANÓPOLIS
O principal motivo que fez a Delivery Much vir à capital catarinense foi o fato de “os empreendedores daqui serem muito abertos”, comenta Pedro. “Viemos, claro, muito em função do ecossistema ser forte, mas também precisávamos nos conectar com outras startups que passavam pelas mesmas dores do crescimento”.
O acesso geográfico também contou a favor de Florianópolis, pela centralidade na região sul-sudeste, além da qualidade de vida, já que muitos dos colaboradores da empresa no Rio Grande do Sul tinham interesse em se mudar para outros locais. Os ares na capital catarinense – e o “ecossistema aberto” – favoreceram a empresa, que hoje conta com 90 funcionários (30 a mais do que tinham há um ano), sendo que 55 estão na sede Florianópolis e os outros 35 continuam em Santa Maria.
Em 2018, a Delivery Much foi uma das selecionadas pelo programa de aceleração da Endeavor, o Scale-up, destinado a startups que crescem pelo menos 20% anualmente por pelo menos três anos consecutivos. “Sou fã da missão da Endeavor, que é ajudar o empreendedor que está num ritmo forte de crescimento. Um dos maiores valores que este programa entrega é o ambiente de confiança, a transparência. Se um dos mentores por acaso não consegue te ajudar, vão encontrar outro que certamente vai fazer a diferença. É algo intangível, mas que faz a diferença nos negócios”, aponta o CEO.
A partir do próximo round de investimento, a empresa espera avançar também em outras “verticais” de negócios, além do setor gastronômico, testando a logística para entrega de produtos farmacêuticos, produtos gerais para a casa e o trabalho, além de documentos. Como calcula Pedro, “temos pelo menos 700 cidades para explorar e estamos apenas em 180 ainda. O mercado de food service no interior do Brasil movimenta R$ 20 bilhões, sem falar nas farmácias e no setor de serviços. Há muito espaço para crescermos”.
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