A revolução da Inteligência Artificial (IA) já está moldando o futuro do trabalho, com implicações que vão do aprendizado à gestão de equipes, aquisição de talentos e planejamento estratégico. / Imagem: DALL-E/SC Inova
[01.10.2024]
Por Eduardo Barbosa, CEO da Brognoli Imóveis e um dos responsáveis pelo Conselho Mudando o Jogo (CMJ) em SC e RS. Escreve sobre inteligência artificial no ambiente corporativo na série “Diários de IA”
A partir de uma recente pesquisa do BCG Henderson Institute, cinco áreas fundamentais em que a IA terá impacto direto podem ser destacadas: aprendizado, gestão de equipes, aquisição de talentos, identidade profissional e planejamento estratégico da força de trabalho.
Neste artigo vamos explorar como cada uma dessas áreas pode ser transformada e como as empresas e trabalhadores devem se preparar para enfrentar esses desafios.
APRENDIZADO E DESENVOLVIMENTO
Com a IA, a necessidade de dominar completamente uma tarefa antes de executá-la está diminuindo. Plataformas alimentadas por IA podem orientar trabalhadores em tempo real, permitindo que eles realizem tarefas complexas com assistência.
Um exemplo claro é o uso de assistentes de IA em desenvolvimento de software, como o GitHub Copilot, que sugere códigos para programadores e acelera o processo de desenvolvimento. Embora a aprendizagem tradicional continue relevante, o aprendizado contínuo com IA será crucial para adaptar-se rapidamente a novos desafios.
Desafio: A criação de uma cultura de aprendizado constante nas organizações será imperativa, à medida que a automação substitui tarefas rotineiras e os profissionais precisam se concentrar em habilidades mais estratégicas e criativas.
GESTÃO DE DESEMPENHO E EQUIPES
A IA também transforma como as equipes são organizadas e gerenciadas. Modelos de previsão baseados em IA já são usados para monitorar o desempenho em tempo real, identificando padrões que podem prever falhas de produtividade ou sobrecarga de trabalho. Empresas como a Salesforce utilizam IA para monitorar a eficiência das vendas, ajustando o trabalho das equipes em tempo real.
Exemplo: no varejo, a IA pode prever demandas de estoque e sugerir mudanças nas escalas de funcionários, otimizando o desempenho das equipes com base no fluxo de clientes.
Desafio: A IA exigirá que gestores reequilibrem o trabalho entre especialistas e generalistas. Equipes precisam ser formadas por um mix entre trabalhadores que dominam tarefas específicas e outros que podem gerenciar uma gama maior de funções, com o apoio de IA.
AQUISIÇÃO DE TALENTOS E MOBILIDADE INTERNA
A IA está reconfigurando como recrutamos e desenvolvemos talentos. Plataformas de recrutamento, como o LinkedIn, já utilizam algoritmos para sugerir candidatos que podem não ter a experiência exata, mas que demonstram potencial em áreas correlatas. Isso significa que as empresas podem expandir seus critérios de contratação, focando mais em habilidades transferíveis e menos em experiência direta.
Exemplo: a Unilever usa IA em seus processos de recrutamento para avaliar candidatos através de jogos cognitivos e entrevistas por vídeo, reduzindo o tempo de contratação em até 75%.
Desafio: empresas que não adotarem IA em seus processos de recrutamento podem perder competitividade na guerra por talentos, especialmente em setores altamente dinâmicos, como tecnologia.
IDENTIDADE PROFISSIONAL
A IA está redefinindo o papel dos trabalhadores do conhecimento. Profissionais altamente qualificados, como advogados, médicos e engenheiros, precisam adotar ferramentas de IA para aumentar seu valor no mercado. A IA não está substituindo esses profissionais, mas aqueles que utilizarem ferramentas como o ChatGPT, Watson (da IBM) ou plataformas de diagnóstico médico, poderão oferecer um serviço mais eficiente e preciso.
Exemplo: Na advocacia, IA como o ROSS (uma ferramenta de pesquisa jurídica) ajuda advogados a encontrar precedentes legais rapidamente, economizando horas de trabalho manual e permitindo que se concentrem em estratégias mais complexas.
Desafio: Profissionais que resistirem à adoção da IA podem ver sua relevância no mercado de trabalho diminuir, enquanto aqueles que abraçam essas ferramentas poderão transformar sua identidade profissional, tornando-se híbridos entre especialistas e tecnólogos.
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA FORÇA DE TRABALHO
O futuro dos empregos será menos previsível e mais flexível, graças à IA. Profissionais generalistas terão um escopo de atuação mais amplo, enquanto especialistas terão que focar em tarefas de alta complexidade que a IA ainda não consegue automatizar. Empresas como Amazon já utilizam IA para planejar sua força de trabalho, prevendo picos de demanda e ajustando rapidamente suas operações.
Exemplo: em logística, a Amazon utiliza algoritmos para otimizar o número de funcionários em seus centros de distribuição, prevendo quais produtos terão mais demanda e alocando equipes de acordo.
Desafio: empresas que não utilizarem IA em seu planejamento estratégico ficarão para trás, à medida que os negócios baseados em dados se tornem mais ágeis e eficientes.
Para não perder o bonde da IA, as empresas e trabalhadores precisam:
- Incorporar a IA no dia a dia: Investir em ferramentas de IA que automatizem tarefas repetitivas, liberando tempo para que os colaboradores possam focar em atividades mais estratégicas.
- Promover a educação contínua: Garantir que as equipes estejam sempre aprendendo novas habilidades e se adaptando às tecnologias emergentes.
- Reestruturar equipes de trabalho: Criar times híbridos que combinem especialistas em IA com generalistas capazes de orquestrar processos mais amplos.
A transformação gerada pela IA já está em curso e as organizações que conseguirem equilibrar inovação tecnológica com habilidades humanas estarão à frente da curva.
O futuro do trabalho não será mais sobre fazer mais com menos, mas sim sobre fazer melhor com o apoio de tecnologias inteligentes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Brynjolfsson, E., & McAfee, A. (2014). The Second Machine Age: Work, Progress, and Prosperity in a Time of Brilliant Technologies. W.W. Norton & Company. Este livro oferece uma visão profunda sobre como a IA e a automação estão moldando o futuro do trabalho, abordando os impactos na produtividade, desigualdade e mudanças no mercado.
- Davenport, T. H., & Kirby, J. (2016). Only Humans Need Apply: Winners and Losers in the Age of Smart Machines. Harper Business. Discute como a IA transformará o mercado de trabalho e como os trabalhadores podem se adaptar para prosperar em um ambiente dominado por máquinas inteligentes.
- West, D. M. (2018). The Future of Work: Robots, AI, and Automation. Brookings Institution Press. Explora o impacto da IA e da automação em empregos, produtividade e o futuro da economia, além de sugerir políticas públicas para mitigar os efeitos adversos.
- Chui, M., Manyika, J., & Miremadi, M. (2016). Where Machines Could Replace Humans—And Where They Can’t (Yet). McKinsey Quarterly. Este artigo explora quais áreas da economia já estão sendo impactadas pela IA e onde ainda existem limitações.
- Schwab, K. (2016). The Fourth Industrial Revolution. Crown Business. Aborda as transformações tecnológicas, incluindo IA, e como elas estão remodelando setores inteiros e mudando a maneira como as pessoas trabalham e vivem.
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