Grupo de empreendedores e representantes de entidades como ACIF, ACATE e CDL trazem de Austin (EUA) ideias para desenvolver um evento baseado na nova economia local.
A cidade de Austin (EUA) tem sido, nas últimas décadas, um efervescente radar global de tendências em tecnologia e economia criativa graças à consolidação do South By Southwest, um evento que mescla ao longo de 10 dias conferências e feira de negócios apresentando inovações na área de TI, música, cinema e artes visuais. Em termos de negócios, estima-se que a edição 2017 do SXSW tenha movimentado US$ 320 milhões. Neste ano, mais de 400 mil pessoas passaram pela capital do Texas entre os dias 9 e 18 de março – deste total, 1,3 mil brasileiros, entre empreendedores, executivos de grandes empresas, publicitários, jornalistas, músicos, cineastas e diversos novos participantes dispostos a saber o que Austin tem de tão inovador.
Uma comitiva catarinense debutou no SXSW 2018 com um objetivo claro: conhecer de perto o evento e ver de que forma a mistura de cultura e tecnologia pode resultar em um projeto embrionário para Florianópolis, que tem se destacado recentemente como o maior polo (em termos de densidade) de startups e empresas de TI. Sem falar no potencial turístico, algo que Austin não tem, e que pode ser muito melhor explorado na capital catarinense.
“A viagem para Austin é algo que vem sendo sonhado há mais de dois anos por um grupo de pessoas e entidades da cidade. Queremos criar algo semelhante em Florianópolis porque acreditamos que aqui temos todos os elementos para construir um evento dessa magnitude, envolvendo gastronomia, tecnologia, design, artes e teatro”, resumiu Daniel Leipnitz, presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), uma das entidades que enviou representantes ao SXSW 2018. Também participaram da comitiva representantes da Associação Comercial de Industrial de Florianópolis (ACIF) e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Capital.
Além da programação do festival, o grupo visitou empresas globais que mantém operações em Austin, como Google e Dropbox. A empresária Paula Borges, do Instituto Maratona Cultural e coordenadora do Núcleo de Empreendedores Culturais da ACIF, destacou a diversidade e abertura da cidade para o evento. “Há um lema ‘mantenha Austin estranha’ que não é só um slogan, é uma metodologia que o ecossistema local permite. Vimos isso nas reuniões com Dropbox e Google, o quanto a cidade se permite experimentar, se reinventar e isso é o princípio da inovação. Cidades criativas não são aquelas que só investem em grandes tecnologias, mas sim aquelas que inovam em processos e métodos e isso vemos no dia a dia em Austin”, conta.
Na origem do evento, o desejo de “mostrar Austin” para o resto do mundo
A ideia que deu origem ao South By Southwest nasceu em 1986, a partir dos debates de profissionais de mídia e entretenimento da cidade sobre como seria o futuro da área. Ao longo de reuniões na sede do jornal alternativo The Austin Chronicle, os participantes queriam realizar um evento para mostrar que as comunidades criativas e musicais da cidade eram tão talentosas quanto a de outros locais dos Estados Unidos, mas não conseguiam romper a barreira pela falta de exposição fora da região (nota do editor: algum paralelo com a dificuldade de reconhecimento de empresas e marcas catarinenses?). Apesar do foco ser inicialmente a música, a tecnologia entrou naturalmente na programação ao longo dos anos, graças à expansão dos computadores pessoais, da internet e dos inúmeros gadgets e aplicações que surgiram a partir de então. primeiro evento, realizado em 1987, tinha 150 inscritos mas no dia da abertura vieram 700 pessoas.
Como define o diretor administrativo do SXSW Roland Swenson, na página oficial, “o evento mudou de muitas maneiras desde 1987, mas no seu núcleo, continua a ser uma ferramenta para pessoas criativas para desenvolver suas carreiras, reunindo pessoas de todo o mundo para conhecer, aprender e compartilhar idéias”. Em 1999, um estudo envolvendo 49 regiões de grande porte (acima de 1 milhão de habitantes) dos EUA colocou Austin em 4o. lugar no “Índice de Criatividade”, que media o número de trabalhadores da “classe criativa” (tecnologia, cultura e serviços ligados a estas áreas) frente a outros segmentos como indústria pesada, comércio e serviços – à frente de San Francisco, Seattle e Nova Iorque, por exemplo. Mais de um terço (36,4%) da força de trabalho na capital texana estava conectada à tal classe criativa.
“Austin cresceu muito nos últimos anos por ser aberta a todas as raças, ambiente de músicos, artistas – e é uma cidade baseada em serviços públicos, por ser uma capital, como Floripa. Esse ambiente tem sido interessante para grandes empresas, que vem migrando pra cá como Amazon, Google, Dell. A cidade não para de crescer e o preço dos alugueis chegou a triplicar nos últimos anos”, conta Joni Hoppen, cofundador da Aquarela Analytics, startup de Florianópolis que desenvolve uma plataforma de DataAnalytics e foi a Austin acompanhar as novas tendências nesta área.
Egresso da área de tecnologia, ele sugere que a capital catarinense pode unificar grandes eventos do setor para servir também como radar de tendências para determinados mercados. O RD Summit, por exemplo, reuniu no ano passado cerca de 8 mil pessoas interessadas em marketing digital. O Costão do Santinho, no norte da Ilha, é palco de eventos corporativos que reunem cerca de mil pessoas, nas áreas de big data (o Data Driven Brasil, da Neoway) e trade marketing (Agile Experience, da Involves). Neste ano, a novidade é o Startup SC Summit, focado em dezenas de cases empreendedores da área de tecnologia em Santa Catarina.
Mas, diferente de eventos de grande porte que costumam acontecer em cidades como San Francisco e Boston, o que rende à Austin uma exposição mundial durante pouco mais de uma semana é o caldeirão cultural, a “bagunça organizada” que aproxima tribos tão diferentes. “Para todos os lados que se olhe em Austin existe uma manifestação cultural. Seja ela individual de cada participante do SXSW quanto pelos milhares de artistas que têm a oportunidade de apresentar seu trabalho na programação do evento. Uma programação que une não só o artista e o público, mas todas as esferas da cadeia de negócios como bares, restaurantes e hotéis. São propostas criativas e que podem perfeitamente serem executadas em Florianópolis”, conclui Paula.
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