Janeiro marca o início de um novo ciclo de gestão municipal para 295 prefeitos que enfrentarão inúmeras demandas. O sucesso diante desses desafios é crucial para o futuro do nosso estado. Mais do que nunca, Santa Catarina precisa de cidades inteligentes. / Foto: Divulgação
[20.12.2024]
Por Jean Vogel, presidente da Câmara de Smart Cities da FIESC
Para novos ou reeleitos gestores, inúmeros desafios os aguardam pelos próximos 4 anos. Áreas como saúde, segurança, educação e infraestrutura lideram as prioridades. No entanto, além de resolver problemas imediatos, é essencial adotar uma visão de longo prazo.
Santa Catarina é reconhecida por sua capacidade empreendedora. Apesar de ocupar apenas 1% do território nacional e concentrar 3% da população brasileira (à volta de 8 milhões de habitantes), o estado é o sexto maior contribuinte para o PIB do país. Minas Gerais, o terceiro no ranking, possui 7% do território e cerca de 21 milhões de habitantes. Ainda assim, o PIB mineiro não é o dobro do catarinense, ilustrando o potencial competitivo de Santa Catarina.
Somos um estado produtor e com matriz econômica diversificada, mas grande parte do nosso PIB vem das atividades industriais, do agro, serviços e turismo, setores que exigem volume e qualificada mão de obra.
O DESAFIO DA REFORMA TRIBUTÁRIA PARA OS MUNICÍPIOS
A Emenda Constitucional 132, que altera a dinâmica de recolhimento de impostos, trará impacto significativo. Com a tributação passando da origem (onde os produtos são fabricados) para o destino (onde são consumidos), muitos municípios catarinenses, especialmente pequenos, podem perder receitas essenciais.
Diversos pequenos municípios abrigam indústrias que ancoram seus PIBs (mais da metade dos municípios do estado possuem menos de 10 mil habitantes). Mas se grande parte dos impostos que hoje são tributados ali forem deslocados para os centros de consumo, como fica a economia do município?
Além disso, é crucial atrair e capacitar pessoas. O crescimento econômico depende diretamente de talentos qualificados. É nesse contexto que as cidades inteligentes se tornam essenciais.
SMART CITY: PLATAFORMA TAMBÉM PARA ATRAÇÃO DE TALENTOS
Uma Cidade Inteligente não é apenas um território com oferta de 5G, semáforos conectados, praças com wifi, câmeras de monitoramento e tablet para os alunos. Existem alguns conceitos sobre o que é uma Smart City, mas na minha opinião:
“Uma Smart City é um território que se desenvolve de forma planejada, proporcionando um ambiente eficiente, que utiliza tecnologias combinadas e impulsionadas por políticas públicas para se constituir em uma plataforma para promoção do sucesso de pessoas e negócios.”
“As cidades são – acima de tudo – mercados de trabalho”. Assim, Alain Bertaud, inicia o segundo capítulo de seu livro “Ordem sem design, como os mercados moldam as cidades”, que recebi do amigo José Fiates, diretor de Inovação & Competitividade da FIESC, durante conversa que inspirou este artigo.
É com esta visão que cidades no mundo têm atraído talentos, pois a economia digital e o trabalho a distância permitiu fixarmos residência em cidades que oferecem as melhores condições para viver – e não apenas trabalhar! Ou seja, buscamos morar na melhor cidade possível, e isso passa em muito pela aplicação dos conceitos de Smart Cities: planejamento urbano, segurança, educação, cultura e lazer etc.
Quando falamos em pessoas e negócios, temos um cenário extremamente preocupante: Segundo o World Talent Ranking Scoring, que avalia o desenvolvimento, retenção e atração de talentos altamente qualificados, o Brasil ocupa a PENÚLTIMA posição (66o entre 67 países), à frente apenas da Mongólia. Ou seja, até mesmo no cenário das Américas somos o último, atrás da Venezuela (!).
DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA OFERTA DE MORADIA
Mas uma cidade inteligente também se preocupa com a infraestrutura, capacidade e qualidade da oferta de moradia. Se conseguir uma residência é caro ou difícil, é natural os talentos migrarem para outras onde a oferta é melhor.
Santa Catarina enfrenta desafios e oportunidades nesse cenário. O valor do metro quadrado cresceu rapidamente, chegando a R$ 100 mil/m² em algumas regiões. Parcerias com o setor privado podem ajudar a criar soluções habitacionais planejadas, sustentáveis e acessíveis, construindo ambientes confortáveis e atrativos para as pessoas, aplicando os conceitos do placemaking.
E SE NADA DISSO FOR FEITO?
Sem planejamento, poderemos enfrentar um “apagão de mão de obra”, com consequente queda no PIB. Indústrias e serviços demandam pessoas — seja como consumidores ou mão de obra. A solução requer ação coletiva, não apenas dos prefeitos. Assim como John F. Kennedy desafiou os Estados Unidos a irem à Lua, propondo um objetivo de nação, precisamos de uma “missão homem na lua” para transformar nossas cidades.
“We choose to go to the Moon in this decade and do the other things, not because they are easy, but because they are hard.”
POR ONDE COMEÇAR?
1. Tornar nossas cidades (plataformas) mais eficiente na promoção do sucesso das pessoas e dos negócios
Ambiente regulatório moderno, que promova o desenvolvimento sustentável, oferta de serviços públicos de qualidade e ativos ligados à cultura, esporte, lazer e ao bem-estar.
2. Infraestrutura para receber as pessoas
Desenvolvimento de produtos voltados aos talentos que desejamos atrair: Prédios, loteamentos, bairros. A iniciativa privada deve ser estimulada e apoiada para liderar esta pauta. O sul do Brasil é referência mundial em construções sustentáveis – os Green Buildings, explorar e potencializar esta característica é sem dúvida uma oportunidade para atrair pessoas e subir o padrão de qualidade do setor imobiliário. (veja mais aqui)
3. Atrair pessoas
Fortalecer a marca da cidade, torná-la desejada, um lugar onde todos queiram estar. Quando se fala em atrair talentos, o que vale para as empresas, vale para a cidade. Se existe o Great Place to Work, pode existir o Great Place to Live!
4. Capacitar pessoas
Parceria com instituições públicas e privadas para oferta de cursos rápidos e conectados com a demanda das empresas = formar os talentos que serão contratados pelas empresas já instaladas e por aquelas que serão atraídas.
5. Apoiar o empreendedor
Empreender no Brasil é muito difícil. E por isso nossos empreendedores são resilientes e hábeis em buscar alternativas. Ajudá-los não é uma tarefa complexa, basta definir de maneira clara as regras – plano diretor, ambiente de aprovação de projetos e políticas públicas consistentes e que não mudam a cada gestão.
6. Parcerias
Construir parcerias efetivas com as instituições dos mais diversos setores. Não apenas para encontrar o dinheiro necessário, mas para desenvolver a estratégia, definir objetivos e regras, além de auxiliar na execução. Uma cidade inteligente nasce da união dos atores, como em uma orquestra, cabe ao prefeito reger a banda, ditar o ritmo e trabalhar para que cada instrumento seja tocado à perfeição.
PARA SABER MAIS:
Reforma Tributária (PEC 132)
https://www.gov.br/fazenda/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/reforma-tributaria/reforma-tributaria
Ranking Mundial sobre atração, retenção e formação de talentos
altamente capacitados
https://www.imd.org/centers/wcc/world-competitivenesscenter/rankings/world-talent-ranking/
Câmara de Smart Cities da FIESC:
https://fiesc.com.br/pt-br/camaras/smart-cities
MBI em Smart Cities: A Câmara de Smart Cities da FIESC em parceria com o SENAI/SC, desenvolveu uma pós-graduação no tema, cuja segunda turma iniciará em maio de 2025.
https://cursos.sesisenai.org.br/curso/mbi-em-smart-cities/4622
Smart City Expo Barcelona e Curitiba: Os maiores eventos sobre o tema, em sua versão mundial e nacional
https://www.smartcityexpo.com/
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