As empresas que decidem ingressar no mundo dos “grandes dados” devem mapear suas competências internas, identificar os profissionais e fazer uma alfabetização de dados dessas pessoas. / Foto: Stephen Dawson (Unsplash)
[17.10.2025]
Por Ademar Paes Júnior, médico, CEO da Lifes Hub e presidente da Unimed Grande Florianópolis. Escreve sobre inovação/big data/saúde
O potencial do uso de dados como gerador de ganhos de eficiência e competitividade é indiscutível. Anos atrás, tive a oportunidade de participar de um projeto de aperfeiçoamento de práticas comerciais de uma parceira já então protagonista na produção de equipamentos médicos. O desafio era traçar um mapa de oportunidades, identificando a distribuição geográfica de potenciais compradores dos produtos e, principalmente, antecipar demandas. Em resumo simplificado: a equipe de vendas queria bater na porta dos clientes com maior potencial no momento ideal para a decisão de compra.
O desafio, um tanto complexo, exigiu uso de Big Data, Inteligência Artificial e interoperabilidade entre bases de dados de diferentes fontes, como o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), o Sistema de Informação Hospitalar (SIH) e a Comunicação de Informação Hospitalar e Ambulatorial (CIHA), entre outros.
O resultado foi a criação de um Score que levava em conta mais de 400 atributos e era capaz de qualificar mercados e identificar clientes com o perfil desejado pela parceira e com maior probabilidade de adquirir produtos e serviços. A partir daí, equipes internas do fabricante realinharam suas estratégias comerciais, focando nos alvos mais certeiros, e ampliaram as vendas em 15%.
O resultado foi bastante comemorado. Mas nada disso teria ocorrido sem a participação efetiva dos líderes da organização. Em primeiro lugar, um projeto dessa envergadura, que exige investimentos importantes de recursos, tempo e pessoas, nem nasceria sem a decisão de um C-Level. O aval da alta direção é o primeiro passo da jornada.
A partir daí, é preciso lembrar que o uso de dados será mais efetivo e assertivo se a organização tiver – ou criar – uma cultura que valorize esse conhecimento. Cresce ainda mais a importância do papel da alta gestão. Em artigo anterior (Link) tratei da necessidade de definição clara do que se pretende descobrir com o Big Data e de como a nova informação será usada. Um alinhamento que por certo depende de líderes.
Mas o papel dos C-Level vai além. Eles precisam garantir que o conhecimento seja distribuído pela organização. Os colaboradores envolvidos nos processos devem ter ferramental de conhecimento para entender a importância dos processos e, principalmente, manter a adesão às iniciativas implementadas. Precisam ser sensibilizados sobre o uso estratégico das descobertas feitas com apoio da tecnologia.
Volto ao exemplo inicial do texto. No caso, os dados indicaram os potenciais clientes que teriam maior necessidade de renovação de equipamentos. Uma informação importante, óbvio, mas que teria perdido utilidade se não fosse adequadamente usada pelos setores de marketing e comunicação, que direcionaram esforços para mercados específicos, e pela área de vendas, que definiu abordagens específicas para a situação e mudou rotas de visitação, gerando ganhos importantes de tempo das equipes.
Justamente por isso, as empresas que decidem ingressar no mundo do Big Data devem mapear suas competências internas, identificar os profissionais que terão maior participação em projetos e fazer uma alfabetização de dados dessas pessoas. Não se trata de transformar todos em cientistas, o que exigiria gastos enormes de tempo e recursos. Mas é preciso garantir que entendam a importância de registros adequados, do monitoramento constante e saibam como analisar planilhas e gráficos.
Um aprendizado que pode até assustar àqueles que não estão habituados, mas que sempre se mostra mais simples do que muitos imaginam. E o mais importante: um saber que contribui para todo o negócio e até para o crescimento profissional dos indivíduos.
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