[Cultura Digital] Bot terapia e a psicologia digital

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[Cultura Digital] Bot terapia e a psicologia digital

Milhões de pessoas isoladas encontraram conforto conversando com um bot de Inteligência Artificial. Psiquiatras agora estudam como esta tecnologia pode levar bem-estar em tempos de pandemia.

Milhões de pessoas isoladas encontraram conforto conversando com um bot de Inteligência Artificial. Psiquiatras agora estudam como esta tecnologia pode levar bem-estar em tempos de pandemia.


[27.02.2021]

Por Alexandre Adoglio, CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve semanalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova 

Pesquisas recentes mostram que o isolamento social causado pela COVID-19 está tornando as pessoas menos empáticas, promovendo uma solidão crônica que só é minimizada pela interação on-line. Porém, percebe-se que o digital não está sendo suficiente, pois nas duas pontas desta comunicação, via redes sociais, chats e afins, estão duas pessoas com o mesmo problema: falta de convivência com outros.

Abre-se, portanto, mais um caminho para a Inteligência Artificial.

Milhões de pessoas isoladas encontraram conforto conversando com um bot de Inteligência Artificial. Os bots terapêuticos melhoraram a saúde mental dos usuários por décadas e agora os psiquiatras estão estudando como esses companheiros de IA podem melhorar o bem-estar mental durante a pandemia e depois dela. 

Oportunidade acelerada pelo USC Institute for Creative Technologies como parte de um projeto chamado SimSensei, financiado pela agência governamental norte-americana DARPA. Ellie é uma terapeuta de inteligência artificial que foi muito utilizada para ajudar soldados americanos que sofrem de Síndrome de Estresse Pós-Traumático (PTSD) com resultados impressionantes até o momento.

Este psicoterapeuta de inteligência artificial (IA) é projetado para monitorar microexpressões, responder a sinais faciais, realizar gestos simpáticos e construir relacionamento com os pacientes. Surpreendentemente, a pesquisa descobriu que “ela” pode ler as pistas físicas subconscientes muito melhor do que muitos psicólogos altamente treinados.

Com o aumento dos casos de depressão, a ferramenta já está disponibilizada por alguns setores da saúde no país, inclusive tendo uma versão comercial, o Woebot, já em uso por pessoas que precisam de suporte neste momento mas não possuem recursos ou mobilidade suficiente para tê-lo.

TELEMEDICINA E ALÉM

O primeiro chatbot desenvolvido foi modelado como apoio a profissionais de saúde mental. Em 1966, o cientista da computação Joseph Weizenbaum criou o ELIZA, que ele programou para soar como um psicoterapeuta rogeriano, em uma abordagem que encorajava os médicos a fazerem perguntas abertas, muitas vezes refletindo as frases dos pacientes de volta a eles. Weizenbaum não esperava que sua IA semelhante a um psicoterapeuta pudesse ter qualquer benefício terapêutico para os usuários. Treinar ELIZA para traduzir os comentários dos usuários em perguntas foi apenas um modelo prático, senão irônico, para o diálogo da IA.

Mas não é só como um meio de trabalho ao terapeuta que a tecnologia está nos apoiando neste momento desafiador. Iniciativas digitais também estão operando saúde mental em uma diversidade de elementos, desde lives com profissionais da saúde, até encontros como o Parents Brasil, uma iniciativa de pais e mães de Florianópolis que promove encontros on-line periódicos para ouvir, partilhar, conectar e sentir.

Na mesma linha online, mas com um foco em ansiedade social, a startup AI Therapy quer levar o paciente a superar traumas em um programa de tratamento online abrangente e totalmente automatizado, baseado em anos de pesquisa e experiência clínica. É guiado por uma série de lições destinadas ajudar no controle eficaz da ansiedade, onde todas as páginas incluem arquivos de som pré-gravados de terapeutas que explicam os conceitos-chave.

O programa cria uma experiência digital personalizada para o paciente  com base nos sintomas relatados no início, incluíndo exercícios projetados para direcionar os principais aspectos do perfil individual de cada um.

E como já vimos aqui na coluna, a telemedicina vem num crescendo ampliando as possibilidades de atendimento e promovendo muitas formas de apoio a sociedade, como a Experiência de Escuta, serviço de acolhimento virtual gratuito que contou com cerca de 50 profissionais voluntários das áreas da psicologia e da psicanálise que realizaram mais de 3 500 acolhimentos em vídeos nos 6 meses iniciais da pandemia.

OBESIDADE DIGITAL

Observando com preocupação os efeitos do distanciamento social nos indivíduos, em especial no impacto da cadeia produtiva, empresários e acadêmicos passaram a investir em estudos e análises para investigar novas formas de apoio. O estudo Obesidade Digital, realizado por um grupo de pesquisadoras do Paraná, identificou que o nível de ansiedade por estar conectado aumentou mais de 400% durante a pandemia e que, embora o uso de tecnologia esteja mais intenso, com metade dos entrevistados relatando sentimentos negativos, as pessoas não querem voltar a usá-la como antes. 

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Esta pesquisa também dá indícios de que os respondentes podem não estar percebendo a dependência digital na sua rotina, mas que ela pode estar em curso. Estudos acerca da dependência digital datam da década de 1990, porém são significativos nos dias atuais. Ainda assim, pouco se compreende sobre as razões pelas quais as pessoas desenvolvem e se tornam dependentes digitalmente. 

Apesar dessas limitações, as tecnologias digitais via chatbots, IAs e afins, fornecem plataformas necessárias para comunicação aberta e auto expressão, com aplicativos de terapia como Replika, Tess e Woebot arrecadando milhões em fundos de investimento e downloads de usuários. Atualmente as pessoas têm mais opções do que nunca para processar suas emoções durante a consulta online de terapia ou mesmo fazer um amigo digital durante a pandemia. 

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