Centro Tecnológico da UFSC terá fundo de endownment para apoiar formação e projetos de estudantes

Voce está em :Home-Negócios-Centro Tecnológico da UFSC terá fundo de endownment para apoiar formação e projetos de estudantes

Centro Tecnológico da UFSC terá fundo de endownment para apoiar formação e projetos de estudantes

Por meio de doações de pessoas físicas e jurídicas, Fundo Catarina pretende criar conexão entre formação de talentos e novos empreendedores ao ecossistema de tecnologia catarinense.


[FLORIANÓPOLIS, 18.12.2020]
Fabrício Umpierres, editor – scinova@scinova.com.br

A Universidade Federal de Santa Catarina tem um papel determinante na formação e no desenvolvimento do polo de tecnologia do estado. De seu quadro de egressos nas últimas décadas saíram alguns dos fundadores das principais empresas e startups do ecossistema local – especialmente dos cursos de exatas do Centro Tecnológico (CTC), como Ciências da Computação e as diversas Engenharias.

Mas quem circula hoje pelos corredores da instituição nota um cenário preocupante com relação ao futuro: além de uma gestão orçamentária cada vez mais apertada (88% dos recursos da UFSC vão para pagamento de custeio), que engessa investimentos em infraestrutura e projetos, parece não haver conexão alguma entre o ambiente formador de talentos e de empreendedores e o promissor mercado de inovação e tecnologia que existe ao redor da Universidade Federal.

Em países como os Estados Unidos, a conexão entre academia e mercado é um dos principais propulsores do setor de TI – e uma das receitas clássicas é a criação de fundos de endownment (doações), formados por recursos de pessoas físicas ou jurídicas cujo rendimento é aplicado em projetos das universidades e no apoio ao desenvolvimento de alunos (bolsas, mentorias, capacitação etc). Somente os três maiores fundos deste perfil nos EUA (Harvard, Universidade do Texas e Yale) somam US$ 100 bilhões em recursos.

Neste 2020, o movimento de um grupo de voluntários está criando o Fundo Catarina, um endownment para o Centro Tecnológico da UFSC. Ainda modesto em termos de recursos – até o momento foram levantados R$ 2 milhões em doações – a perspectiva é que este total dobre no próximo ano e possa chegar a R$ 20 milhões no decorrer da década.

O sentimento que nos move é o de insatisfação. O CTC e a Universidade podem ser muito mais”, destaca João Vitor Lachi Alves, graduando da Engenharia Mecânica e um dos 16 voluntários do projeto, que começou a tomar forma em 2018. 

O benchmarking no Brasil para o Fundo Catarina foi o Amigos da Poli, iniciativa da USP que conta com R$ 30 milhões sob gestão, e o Fundo Centenário, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O projeto da Poli, por exemplo, atingiu a marca de 4,3 mil doadores e investiu em 112 projetos da comunidade universitária. O principal desafio agora é mobilizar recursos e estimular investidores a olhar para o “capital filantropo”.

“O mercado está se abrindo nesse sentido, embora seja um discurso recente aqui no Brasil. A pandemia acabou surtindo um efeito positivo, pois as pessoas passaram a se importar mais com doações“, ressalta João. 

O perfil de doadores para o fundo envolve grandes empresas com demanda de profissionais qualificados (egressos destes cursos do CTC) e também empreendedores que passaram pela instituição. “O foco são investidores com alto potencial de captação para acelerar o desenvolvimento do fundo”, comenta. O tíquete mínimo para participação é de R$ 100 mil a pessoas físicas e R$ 200 mil para pessoas jurídicas – futuramente a ideia é produtizar as doações com valores menores. 

“Os investimentos irão para quatro frentes”, diz João Vitor, “manter bons alunos com bolsas meritórias, produzir conhecimento e tecnologia, impulsionar um hub de empreendedorismo na universidade e estimular a vivência prática, aproximando o mercado da academia”.

Um dos primeiros a apoiar o Fundo Catarina foi Décio Silva, presidente do Conselho de Administração da WEG. Outros sócios fundadores são Luis Stuhlberger, da Verde Asset Management, o empreendedor Endeavor Eduardo Kazmierczak (cofundador da startup Darvyn), além de empresas como a EQI Investimentos e o Instituto Guga Kuerten (IGK). Além dos mantenedores, o fundo tem apoio do BTG Pactual (gestão de investimentos), Menezes Niebuhr (assessoria jurídica) e os parceiros institucionais Projeto Resgate e IGK.

Primeira iniciativa foi o Impetus, programa de desenvolvimento de carreiras que atendeu 27 estudantes a partir da oitava fase de cursos do CTC. / Foto: Divulgação UFSC

IMPETUS: PRIMEIRO PASSO PARA GERAR IMPACTO NOS ALUNOS

Uma das preocupações da equipe era criar algum tipo de iniciativa prática para causar impacto no curto prazo. O resultado foi o Impetus, programa de desenvolvimento de carreira bancado por WEG e Portobello, que beneficiou 27 alunos do CTC em fase final de curso com treinamentos de hard e soft skills, mentorias com profissionais de mercado e empreendedores (como Bruno Ghisi, cofundador e CTO da RD Station e Lucas Prim, fundador da Zygo), além de paineis com as empresas patrocinadoras. 

Um dos parceiros neste programa foi a rede de ex-alunos das Engenharias Mecânica e de Materiais, a Alumni EMC, que conta com 300 associados. “O foco foi atender estudantes que estão na fase de estágio obrigatório, pois neste perfil as principais dores dos alunos são a pouca experiência de mercado e falta de conhecimento sobre vagas e oportunidades de trabalho”. Cada participante teve um mentor à disposição, que ajudou a entender a motivação e o potencial dos alunos para sugerir caminhos de desenvolvimento profissional.

 O programa encerrou no dia 17 de dezembro e a expectativa é dar sequência em 2021. “O nível médio dos alunos foi muito bom, isso mostra o potencial que temos aqui. Nosso propósito é melhorar o ambiente de inovação e educação das Engenharias da UFSC e, por consequência, do ecossistema de tecnologia”, resume João Vitor.