Em todas as três projeções (otimista, intermediária e pessimista), o estado catarinense será o mais afetado, justamente por vir de um contexto com a menor desocupação do país, aponta estudo da startup Caravela Soluções. Imagem: Development Aid
[FLORIANÓPOLIS, 06.04.2020]
A pandemia causada pelo COVID-19 inevitavelmente resultará em diversos impactos na economia mundial. Além de impor dificuldades aos trabalhadores informais, a diminuição da receita também obriga as empresas a reduzirem o quadro de funcionários. Com isso, o número de desempregados no mercado de trabalho deve sofrer um impacto significativo nos próximos meses.
Apesar dos estados do Sul do Brasil se destacarem pelo baixo índice de desemprego em relação ao resto do país, eles também devem sofrer os impactos negativos no mercado de trabalho, os quais já estão sendo sentidos pelas empresas. Segundo pesquisa do Sebrae/SC, estima-se que 148 mil trabalhadores já perderam seus empregos.
Com o objetivo de avaliar quantos trabalhadores estão em situação de risco de perder o emprego no atual cenário e o possível aumento na taxa de desempregados, a equipe da empresa de inteligência de mercado Caravela Soluções fez um estudo separando os mais de 8,2 milhões de trabalhadores formais da Região Sul do Brasil em três grupos, de acordo com grau de risco a que estão sujeitos: alto, médio e baixo.
Os dados são da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS):
BAIXO RISCO: atividades essenciais à saúde, varejo de alimentos e serviços públicos e privados que podem exercer suas atividades via home office.
MÉDIO RISCO: indústrias e serviços que continuam operando mas tem capacidade operacional reduzida.
ALTO RISCO: atividades comerciais, industriais e serviços que estão com operações restritas pelo lockdown: construção civil, hotelaria e comércio em geral.
AUMENTO NA TAXA DE DESEMPREGO
No final de 2019, havia no Brasil 11,6 milhões de pessoas desocupadas, que representavam 11% da força de trabalho brasileira. Já na Região Sul do país, a taxa de desemprego observada é bem mais baixa (6,8%), enquanto Santa Catarina tinha o menor índice do país: 5,3%.
Numa análise semelhante, o Banco Central norte-americano (FED) publicou estimativas de até 50% de desligamentos nas ocupações de alto risco. Seguindo essa perspectiva, e considerando que o grupo de baixo risco não deve apresentar mudanças significativas de empregabilidade, foram definidos cenários de desligamentos para os demais casos.
No primeiro cenário, o mais otimista, foi considerada uma taxa de desligamento de 5% nas atividades classificadas como médio risco e 10% de desligamento nas atividades de alto risco. Ainda que pouco provável, esse primeiro cenário já colocaria as taxas de desocupação de cada um dos estados da região Sul acima do maior valor já encontrado para cada uma das economias da região para o trimestre. Na série histórica do indicador, o pior desempenho do trimestre ocorreu em 2017, ainda sob efeito da recessão de 2015.
Portanto, o cenário improvável e altamente otimista já posiciona o nível de desemprego acima dos registros históricos.
No caso catarinense, foi comentado acima uma pesquisa do Sebrae que projetou 180 mil desligamentos como efeito econômico imediato da pandemia. Essa projeção se aproxima de um quadro de 20% de desligamento dos funcionários de alto risco e 10% dos trabalhadores de médio risco, que corresponde ao nosso cenário intermediário no quadro acima.
A projeção deste impacto para os demais estados resulta em um volume de desligamento de cerca de 650 mil trabalhadores, um aumento de 60% do número atual de desempregados no Sul.
Nas três projeções, o estado catarinense é o mais afetado em termos de aumento da taxa de desemprego
Por último, no cenário mais pessimista, onde cerca de um terço dos trabalhadores dos setores de alto risco de desligamento efetivamente perdem seus empregos, juntamente com 15% de demissões nas atividades de médio risco, teríamos uma situação em que a taxa de desocupação praticamente dobra.
Nas três projeções, o estado catarinense é o mais afetado em termos de aumento da taxa de desemprego, justamente por estar vindo de um contexto em que apresentava a menor desocupação do Brasil. Isto também pode ser explicado por sua menor presença de cargos públicos e maior número de ocupações nas indústrias, que foram contabilizadas com médio risco de desligamentos.
O tempo de permanência das quarentenas é um fator determinante da possibilidade de ocorrência de demissões. Além disso, os desligamentos dependem significativamente das medidas de apoio que o governo deve oferecer.
Estudo desenvolvido por Carolina Custodio, Edilene Cavalcanti e Henrique Reichert, da equipe Caravela Soluções
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