O protocolo de domínios da World Wide Web surgiu para facilitar o compartilhamento de pesquisas científicas, mas gerou batalhas milionárias nas últimas décadas. Inclusive na política, como provaram recentemente Donald Trump e Joe Biden.
[23.10.2020]
Por Alexandre Adoglio*
No final de 1999, após uma intensa briga na justiça, a Rede Globo de Televisão ganhou o direito de recuperar o uso dos domínios www.jornalnacional.com.br e www.globoesporte.com.br em um dos primeiros casos em que uma empresa proprietária de uma determinada marca precisou lutar judicialmente para recuperá-la na presença digital.
Criado no início da década de 90 pelos pesquisadores Tim Berners-Lee e Robert Caillau o padrão www (World Wide Web) é fruto de uma rede fechada chamada Arpanet, criada para auxiliar os militares norte-americanos na troca de informações entre si e o governo. Com o avanço da tecnologia demais países se interessaram em compor esta rede, surgindo a necessidade de se estabelecer um padrão único de protocolo para todo o mundo.
Quando foi concebida, a ideia da World Wide Web era de apenas ser um sistema que fosse capaz de tornar mais fácil o compartilhamento de documentos de pesquisas com integrantes da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), situada na Suíça. Como este padrão criado não pertencia a nenhuma empresa privada, o CERN anunciou em 1993 que a www seria livre e acessível a todos e sem custo, tendo as universidades como primeiros usuários de pesquisa transformando a internet no que é hoje.
Assim, com a capilaridade que tecnologia online conquistou, registrar domínios pelo mundo virou um grande negócio, desde o tempo em que a internet era mato. Nesta época a responsabilidade pelos registros no Brasil era da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que não possuía expertise nem pessoas para dar conta do boom da primeira grande bolha tech (lembra, tio?).
Muitos se aproveitaram do momento para realizarem “investimentos” na compra de domínios, desde riodejaneiro.com.br, passando por ayrtonsenna.com.br até o bafo de sete anos que a Amazon enfrentou contra os países da América Latina para poder registrar seu domínio por aqui, estabelecendo os primeiros rumos jurídicos da internet pelo mundo.
Vale lembrar que aqui na coluna já falamos sobre a importância das patentes, porém em nosso país o registro de marca não mais garante o domínio da internet, e vice versa.
TRINTA ANOS DE PONTOBÊERRE
Para acalmar essa zona (DNS) toda, surge logo no início das pesquisas acadêmicas a IANA (Internet Assigned Numbers Authority) entidade responsável por delegar os domínios mundo afora. A criação do domínio .br ocorreu alguns anos após a geração do primeiros domínios de topo (Top Level Domains – TLDs) como “.com”, “.net” e “.org”, dentre outros. Esse sistema de nomes de domínios (Domain Name System – DNS) foi criado para facilitar o uso da internet, já que, antes dele, eram usados somente números.
Operado desde 2005 pelo NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR), que é referência mundial de qualidade, o domínio brazuca é considerado um dos mais bem-sucedidos do mundo, pois muitos agentes de inovação na época foram reais early adopters da nova tecnologia, estabelecendo o Brasil como o 3º país com mais máquinas conectadas a domínios, perdendo somente para Japão e Alemanha. Hoje são 4 milhões de domínios .br registrados e 92% das empresas que tem site usam esta extensão na sua URL.
TRUMP PERDE O CONTROLE E O DOMÍNIO.
Fundamental como estratégia de campanha eleitoral nos últimos anos, a internet tem sido palco de disputas acirradas, tanto no ringue das redes sociais como nas demais ferramentas de presença online, levando a um novo patamar as possibilidades que gestores de comunicação dos candidatos podem realizar.
No último round a equipe do candidato Joe Biden registrou o domínio keepamericagreat.com , que nada mais é do que a temática e slogan do rival Donald Trump, continuidade da sua campanha de 2014 no tema “Make America Great Again”. Não só registraram o domínio para si, como subiram como conteúdo as principais promessas não cumpridas de Trump ao longo do seu mandato nestes últimos anos; Política Internacional, Economia, e Saúde, tudo lá para os eleitores se deliciarem durante a decisão.
Os EUA foram os verdadeiros geradores dos protocolos que usamos hoje, porém a legislação se mostra apática em alguns casos, como quando vítimas de ataques terroristas conseguiram na justiça liminares para obterem domínios referentes a países com proximidade ao eixo do terror, como “.ir” [Iran]; “.sy” [Syria]; “.kp” [North Korea], com intuito de obterem ressarcimento pelos danos causados em atentados supostamente oriundos destes países. Em um longo processo a autoridade responsável por estes registros D.C. Circuit conseguiu recusar alegando possível perturbação da estabilidade e acessibilidade da internet no mundo.
DO MAIS CARO AO MAIS VELHO
Em termos de valorização de ativo digital, o recorde com certeza fica com o domínio cars.com, vendido por US$ 827 milhões em 2017, conforme consta no documento oficial de venda, primeiro parágrafo da página 80 aqui. Se este domínio fosse registrado hoje, pelos atuais US$ 15,00 nos principais intermediários que existem, a valorização ficaria muito maior do que qualquer pico de criptomoedas. E a lista tem mais: voice.com (US$ 30M), dnjournal.com (US$ 3.5M), insurance.com (US$ 35,6M) e, para apimentar a lista, www.sex.com por US$ 14M.
Já na lista dos domínios mais antigos registrados, temos symbolics.com, de 1985, e xerox.com, de 1986, sendo que aqueles domínios (TLDs) mais estratégicos como .org, .edu, net, .arpa, estão em posse da DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency), a agência de pesquisa e desenvolvimento do Departamento de Defesa dos Estados Unidos responsável pelo desenvolvimento de tecnologias emergentes para uso militar.
Entendeu, né?
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BORA REGISTRAR
E para você atento a oportunidades temos os novos domínios brazucas, recém disponibilizados pelo NIC.br, tais como app.br para aplicativos, dev.br para desenvolvedores, o interessante des.br voltado para designers e um tal det.br para a persona detetives e investigadores particulares. Se tem interesse é só correr pra cá.
PS: Com tanta oportunidade por aí, é bom ficar atento quando uma certa empresa do Vale do Silício registra domínios como apple.auto e apple.car, conferidos por este Who.is.
* ALEXANDRE ADOGLIO é CMO na Sonica e empreendedor digital.
Escreve semanalmente sobre Cultura Digital para o SC Inova.
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