[CULTURA DIGITAL] Web 3.0 Tomo 6 | O poder das comunidades

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[CULTURA DIGITAL] Web 3.0 Tomo 6 | O poder das comunidades

No NFT Rio, percebi a forma mais contundente de engajamento de pessoas, sem amarras, sem preconceitos e completamente caótico.

Um grupo de pessoas falando de uma nova forma de fazer arte contemporânea tecnológica. No NFT Rio, percebi a forma mais contundente de engajamento de pessoas, sem amarras, sem preconceitos e completamente caótico. 


[08.07.2022]
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Por Alexandre Adoglio, CMO na Sonica e Diretor no grupo Marketing&Vendas/ACATE Startups.
Escreve quinzenalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova.

ATENÇÃO: Nada neste artigo é uma recomendação de investimento, este conteúdo tem apenas fins educativos e exprime a opinião do seu autor. Faça sempre sua própria pesquisa para qualquer tipo de investimento financeiro.

Foi de maneira quase imperceptível.

Ela passou por nós sorrindo e falou com um outro grupo ao nosso lado, gesticulando bastante com as mãos de anéis e sorrindo com seu curto cabelo verde. Em seguida, gentilmente, entregou algo às pessoas ali. “Provavelmente um folder de marketing” pensei na minha cabeça boomer

Voltando-se a nós ela sorriu novamente, disse que qual era seu propósito e que gostaria que fizéssemos parte dele, pois estávamos ali e só isso nos autorizava a adentrar no seu mundo. Entregou um pequeno cartão a cada um de nós e se virou, caminhando para o próximo grupo. No material bem produzido se lia o nome da comunidade Women Force em uma face e na outra um QR Code que, escaneado, liberava um NFT de presente que permite uma série de interações com o grupo.

Olhei ao nosso redor e percebi que não só ela, mas alguns outros agentes estavam fazendo o mesmo esforço, se deslocando continuamente na multidão dentro do Parque Lage, conversando, interagindo, trocando cartões de QR Code, convidando, integrando esforços e comungando do mesmo propósito.

Impulsionamento de Instagram? Não fui impactado por nenhum.

Promotora no estande distribuindo brindes? Tinha o Mercado Bitcoin com uma ativação livre de carbono, distribuindo…NFts e cursos.

E-mail marketing, newsletter, landing page, inbound? Nada.

Somente um grupo de pessoas falando de uma nova forma de fazer arte contemporânea tecnológica em um evento dentro de um local histórico do Brasil e templo do tradicional Instituto de Belas Artes. E assim, durante NFT Rio ocorrido na semana passada, que percebi a forma mais contundente de engajamento de pessoas, sem amarras, sem preconceitos e completamente caótico.

NFT Rio 2022: Primeira exposição internacional sobre o tema realizada no Brasil.
NFT Rio 2022: Primeira exposição internacional sobre o tema realizada no Brasil.

GOVERNANÇA É O CA%¨#$@

Gestão é controle, ponto. Nós, fundadores, executivos e empreendedores lidamos com tantas variáveis que precisamos adotar medidas de planejamento e condução de atividades para executar as demandas corporativas e empresariais. Queremos, acima de tudo e todos, pilotar o avião com o máximo de performance e previsibilidade possível, lidando com alguma turbulência aqui e ali, mas sempre tendo a mão no manche. E com o advento da tecnologia no marketing os controles passaram a ser ainda mais efetivos, com CTRs, OKRs e KPIs direcionando todas as decisões que tomamos em relação a geração de demanda para os negócios.

Daí vem então a pandemia, coloca a todos de joelho, e eleva o custo de aquisição às alturas, tornando o marketing digital um tanto caro e raro para muitos. Adentra ao cenário então uma vertente social que até então estava alocada para a periferia da gestão, as comunidades.

A história da organização comunitária tem suas raízes no final do século XIX. A Revolução Industrial na Inglaterra em meados de 1800 transformou sua economia de agrária para industrial e isso, por sua vez, levou ao processo de rápida urbanização, levando muitas pessoas nas áreas rurais a se mudarem para as áreas urbanas em busca de meios de subsistência. 

As áreas urbanas com indústrias tornaram-se centros de exploração, doenças, acidentes, deficiências, desemprego e outras questões socioeconômicas. As famílias que lutaram para sobreviver tiveram dificuldade em sobreviver nessas circunstâncias e ficaram com apenas algumas opções para se sustentar nos centros industriais: ou seja, ajuda do governo, caridade privada ou mendicidade. Era comum afirmar que tais indivíduos e famílias eram um fracasso devido às suas próprias fraquezas e deficiências e que sua pobreza e angústia nasceram de causas individuais.

Nascem daí as organizações comunitárias, associações informais de pessoas voltadas a fazer aos mais necessitados e proteger os direitos da sociedade. Estes  primeiros esforços de organização comunitária para o bem-estar social foram iniciados na Inglaterra para superar o problema agudo da pobreza, que levava à mendicidade.

O primeiro esforço desse tipo foi a Lei Elisabetana dos Pobres (1601) na Inglaterra, que foi criada para fornecer serviços aos necessitados. Outro marco importante na história da organização comunitária é a formação da London Society de organização de ajuda caritativa e repressão à mendicância e a Origem do Movimento Settlement House na Inglaterra durante 1880.

A Filosofia Básica de Organização Comunitária compreende:

  • O aspecto fundamental das organizações comunitárias é o princípio do “espírito cooperativo” que promove a união das pessoas para resolver um problema comum.
  • A organização comunitária reconhece o espírito dos valores e princípios democráticos com foco na criação de envolvimento democrático.
  • A organização comunitária reconhece o poder dos indivíduos. Acredita que, por meio da força coletiva das pessoas, um melhor trabalho em equipe e a adoção de métodos científicos podem fornecer soluções abrangentes para os problemas sociais.
  • Outra filosofia é a da coordenação. Preocupa-se com os ajustes e inter-relações das forças na vida comunitária para o bem comum.

Desta base temos o atual renascimento das comunidades, voltadas a um propósito único, com regras estabelecidas entre seus membros, fortalecidas pela disseminação da tecnologia blockchain. (N.A.: Termo abrangente, mas podemos considerar a rede Ethereum como um nome mais apropriado)

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COMUNIDADES E TOMADA DE DECISÃO

E é neste ponto encaramos o desafio entre gestão de negócios e geração de comunidades, sendo um forte ponto de inflexão para todos nós. O fortalecimento destas comunidades, em especial o surgimento das DAOs (Organizações Autônomas Descentralizadas), traz a possibilidade dos usuários de determinado serviço serem seus proprietários, consumidores, acionistas, vendedores e advisors, tudo ao mesmo tempo agora. Isto acontecendo em uma variável tão grande de acontecimentos que é praticamente impossível gerir naquele mindset de controle. 

A possibilidade de estabelecer regras desde o momento zero da criação de uma comunidade, via tokens de governança em contratos inteligentes (smart contracts) baseados em blockchain, permite que o membros core possam conduzir tarefas de forma automática através de guildas e tarefas postadas em links de trabalho, onde qualquer membro possa se candidatar e executar. Ainda em fase de “experimento antropológico”, as DAOs estão se mostrando uma verdade tangível para um mundo utópico descentralizado e sem liderança.  

ATENÇÃO: tem muita auto-intitulada DAO por aí que na real é uma reunião de condomínio, com síndico e tudo (piada interna no meu artigo, porque sim).

Victor Chioffy, Community & Culture Developer de Web 3.0 afirmou em uma recente imersão do Bankless DAO que a participação na decisão é um dos fatores mais importantes para fomento de uma comunidade. Ideias, projetos e construções com a participação da comunidade têm mais simbiose e mais identificação dos membros, gerando engajamento além das trincheiras corporativas. Quer ver seu time “vestindo a camisa”? Descentralize decisões.

Em seu artigo How To Harness The Power Of Community, Jennifer Best da Forbes nos dá algumas pistas de como podemos transformar comunidades em potenciais negócios:

  1. Tenha uma marca com algo a dizer. (Dica: não é sobre o que você vende, mas sobre o que você é.)
  2. Descubra tudo o que puder sobre seu mercado-alvo, incluindo o que eles gostam, por que compram, onde gastam seu dinheiro e como gastam seu tempo livre.
  3. Crie FOMO e exclusividade, e faça com que se sintam valorizados.
  4. Capacite seu público-alvo a compartilhar sua marca.

Alguns cases interessantes de comunidade que podemos nos referenciar:

TESTE A/B FOREVER

Voltando ao NFT Rio, com a proximidade de nossa apresentação decidimos que este seria o caminho para melhor posicionar a nova versão da plataforma que estamos lançando, Sonica Web3. Convidamos a organização do evento a escolher uma comunidade para que fosse nosso projeto de apresentação ao mercado, principalmente às pessoas que ali estavam. 

Selecionaram o Coletivo XV, famoso grupo de skatistas da praça homônima no Rio de Janeiro, que angaria fundos através da venda da arte dos seus membros. 

Muito mais que uma experimentação em si, queríamos testar a plataforma ao vivo, construindo o website desta comunidade e lançando seu primeiro NFT, tudo em 30 minutos. Levamos 40 devido à conexão wifi via celular 🙁

Uma ideia que levou meu sócio Márcio Gonzaga Jr a um bom nível de stress, mas se mostrou eficaz pois conseguimos engajar o público de tal maneira que fomos cercados por uma pequena multidão ao fim da apresentação. Negócios estão surgindo através destas comunidades, sejam com ou sem fins lucrativos, mostrando o caminho que precisamos percorrer nos próximos anos.

Foi épico.
Foi comunitário.
Foi o futuro.

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