Como a Terracotta Ventures quer apoiar a transformação digital no mercado imobiliário e da construção civil

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Como a Terracotta Ventures quer apoiar a transformação digital no mercado imobiliário e da construção civil

Fundada por Bruno Loreto e Marcus Vinicius Anselmo – egressos do projeto Construtech Ventures – empresa vai lançar, em breve, um fundo setorial para investir cerca de US$ 25 milhões em construtechs e proptechs do Brasil e exterior.

Fundada por Bruno Loreto e Marcus Vinicius Anselmo (foto) – egressos do projeto Construtech Ventures – empresa vai lançar, em breve, um fundo setorial para investir cerca de US$ 25 milhões em construtechs e proptechs do Brasil e exterior. / Foto: Divulgação

[FLORIANÓPOLIS, 11.12.2019]
Por Fabrício Umpierres, editor –
scinova@scinova.com.br 

O setor da construção civil e imobiliário viveu uma década “inesquecível” no Brasil. O que começou com um cenário dos mais promissores, com crédito farto e incentivos em diversos pontos da cadeia (da compra de insumos ao financiamento de imóveis), passou por uma verdadeira hecatombe a partir da crise de 2014 e toda a perspectiva mudou da água para o vinho. De repente, veio o impacto da “transformação digital” e o segmento se viu na rabeira entre todas as atividades econômicas que agregam tecnologia e soluções inovadoras.

Nos últimos anos, porém, o mercado começou a esboçar uma reação contra o tempo perdido e a necessidade de inovar. E isso passa pelo movimento das startups voltadas a desenvolver soluções a este setor, as construtechs. “Em 2017, quando lançamos o primeiro levantamento do país, haviam 230 projetos, entre startups e ideias que ainda estavam no Power Point. Em 2019, quando atualizamos esse mapa, chegamos facilmente a mais de 800 startups – e ainda deixamos algumas coisas de fora”, explica Marcus Vinicius Anselmo, ex-diretor de Novos Negócios da Softplan, unidade que deu origem ao Construtech Ventures, braço de investimentos em startups criada pela companhia.

Há alguns meses, Marcus e o sócio Bruno Loreto (que foi responsável pela operação da Construtech Ventures durante dois anos) se uniram para desenvolver um novo negócio, a Terracotta Ventures – uma empresa de investimento que “apoia startups que trazem inovação a esse mercado, e também empresas tradicionais que querem investir em novos negócios”, ressalta Loreto. A expectativa é captar em torno de US$ 25 milhões para serem aportados entre 10 e 15 empresas no Brasil e em outros mercados como EUA, Europa e América Latina ao longo dos próximos anos, na faixa de seed  até series A – investimentos que podem variar, em média, de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões, além do capital para follow on (o que significa um novo aporte às investidas).

Lançado em agosto deste ano, o Terracotta Ventures tem na área de advisoring de inovação clientes como grandes incorporadoras (como Cyrela e MRV), empresas de gestão e venda de imóveis (Grupo Zap, Brasil Brokers e Brognoli), software para condomínios (Superlógica) e uma gigante do varejo com braço no setor imobiliário (GPA Malls). Há outros mercados, como o da paranaense Hydronorth, que desenvolve tintas e resinas. “E para esse mercado você pode pensar em nanotecnologia, indústria 4.0 e por aí vai”, pontua Marcus. A equipe da Terracotta é formada pelos sócios, mais um profissional advisor de tecnologia, dois analistas e um gerente de ecossistema. 

O mapa das construtechs do Brasil, organizado pelo MitHub.

Como explica Bruno Loreto, a ideia é atuar gerando valor em todas as etapas da cadeia produtiva: “olhamos tudo, provendo mentorias e conexão para construtechs em estágio inicial, captando investimento para escalar aquelas que estão na fase de tração e atuando como advisors de inovação para as grandes empresas do setor. Além disso, somos embaixadores do projeto MitHub, uma comunidade para apoio de inovação ao mercado”.  

Durante palestra no Fastbuilt Experience, evento dedicado à inovação no setor da construção realizado em Blumenau em outubro passado, Bruno destacou que 64% das construtechs mapeadas foram criadas nos últimos cinco anos. A maior parte (35%) são de projetos ligados a aquisição e intermediação de imóveis e terrenos, enquanto 30% representam soluções para propriedades que estão em uso, 26% das startups oferecem inovação para processos construtivos e apenas 9% são voltadas a projetos pré-obras.

MATURIDADE DO MERCADO É MOMENTO PARA CAPTAR RECURSOS E INVESTIR

Após três anos estudando os movimentos de inovação no setor de construção civil e mercado imobiliário, lembra Loreto, “vimos se repetir no Brasil o mesmo fenômeno que começou há quatro ou cinco anos nos EUA e na Europa: novos empreendedores apostando no setor, investidores aumentando suas apostas, casos de sucesso chamando atenção do mercado e grandes empresas se voltando às startups como fonte de oportunidades”. Foi a tese que levou ao surgimento da Terracotta Ventures. 

A expectativa é captar em torno de US$ 25 milhões para serem aportados entre 10 e 15 empresas no Brasil e em outros mercados como EUA, Europa e América Latina

O setor está saindo da maior crise das últimas décadas e hoje há uma maturidade maior quando se fala em inovação“, analisa Marcus Vinicius. Nesta primeira fase de conexão, as grandes empresas acabaram usando a mesma metodologia de programas de aceleração para encontrarem startups que pudessem gerar inovação para seus negócios. “Ao longo de quatro anos, surgiram vários programas de inovação e várias grandes empresas já começaram suas conexões com o ambiente de startups, já entenderam o que funciona e o que não funciona, e agora passam a enxergar oportunidades de uma outra maneira, sabendo melhor como investir”. E o mercado está aquecido para novos negócios: do início de 2018 até meados deste ano, calcula Marcus, as startups ligadas a este setor receberam um total de R$ 1,7 bilhão em investimentos, num total de 44 deals

Criar um fundo de investimento com foco em um único segmento é fato novo no ambiente de capital de risco no Brasil – uma das poucas é o Fundo de Inovação Paulista, da SP Ventures e dedicado às agrotechs. E há outro fator que merece atenção: “quem está no mercado de construção não costuma investir em startups. E certamente não vão investir em empresas genéricas. É um perfil de demanda um pouco de educação de mercado e, nesse ponto, pelo nosso histórico, temos um grande conhecimento da área. Também não queremos ser um fundo que só olha tração e resultado financeiro, pretendemos fazer coinvestimento nas empresas”, detalha. O fundo ainda está em fase de captação e licenciamento junto à Comissão de Valores Mobiliários.