Após um crescimento consistente nos últimos anos, iniciativas para desenvolvimento de TI e inovação no estado começam a ser referência para outros mercados no país. Próximo passo é inauguração de um “show room” de tecnologias locais. / Foto: Divulgação ACATE
[28.06.2021]
Por Redação SC Inova, scinova@scinova.com.br
Em meados da década de 1980, enquanto o mercado brasileiro de informática era regulado por uma política nacional que privilegiava a produção interna de softwares e hardwares frente à concorrência internacional, o setor de tecnologia dava seus primeiros passos em Santa Catarina.
O primeiro registro de acesso público do Ministério do Trabalho mostrou que, em 1985, existiam pouco mais de 1,5 mil especialistas de tecnologia no estado, atuando majoritariamente como analistas de sistemas, programadores e operadores de computador. No ano seguinte, um grupo de 11 empresas do setor em Florianópolis se reuniu para criar a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e lançar as bases para um movimento que dominaria a economia local três décadas depois.
Em 2019, por exemplo, Santa Catarina apresentou o maior crescimento nacional de empresas de tecnologia: com uma expansão de 7,7% naquele ano, o estado somou um total de 12.138 negócios de TI, quase o dobro de CNPJs no segmento que haviam cinco anos antes, em 2014. Os dados, do estudo ACATE Tech Report 2020, mostram que essas empresas geraram 56,1 mil empregos diretos no estado e faturaram R$ 17,7 bilhões naquele ano.
Com este crescimento, Santa Catarina ultrapassou os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro em faturamento, se consolidando como a quarta maior economia de tecnologia do país.
Neste intervalo de 35 anos, o mercado de TI em Santa Catarina atingiu um outro patamar, impulsionado pelo sucesso de empreendedores locais, pela formação de redes de apoio (incubadoras, aceleradoras), pela formação de talentos nas universidades locais, pelo suporte de serviços especializados para a área de TI, e pela participação de investidores-anjo e fundos de venture capital, que formam a base do ecossistema de inovação local.
O crescimento dessa “indústria silenciosa” impressionou muitos empreendedores que vieram de outros estados e países – e que hoje fazem parte deste case de expansão.
“Quando eu cheguei em Florianópolis, há 13 anos, não dava para ter a real noção do potencial da TI local, apesar de já ter algumas grandes empresas na cidade. Quando começaram a falar que o PIB de tecnologia estava se equiparando e até superando o do turismo, é que caiu a ficha. Era preciso juntar forças e criar algo conjunto, maior do que cada empresa ou setor. E foi a razão desse crescimento que vemos hoje”, comenta Arthur Nunes, empreendedor paulista que veio para a capital catarinense desenvolver projetos ligados a economia criativa, educação e tecnologia. Em 2017, tornou-se diretor da Vertical Games (depois rebatizada como Vertical Economia Criativa) da ACATE e, desde o ano passado, é vice-presidente de Ecossistema da entidade.
Há outros fatores que ajudaram a explicar a “decolagem” de empresas de tecnologia e startups no estado, diz Arthur. A “materialização” de um Centro de Inovação, com a inauguração do CIA ACATE Primavera, em 2015, é uma importante âncora desse processo. “Foi uma virada de chave marcante. Quando ficou palpável para o público de tecnologia e fora dele que havia um ambiente de inovação pujante na cidade, o setor ganhou relevância e ainda mais credibilidade. O espaço físico fala muito e isso foi um passo importante para o desenvolvimento”, ressalta o vice-presidente.
O modelo dos Centros de Inovação se tornou um caminho para o desenvolvimento dos polos regionais da ACATE no estado – um exemplo é o Deatec, polo da entidade no Oeste e que inaugurou em novembro passado um espaço privado nos mesmos moldes para apoiar as associadas e o mercado de inovação local.
“Hoje o espaço está praticamente lotado. As empresas que vieram para o Centro de Inovação também cresceram e foram ocupando as salas. Por isso, estamos projetando um segundo prédio para lançamento em breve”, comenta o presidente do Deatec Darlan Segalin, que também é CEO das empresas de tecnologia Optidata e Amplimed.
“A interatividade entre as empresas é muito boa, compartilhamos conhecimento, networking, e isso gera uma sinergia e motivação para quem circula e frequenta o Centro.
Além disso, estamos muito bem localizados, na região central da cidade, o que dá visibilidade e valoriza as empresas de tecnologia da região – as pessoas percebem que o setor está crescendo”, avalia.
A MATERIALIZAÇÃO DO ECOSSISTEMA E UM “SHOW ROOM” DA TECNOLOGIA LOCAL
O próximo passo da ACATE é “acoplar” à sua sede em Florianópolis um “show room” de tecnologias desenvolvidas pelas empresas associadas, projeto que deve ser inaugurado nos próximos meses.
“Vamos colocar à prova de visitantes e dos moradores da cidade o que temos de mais inovador. Será como um cartão de visitas, um pit stop obrigatório quando se fala em tecnologia e em Florianópolis. Quem passar por essa experiência terá uma outra percepção sobre o nosso ecossistema”, explica Arthur. “Este espaço terá um papel muito importante no pós-pandemia. Queremos também fomentar a participação de jovens, de pessoas em situação de vulnerabilidade social, para entrar no mercado de tecnologia”.
Para o diretor executivo da ACATE, Gabriel Sant’Ana, o local deve se tornar um ponto turístico obrigatório para quem visita Florianópolis. “Além de praias e restaurantes, os Centros de Inovação começam a fazer parte da rotina dos visitantes, unindo as duas grandes economias da região. Ali, podem ser vistas tecnologias desenvolvidas aqui no estado e que estão ganhando o Brasil e o mundo. É um espaço para experimentar um pouco do que é o setor de TI catarinense”.
Além do “show room de tecnologia”, o espaço onde está localizado o CIA ACATE Primavera ganhou nos últimos meses um novo prédio, construído pela Pedra Branca Empreendimentos sob o conceito do Novo Urbanismo. No local, empresas de tecnologia e de serviços especializados complementam o mix do ecossistema de inovação.
É o caso da Teltec Solutions, empresa manezinha com 30 anos de mercado e que atua com soluções de conectividade e cloud. Em junho, inaugurou um espaço de 220 m2 que será destinado tanto à área comercial e de novos negócios, quanto a projetos de inovação, com uma área dedicada à demonstração de tecnologias colaborativas.
“Antes da pandemia, era comum em nosso setor o turismo de visita a grandes empresas de outros países. No novo contexto, em que é mais difícil viajar para fora, queremos trazer clientes e parceiros para beber da nossa fonte. Há uma demanda reprimida e queremos potencializar experiências e negócios neste novo espaço”, comenta Diego Ramos, CEO da Teltec e vice-presidente de Relacionamento da ACATE.
A empresa, que tem mais de 800 clientes e 150 colaboradores, representa bem essa evolução do mercado de tecnologia em Florianópolis: começou nos anos 1990 atendendo o setor de telefonia, depois privatizado, evoluiu para projetos de tecnologia e hoje é uma referência em soluções de cloud. Com o boom das startups, nos últimos anos, se tornou mantenedora do LinkLab, programa de inovação aberta da ACATE, e inaugurou o NexusLab, a porta de conexão com novos empreendedores.
“Isso ajudou a mudar a mentalidade de toda a corporação. Hoje atraímos talentos em função de nosso posicionamento de inovação e do crescimento em um ecossistema forte”, resume Diego.
Esta proposta de open innovation tem auxiliado a transformação digital de grandes e tradicionais negócios em diferentes setores econômicos em Santa Catarina. Nas três unidades do LinkLab – em Florianópolis, São José e Joinville – cerca de 30 corporates representando indústria, varejo e setor de serviços apresentam seus “desafios de mercado” a startups selecionadas em conjunto com a ACATE.
PROGRAMAS DE SUCESSO EM SC PARA EXPORTAÇÃO
Algumas das iniciativas da entidade que deram certo no ambiente de inovação em Santa Catarina começam a ganhar corpo em outras regiões do país. Um exemplo recente é um projeto desenvolvido pelo Sebrae do Ceará com apoio da ACATE: a ideia é fomentar a economia local por meio do ambiente de inovação, além da construção de um Centro de Inovação e também de um mapeamento do ecossistema local. Durante os próximos dois anos, a expertise catarinense será uma das referências para o projeto cearense.
“Acreditamos na transformação que um centro de inovação traz para uma matriz econômica. Com um projeto estruturado, os empreendedores conseguem encarar o futuro com mais resiliência, materializando as ferramentas e os projetos no dia a dia da economia local”, resumiu à época o presidente do Conselho Deliberativo da ACATE, Daniel Leipnitz.
Em 2019, a CTG Brasil – segunda maior geradora privada do setor elétrico brasileiro – anunciou uma parceria com a ACATE para criar o Digital Innovation Lab, iniciativa para fomentar a inovação e a transformação digital dos negócios da geradora. Criada em 2013, a CTG Brasil é uma empresa da China Three Gorges Corporation, líder global em energia limpa e responsável pela construção da maior hidrelétrica do mundo – a Três Gargantas, que atravessa o rio Yang Tsé.
Na visão de José Renato Domingues, vice-presidente Corporativo da CTG Brasil, escolher uma entidade associativa como braço de inovação se explica pela crença de que “soluções inovadoras exigem diversidade e experiências diferentes. Ter acesso a um ecossistema de inovação gera um potencial mais horizontal, que tende a trazer soluções melhores”, explicou o vice-presidente Corporativo da CTG Brasil, José Renato Domingues, sobre porque escolheu uma entidade associativa como parceira de inovação.
Segundo o diretor de Inovação da ACATE, Silvio Kotujansky, essa aproximação “mudou drasticamente o dia a dia da empresa, pois o fato de estarem conectados a um ecossistema pulsante gerou mais facilidade na busca por soluções e a conexão com startups. Não é preciso contratar uma única empresa nem comprar no varejo sistemas específicos, o que dá maior agilidade e segurança nos resultados”.
“Além disso”, reforça, “há um fator muito importante que é a mudança de cultura. Quando você faz cocriações, planejamentos ligados à inovação, começa a abrir uma nova frente de comportamento e metodologia que a empresa não tinha. Para nós é muito importante desenvolver o ecossistema em conjunto com as demandas do mercado. Só no LinkLab temos 30 grandes empresas com desafios que nossas startups estão apoiando. Estamos confiando que esse modelo vai crescer cada vez mais”.
Para os próximos anos, o desafio segundo o presidente da ACATE, Iomani Engelmann, é “termos um estado todo de inovação, não apenas algumas regiões. Essa conexão é essencial para que novos projetos saiam do papel e para que novos atores estejam presentes e atuando em Santa Catarina”.
Além da criação de um fundo de investimento local “para que as empresas de tecnologia cresçam”, o presidente comenta a estratégia de fortalecimento da matriz de formação de mão de obra, “porque é uma demanda que já é grande e deve continuar avançando. Com a formação de profissionais, abrimos um leque de oportunidades e podemos abastecer as empresas existentes no estado com mão de obra qualificada. Santa Catarina tem potencial para ser exemplo para o país e muitas regiões no mundo no processo de interiorização tecnológica“.
PRINCIPAIS MARCOS DO DESENVOLVIMENTO DA ACATE:
1986: |
– 11 empresas de tecnologia se reuniram para representar o setor. |
1998: |
– Criação da incubadora MIDI Tecnológico, em parceria com o Sebrae/SC |
2006: |
– Programa Juro Zero/FINEP: financiamentos para micro e pequenas empresas inovadoras catarinenses para inovação de processos, produtos e serviços |
2009: |
– Criação das Verticais de Negócios, que promovem a sinergia entre empresários do mesmo setor, criando um ambiente de colaboração e geração de negócios. |
2015: |
– Inauguração do Centro de Inovação ACATE Primavera, em Florianópolis. |
2016: |
– Ampliação da atuação da Rede de Investidores Anjo (RIA) para os polos regionais. |
2017: |
– Criação do Linklab, programa pioneiro que aproxima médias e grandes empresas e startups, para aceleração de processos de inovação e oportunidade de mercado a novos negócios; – Lançamento do Programa ACATE Startups, com benefícios aos empreendedores. |
2018: |
– Criação dos grupos temáticos: Internacionalização, Mulheres Acate; Investimentos – Premiação da incubadora MIDITEC entre as 5 melhores do mundo |
2019: |
– Nova premiação da incubadora MIDITEC como uma das 5 melhores do mundo; – ACATE ultrapassa marca de 1000 associados; |
2020: |
– Formalização dos polos regionais da ACATE em Santa Catarina: aproximação que gerou crescimento de 90% no volume de associados nos polos parceiros; – Durante a pandemia, foi lançado o Plano de Ação ACATE Covid-19, que impactou 16 mil pessoas; e o Fundo Garantidor, que forneceu cartas de crédito a associados, liberando R$ 3,9 milhões em linhas de crédito para 32 empresas |
2021: |
– 35 anos da entidade, com inauguração de “show room” da tecnologia local, e formatura do primeiro grupo do programa DEVinHouse, voltado a formação de talentos em tecnologia, em parceria com Senai/SC e empresas do setor. – Lançamento de Campanha Estadual de Arrecadação para o enfrentamento da Covid-19 em todas as regiões-polo de SC, liderados por iniciativa da ACATE; – Lançamento do Fundo Invisto com ACATE; |
SIGA NOSSAS REDES