Criada a partir da viagem de mochilão de um português pelo litoral brasileiro, empresa com sede em Florianópolis e criada pelo engenheiro José Almeida (centro) é hoje parceira de negócios das maiores agências digitais de viagem. / Foto: Betina Hummeres
Foi durante uma viagem de mochilão percorrendo, de ônibus, o litoral brasileiro que o engenheiro de software José Almeida, nascido em Portugal, decidiu criar um sistema que facilitasse a viajantes, como ele, encontrar informações sobre trajetos, horários e preços de passagens rodoviárias no Brasil. A “dor” do turista que foi de Florianópolis até Fortaleza, se tornou, há exatos 10 anos, um projeto pioneiro na web nacional, o BuscaOnibus, hoje o principal site de metabusca de informações rodoviárias do Brasil, que integra dados de mais de 200 viações e recebe mais de 4 milhões de visitas por mês. E agora em abril, a empresa lança uma versão em espanhol do site, com foco na crescente demanda dos viajantes do Mercosul.
Atualmente, estima-se que apenas 6% do volume de passagens rodoviárias seja vendida online, número pequeno na comparação com as viagens de avião. “Se hoje este segmento ainda não se compara, em termos de maturidade tecnológica e volume de negócios, com o aéreo, imagine como era há uma década”, lembra o fundador José Almeida, que começou o projeto de maneira despretensiosa em 2009, época em que o Orkut ainda era a principal rede social dos brasileiros e os iPhones mal tinham desembarcado no mercado nacional.
Antes de aportar em definitivo em Florianópolis, José Almeida ainda trabalhava como desenvolvedor em uma empresa de TI em Londres, enquanto criava o protótipo de seu buscador rodoviário. “No início de 2009, o marketing digital engatinhava e só os profissionais de TI sabiam – por necessidades técnicas – o que era Search Engine Optimization (SEO), metatags, keywords etc. Isso se tornaria o segredo do novo projeto: nos primeiros quatro anos, graças ao conhecimento em técnicas de indexação para buscadores, levei o site para um crescimento orgânico de 1 milhão de visitas por mês”, lembra. A partir daí, a plataforma começou a ser monetizada pela oferta de banners patrocinados e a ideia ganhou ares de empresa, com José e a mulher Gabriela, formada em Turismo, à frente dos negócios.
A demanda por informações rodoviárias cresceu demais nos últimos cinco anos, com a realização dos maiores eventos esportivos do planeta no Brasil em sequência, a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas do Rio, em 2016. Ao mesmo tempo, começaram a surgir diversas agências online (OTAs) focadas na venda de passagens pela internet – ClickBus, Guichê Virtual, BusBud, Brasil By Bus (atualmente chamada de Deônibus), entre outras. Um cenário que poderia representar tanto uma ameaça quanto uma oportunidade para o BuscaOnibus.
Ao completar 10 anos de atuação em 2019, e após ter acompanhado uma forte mudança na oferta de serviços online neste mercado, o BuscaOnibus começa a olhar além das fronteiras do Brasil, com o lançamento da versão em espanhol da plataforma. Ao longo desta temporada de verão, o volume de usuários do Mercosul cresceu 143% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
DILEMA EMPREENDEDOR: SER OU NÃO SER UMA AGÊNCIA ONLINE
“Nosso foco não era vender passagens, mas ser um portal de metasearch confiável e completo sobre passagens rodoviárias”, reforça José. Mas em um determinado momento, surgiu a possibilidade de “pivotar” o modelo de negócio para se tornar uma agência online de passagens. “Um estudo que fizemos mostrou que poderia ser um serviço rentável, mas demandaria de cara um investimento pesado em capital de giro, cerca de R$ 2 milhões, só para cobrir prazos de pagamento e recebimento pelas vendas. Isso também demandaria um investimento considerável na plataforma e a necessidade de buscar investidores. Analisamos bem os riscos e oportunidades, mas decidimos manter o foco naquilo que já fazíamos bem – ser uma fonte de referência em informações rodoviárias”, ressalta o CEO.
Acabou sendo, na visão de José, “uma das decisões mais importantes da minha vida de empreendedor”. Por não vender passagens, mas ser uma fonte para captação de clientes, o BuscaOnibus acabou sendo estratégico para os negócios das principais agências online que chegavam ao mercado. “Havia casos de empresas que vendiam quase a metade das passagens por meio de leads gerados por buscas feitas em nossa plataforma. Ao manter o foco e o modelo de negócio, deixamos de ser concorrentes para atuarmos como parceiros das agências online“, ressalta José, que pouco tempo depois passou a contar com dois novos sócios, Thiago Machado, diretor de tecnologia, e Bruno Pagliarelli, diretor de marketing. Hoje, a maior parte do faturamento – não divulgado – da empresa vem da comissão por venda de passagens feitas pelas OTAs, enquanto outra parte vem de anúncios online.
Com seis funcionários (mais os sócios) atuando na sede, localizada na Lagoa da Conceição, o BuscaOnibus se estruturou nos últimos dois anos, reforçando a equipe de desenvolvimento, marketing e comercial, e agregou serviços além do mercado rodoviário. Em 2017, fechou parceria com a britânica Skyscanner, que atua no mercado aéreo e juntos criaram uma plataforma que compara o preço de passagens de avião e ônibus em destinos com distância superior a 600 km. Outros parceiros são o Blablacar, serviço de caronas compartilhadas, e a Decolar.com, que também oferece viagens rodoviárias e integrou seus horários para pesquisa no BuscaOnibus.
“Hoje percebo de maneira clara nossa contribuição no mercado rodoviário online, que foi resolver o problema de quem viaja e precisa de informações, num país de dimensões continentais e milhares de municípios, seja de ônibus, aéreo ou carona. E nos últimos anos, com o mercado em expansão, acabamos ajudando outros negócios a atender as demandas de um consumidor cada vez mais digital”, resume José.
Reportagem: Fabrício Rodrigues, scinova@scinova.com.br
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